Enquanto o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, entrava na sala da CPI
escoltado por mais de dez deputados correligionários para demonstrar força, um
servidor da Casa causou tumulto, correrias e criou uma cena inusitada ao abrir
uma caixa e soltar cinco pequenos roedores: dois hamsters e três esquilos da
mongólia.
Fonte: DE BRASÍLIA (Folha, 10/04/2015)
Estavam todos
compenetrados, circunspectos, austeros, conspícuos e invento, circunstanciosos,
com o grave momento em que um sujeito, tesoureiro, que tem vaca no nome, deporia
sobre traquinagens financeiras que, por hora, lhe custa – a nós, melhor dizendo
– a hospedagem em um presídio.
A cena é
teatral no sentido em que Bárbara Heliodora deplorava. Uma (es)quadrilha de
deputados entra antecipando o depoente que vem ladeado por seu defensor – não
público, mas dono de uma big banca advocatícia em São Paulo – que, ironia, tem
urso no nome. Simularam a entrada num ringue de luta livre ou algo que o valha.
Ao dito interrogado faltou o hobby com capuz típicos dos lutadores, mas a barba
veneranda lhe fazia as vezes da indumentária.
Eis que reles
servidor da Câmara, um tal Oliveira, solta meia dúzia de ratos que trataram de
se espalhar entre os pés ensapatados de suas magnificências. Foi como abrir uma
caixinha de Pandora. De alguns dos circunstantes, se ouviram gritinhos de susto
denunciadores de outras opções, mas, maldade à parte, era mero pânico dos
roedores. Não há que se polemizar com tal medinho, pois pode atacar a uns e
outros indistintamente. Pois devaneio, perdão. De qualquer forma um ambiente
que já pedia intervenção do Ibama devido a animália recém chegada, tornou-se
caso de atentado à nobre missão de suas louçanias esclarecerem as reinações de
uma vaca – que ainda não foi para o brejo – e seu partido.
Ratos, como se
sabe, são bichos extremamente adaptáveis. Perseguem a história da civilização
não exatamente como companheiros, que nem os cães, mas como ferozes
concorrentes. De tão decantada capacidade, diz-se até que, numa provável guerra
atômica, sobreviveriam ratos e baratas. Foge-me da mente a fonte de tal
informação. E a mídia, na pressa, alardeou: ratos foram soltos durante a CPI.
Eis que não eram ratos, embora roedores. Um deputado enciclopédico, taxonomista
nas horas vagas, esclareceu que se tratavam de inofensivos hamsters e esquilos
da Mongólia. Estes últimos, provavelmente, contrabandeados por súcias chinesas.
A balbúrdia
instalada: deputados de quatro à cata dos bichos, outros subiram nas poltronas,
até que foram salvos pela polícia legislativa que, apesar do nome, é composta
de brucutus de terno por bem das aparências, acostumados a enfrentar guabirus.
Enquanto uns catavam os animais, outros tratavam de argoelar o terrorista
Oliveira e o recambiaram para depoimento reservado. Sua eminência, presidente
da casa, tratou de exonerá-lo incontinenti. O terrorista, em sua defesa,
imitando a quem servia horas antes, a saber: suas subdivindades, os deputados,
apenas disse que era vítima de um equívoco.
Havia que dar
conta da barafunda, assim suas culminâncias se dividiram salomonicamente.
Enquanto uns ouviam as parolagens da vaca, outros deliberariam sobre os
roedores. E logo ouve amarga divisão entre estes últimos, pois uma banda
defendia encaminhá-los para laboratórios e a outra sugeria dá-los ou soltá-los –
não necessariamente nesta ordem.
A vaca mugiu azedumes contra
outros partidos professoralmente e com direito a data show e, à moda petista,
disse que todo mundo fazia assim, enquanto asseverava pela enésima vez que era
tudo legal, embora “legal”, no Brasil, sempre inspire suspeitas, especialmente
se um político fala. Terminou a audiência e, não fosse o atentado do desmiolado
Oliveira, teria passado em quase brancas nuvens.