Assim estamos.
E vai piorar. Vivemos uma espécie de Minority
Report ao contrário. No filme, prende-se o criminoso por um ato futuro, que
é rastreado por uma fusão de tecnologia e pessoas que tem uma habilidade de ver
o futuro.
Já se disse
que tudo, absolutamente tudo mesmo, que você fizer, disser, filmar, fotografar
e postar em qualquer rede se eterniza. Movimentos pelo esquecimento total tem
acontecido, em especial na Europa – eu duvido mesmo que a pessoa seja deletada
de verdade da base de dados, apenas não aparecerá nas buscas. Por aqui acho que
ninguém quer ser esquecido. Não se viu qualquer querela jurídica de quem quer
que seja pedindo o esquecimento. As redes tem se antecipado e criado – de novo
não acredito que eles deletem os dados da pessoa – dispositivos para, por
exemplo, uma saída definitiva do Facebook.
Enfim, o caso
do momento, não deste momento exato, foi no mês passado. Ressalvo porque se os
dados se eternizam, a frugalidade com que é novidade é medida em nanossegundos.
Mas voltará para atormentar se ferir o infeliz do politicamente correto ou
qualquer novo dogma das incontáveis autointituladas minorias.
O Diretor
James Gunn de Guardiões da Galáxia foi demitido porque descobriram que ele
postou vários tuítes fazendo ofensivas em que fazia suposta apologia à
pedofilia e ao estupro. Quando ele fez isso? Em 2008!!!!!!!
Muitas pessoas
da indústria cinematográfica apoiaram o diretor e o defenderam. A direção da
Marvel, no entanto, apenas classificou as palavras de quase uma década atrás de
inaceitáveis.
O próprio
diretor disse algo mais ou menos como cresci nos últimos dez anos como pessoa.
Quer dizer, o cara era um “porra louca” que fazia todo tipo de maluquice
sabe-se lá embalado porque tipo de droga, era um provocador como se autodefiniu
na época, afirmou-se como diretor dos filmes da Marvel, uma das maiores
produtoras de filmes de heróis do mundo e, vindo à luz seu passado boquirroto
condenável foi sumariamente demitido.
Imagine que um
movimento como o Mee too é todo fundando nesse tipo de coisa, embora seja justo
e necessário a defesa de qualquer e toda mulher que se encontre em situação
vulnerável. Pessoalmente não creio que seja o caso das atrizes, agora
milionárias, que fizeram o teste do sofá porque queriam subir na vida.
Funcionou. Agora, no Olimpo das divas, acusam um e outro de assédio e outras
coisas.
Convenhamos,
parece muito uma negociação da profissão mais velha do mundo. No caso, alguém
tinha a oportunidade num filme, a outra tinha uma moeda particularíssima. Houve
pagamento e a oportunidade foi dada e elas faturaram, saltaram de desconhecida a
atrizes respeitadas e bem pagas. Agora, décadas depois gritam: fui abusada.
What!!!!!!!!
Voltando ao
James Gunn. A aberração do caso está em que algo que foi dito em uma situação,
ainda que reprovável, passa um tempão e aquilo ainda vale para condenar alguém
independente daquilo que ela seja no momento. Ou que demonstre claramente ser
contrário ao que disse antes, como nos lembra Raul Seixas: “Eu quero dizer
agora o oposto do que eu disse antes...” E porque não pode?
No
final, tudo se resume a vender uma imagem coerente com a cultura de caça às
bruxas que o politicamente correto castrador patrocina. A liberdade individual,
mesmo de dizer asneiras, foi incluída num Índex e a denúncia, passe o tempo que
passar, é implacável, instantânea e não há qualquer possibilidade de salvação
ou perdão congelado num purgatório virtualmente eterno.
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