segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O pecado mora ao lado


Uma londrina descobriu a traição do namorado de uma forma bem inusitada. Melissa Smeaton estava fazendo faxina na casa onde estava morando com Richard Antony, quando, de repente, o aspirador parou de funcionar. Ao levar o aparelho no técnico o homem retirou de lá uma calcinha (que não pertencia a Melissa), que bloqueava o cano sugador. Furiosa, ela não teve dúvida: o amado a estava passando para trás com outra...

Fonte: G1 (Planeta Bizarro – 02/09/2102)

O casamento havia chegado a uma espécie de impasse. Tudo era meio previsível e estavam os dois acomodados à rotina. O sexo era protocolar e espaçado e só aparecia quando os dois estavam aperreados. Cremenildo nunca fora um grande amante, reconhecia, e ficava ainda mais tímido com mulheres fortes pelas quais, estranhamente, tinha atração. Quem sabe, um édipo mal resolvido. Sua mulher era a mais macha da dupla. Despachada, prática e sem muita firula. Sua feminilidade era pouco cultivada. Dizia que não tinha tempo para estas frescuras, sem contar que estas “frescuras” custavam dinheiro, coisa que estava sempre em falta.
A vantagem destes casamentos longevos, o deles passava dos dez anos, é que um conhece o outro relativamente bem. As manias, pelo menos. Brigas acontecem, mas rareiam por que um, sabendo das idiossincrasias do outro, evita ou cutuca para dar um pouco de emoção àquela modorra infernal. Cremenildo sabia que sua mulher era sestrosa e não se importava. Cada um tem seu jeito, pensava. Mas sentia falta de um pouco de sensualidade naquela mulher, no mais, era boa companheira. Às vezes, ela até o chamava de “Creme”. Aquilo era a senha. Naquela noite eles teriam diversão. Quer dizer, algo parecido a.
Mas se uma hora qualquer ela se dirigia a ele, os lábios afinavam e a sombrancelha esquerda ficasse levemente levantada, era encrenca na certa. Se colocasse as mãos na cintura, vixe! Ele que se preparasse para duas horas, no mínimo, de ladainha. Ele aprendera a desouvir. Era uma excelente forma de se defender. Desde que ela não perguntasse alguma coisa a respeito do falatório. Uma cara de bobo e a resposta errada daria razão para mais três horas de falação. Com um ou dois dias mais de queixas de que ele nunca se  importava.
Cremenildo desenvolveu lá sua forma de satisfação onde faltava ou era precário no seu relacionamento. Tinha fetiche por calcinha. Rejeitava, porém, as calçolas que eram muito comportadas e sem graça e lembravam sua mulher com aquela postura de cobrança. Nas magazines, discretamente, costumava se perder na seção feminina pra dar uma olhada nas novidades. Tocava uma ou outra calcinha, fantasiando que havia alguém ali dentro. Era tudo muito rápido, pois ficava apavorado com a ideia de alguém pegá-lo no ato. Foi tentado várias vezes a furtar uma coisinha daquelas, mas o só pensar lhe dava taquicardia. Era boa a sensação, mas faltava coragem e se contentava com adrenalina da má intenção.
Assim vivia Cremenildo até que mudou-se para o apartamento do lado uma baita de uma morena. Descobriu por acaso, o que sua mulher já sabia há dias e até fizera uma comentário qualquer não muito lisonjeiro à nova vizinha. A tentação não havia sido despertada nele até ver a vizinha. Como a forma de vê-la era achegando-se à sacada, criou estratégias de a todo momento fazer algo ali. Até fumar tentou, o que lhe custou uma quase asfixia. Nestas andanças pela sacada, descobriu a vizinha colocando as calcinhas num pequeno varal improvisado. Ela lhe deu um sorriso e, faceira, continuou colocando as calcinhas com delicadeza. Cada qual era um mimo aos olhos de Cremenildo.
Aquilo despertou nele, diria o Roberto Jeferson, seus instintos mais primitivos de masculinidade perdida e abafada numa relação morna. Aquela mulher sabia se vestir por baixo. Já não perdia uma só estendida de calcinha. Um dia, por artes do destino, o vento jogou – ou teria sido uma mensagem da vizinha? – uma calcinha na sua sacada. Era vermelha com babadinhos e transparências estratégicas. Um sonho. Colocou no bolso. Mas o medo era tanto, que sentia os olhos cravados da mulher como se ela estivesse ali em pessoa. Aquilo virou seu tesouro. Mas onde esconderia? Todos os lugares que pensava, seu cérebro, como que descontrolado, criava uma situação em que sua mulher descobria. Ele tentava combater aquilo justificando para si mesmo com as mentiras mais escalafobéticas, mas acaba vencido. A mulher descobria.
Dias se passaram, sua tensão aumentou. Todos os esconderijos possíveis ele utilizou na casa. Nunca estava seguro. A mulher começou a notar. Dormia mal, comia pouco. Mas não havia força de livrar-se de seu prêmio. Aquilo, por bem dizer, lhe devolveu a macheza, sem contar as “viagens” de fantasia que fez com a vizinha. Mas aquilo não era taição, era? Meio que se consolava. A mulher insinuou que estava doente. Ele negou. Começou a ficar desconfiada. Sugeriu que ele escondia algo. Incrível, ela o achava tão incapaz que nunca disse que ele a traía. Aquilo lhe despertou uma raiva que até pensou fazer um nem sei que diga. Não, ele não faria.
Cansado e sem ter mais um único lugar onde esconder o presentinho dos deuses que lhe deu tanta alegria, resolveu desfazer-se dele. Aspirou a calcinha e foi trabalhar. A noite, ao chegar, deparou-se com a mulher em pé no meio da sala. A sobrancelha estava levemente levantada. Os lábios estavam sem cor e finos. Uma das mãos na cintura. O pé direito batia levemente no chão. Na outra mão, como se pegasse com nojo, a calcinha vermelha de babadinhos estava pendurada. Um frio lhe correu pela espinha. Creme, disse ela, porque você fez isso comigo? Correu e atirou-se ao seu pescoço, sôfrega e mais fêmea do que nunca.