terça-feira, 7 de agosto de 2018

Postagem no Purgatório

Assim estamos. E vai piorar. Vivemos uma espécie de Minority Report ao contrário. No filme, prende-se o criminoso por um ato futuro, que é rastreado por uma fusão de tecnologia e pessoas que tem uma habilidade de ver o futuro.
Já se disse que tudo, absolutamente tudo mesmo, que você fizer, disser, filmar, fotografar e postar em qualquer rede se eterniza. Movimentos pelo esquecimento total tem acontecido, em especial na Europa – eu duvido mesmo que a pessoa seja deletada de verdade da base de dados, apenas não aparecerá nas buscas. Por aqui acho que ninguém quer ser esquecido. Não se viu qualquer querela jurídica de quem quer que seja pedindo o esquecimento. As redes tem se antecipado e criado – de novo não acredito que eles deletem os dados da pessoa – dispositivos para, por exemplo, uma saída definitiva do Facebook.
Enfim, o caso do momento, não deste momento exato, foi no mês passado. Ressalvo porque se os dados se eternizam, a frugalidade com que é novidade é medida em nanossegundos. Mas voltará para atormentar se ferir o infeliz do politicamente correto ou qualquer novo dogma das incontáveis autointituladas minorias.
O Diretor James Gunn de Guardiões da Galáxia foi demitido porque descobriram que ele postou vários tuítes fazendo ofensivas em que fazia suposta apologia à pedofilia e ao estupro. Quando ele fez isso? Em 2008!!!!!!!
Muitas pessoas da indústria cinematográfica apoiaram o diretor e o defenderam. A direção da Marvel, no entanto, apenas classificou as palavras de quase uma década atrás de inaceitáveis.
O próprio diretor disse algo mais ou menos como cresci nos últimos dez anos como pessoa. Quer dizer, o cara era um “porra louca” que fazia todo tipo de maluquice sabe-se lá embalado porque tipo de droga, era um provocador como se autodefiniu na época, afirmou-se como diretor dos filmes da Marvel, uma das maiores produtoras de filmes de heróis do mundo e, vindo à luz seu passado boquirroto condenável foi sumariamente demitido.
Imagine que um movimento como o Mee too é todo fundando nesse tipo de coisa, embora seja justo e necessário a defesa de qualquer e toda mulher que se encontre em situação vulnerável. Pessoalmente não creio que seja o caso das atrizes, agora milionárias, que fizeram o teste do sofá porque queriam subir na vida. Funcionou. Agora, no Olimpo das divas, acusam um e outro de assédio e outras coisas.
Convenhamos, parece muito uma negociação da profissão mais velha do mundo. No caso, alguém tinha a oportunidade num filme, a outra tinha uma moeda particularíssima. Houve pagamento e a oportunidade foi dada e elas faturaram, saltaram de desconhecida a atrizes respeitadas e bem pagas. Agora, décadas depois gritam: fui abusada. What!!!!!!!!
Voltando ao James Gunn. A aberração do caso está em que algo que foi dito em uma situação, ainda que reprovável, passa um tempão e aquilo ainda vale para condenar alguém independente daquilo que ela seja no momento. Ou que demonstre claramente ser contrário ao que disse antes, como nos lembra Raul Seixas: “Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes...” E porque não pode? 
No final, tudo se resume a vender uma imagem coerente com a cultura de caça às bruxas que o politicamente correto castrador patrocina. A liberdade individual, mesmo de dizer asneiras, foi incluída num Índex e a denúncia, passe o tempo que passar, é implacável, instantânea e não há qualquer possibilidade de salvação ou perdão congelado num purgatório virtualmente eterno.