domingo, 28 de julho de 2013

A fuga e a desculpa

Quinze detentos fugiram na madrugada deste domingo (14) da Central de Custódia de Presos de Justiça de Presos (CCPJ) de Pedrinhas, em São Luís, por meio de um túnel, de aproximadamente 18 metros, cavado de dentro da cela 5 do Bloco C. A informação foi confirmada pela assessoria de comunicação da Secretaria de Estado de Justiça e Administração Penitenciária do Maranhão.

Fonte: G1 (14/07/2013)

Era preciso chamar alguém capaz e urgente. Um homem experiente, acostumado a enfrentar os piores abacaxis e tirar de letra. Criatividade ajudaria muito, pois havia coisas a serem explicadas que fugiam às regras mais comezinhas da lógica. No perfil do candidato, coragem seria item fundamental e, se possível, de fato, uma exigência, tudo isso aliado a uma tremenda cara de pau. Não uma cara de pau qualquer, que se encontra até no baixo clero da Assembleia. Teria que ser coisa do nível dos mensaleiros para cima, do Renan para adiante. Ah, a fluência verbal – sem a língua presa – seria qualidade muito bem vinda.
No Maranhão, não seria difícil encontrar homem desta estirpe. Mas havia um pequeno senão ainda. O sujeito deveria ser um tanto desconhecido das massas. Não se trataria de um Zé Ninguém, pois com tanta astúcia esperada, um Zé não se sairia bem na empreitada. A questão é que uma cara nova teria, no mínimo, o benefício da dúvida sobre a sinceridade e capacidade e ainda que não tivesse o currículo tarimbado na área em que atuaria, com um complexo de mídia à disposição, era fácil forjar a estatura da tarimba na resolução de problemas daquela natureza, pois com a frequência com que se repetia, todas as desculpas e meios haviam se esgotado.
O homem, leitores e leitoras, era meu contraparente por uma quase afinidade meio oblíqua, Aristogênio. Confesso que ainda me espanto onde ele é capaz de se meter. Mas devo dar minha mão à palmatória, homem mais finório, impossível. Ari deveria explicar duas fugas rocambolescas da Penitenciária de Segurança Máxima de Pedrinhas em menos de um mês. Na primeira, quinze presos fugiram por um túnel de 18 m. A segunda, coisa mais banal, 3 pularam o muro e se foram para lugar incerto e não sabido. De quebra, Ari falaria de planos para recaptura dos meliantes fujões e afirmaria as bobagens protocolares: 40 sindicâncias, contratação de mais agentes penitenciários, reforço do presídio, etc, etc.
No dia aprazado, Ari já devidamente debutado frente o público com pompa e circunstância, só teria que falar em cinquenta entrevistas alardeando o combinado. Senhoras e senhores, estou à sua disposição. Podem perguntar o que quiserem. Antes, devo explicar algo. Como os presos fugiram? Onde foi parar a terra que ocupava o túnel ardilosa e engenhosamente cavado pelos facínoras? Simples. Eram 15 homens robustos e muito dispostos. Trabalharam em revezamento noite após noite, quando nossos alertas servidores dormiam. Ninguém foge de dia aqui. Ok, uma ou outra vez, não vem ao caso. O fato é que num piscar de olhos cavaram 18 m. Se não houvesse um engenheiro prático entre eles, teriam chegado ao continente, tal a rapidez da escavação.
Os senhores e senhoras querem saber que fim eles deram em tanta terra, por suposto. Depois de acuradas investigações e não achando vestígio de um grão de areia sequer nos alojamentos, ajudados por técnicas sofisticadas de análise, chegou-se aos banheiros. Concluiu-se que eles comeram a terra. Percebo ligeira incredulidade. Como descobrimos? A manutenção teve que fazer reparos em quatro banheiros. Parece ficção, mas é fato verídico e comprovado. Darwin talvez explique esta evolução (sobre)humana. Mas não se preocupem, por este buraco ninguém foge mais. Além da vigilância dia e noite que montamos, aguardamos a liberação de verba para tapá-lo. A bem da lisura e honestidade, precisa-se fazer licitação para contratar empreiteira da confiança do governo, acertar comissões de todos os envolvidos... isso, como se sabe, leva tempo.
Quanto aos três pés rapados que pularam o muro, coisa sem qualquer técnica ou gênio, a sindicância aponta coisa mais banal. Eles trabalhavam na confecção de bolas. Na hora do recreio com bola, um chutão e a rechonchuda foi parar além muro. Os três se prontificaram para ir buscar a pelota, no que foram prontamente atendidos pelos oficiais de plantão. Infelizmente, a tentação da liberdade foi grande e não retornaram.  Houve quem apontasse que as guaritas estavam sem vigilância. Os pobres vigias têm necessidades fisiológicas, ou não? Uma hora, eles têm que resolver estas pendências. Imagine que até isto os pilantras dos presidiários registram e se aproveitam. Doravante, recreio será sem bola. Muito obrigado pela atenção.