Um raio destruiu uma réplica de uma estátua de Vênus de Milo em Yarrawonga, na Austrália, e a única parte que
"sobreviveu" intacta ao choque foram os voluptuosos seios da escultura, segundo a
emissora de TV "ABC News".
Fonte: G1 (10/01/2013)
Acho que vocês acreditarão nesta
história. Num tempo em que milhares de pessoas creem e esperam um rocambolesco
fim de mundo de uma lenda pseudocientífica, este relato apenas parece não ter
pé nem cabeça. A coisa aconteceu longe daqui, mas, vocês sabem, há quem diga
que nós estamos a distância de apenas seis pessoas de qualquer outra da terra.
Aos que flutuam, explico. Um sujeito perdido na Ásia conhece alguém que conhece
outro e este outro e, seis pessoas depois, alguém que me conhece. Capite? Deixa
pra lá!
O fato é que eu conhecia o cara.
Saiu do Brasil há muito tempo. Disfarçou-se de gringo e vive como um. Meteu-se
a Artista. Adotou o nome de Tom Finley, mas aqui era conhecido por Toim Fila.
Sim, de filar os outros. Fez vida no estrangeiro. Deu-se bem, como se diz. Há
muito não nos falávamos e o contato deu-se justo por um acidente inusitado.
Para ele, digo. Até que contei o que estava por trás de um suposto atentado
divino, embora a divindade de quem privo amizade nem de longe conheça a banda
podre do islamismo jihadista.
Enfim, vocês sabem que Zeus é tinhoso
para tomar múltiplas formas. Pegou muitas virgenzinhas e ninfas incautas que
entravam na conversa fiada dele, quando se transmutava de alguma coisa. Para
preencher o tédio, ele dizia. Agora é pior, porque nem culto lhes prestam,
danados que estão os gregos entre greves sem conta, desemprego e aperto
econômico. Ele diz que está melhor assim, pois a situação por lá nem ele
resolveria. Se pedissem, ele teria que enrolar, passar para algum deus
subalterno. Talvez até o Hades, porque a confusão está mais para seus domínios.
Um parágrafo a mais e ainda não desenrolei
a história. Aqui vai: Zeus pedira uma nova cópia da Vênus de Milo para decorar
seu apê novo montado num monte aqui pelo Brasil. Disse que quer assistir as
Olimpíadas de camarote mais perto. Aluguel ou a compra de imóvel estarão pela hora da morte.
A Vênus original é uma estátua
pra lá de gostosa e sensual, mas que, coitada, está sem os dois braços. Ela
remete à perfeição da forma feminina, mas, aqui pra nós, desconfio que o
escultor quebrou os braços depois de um arranca rabo com a patroa. A forma está
lá, mas impotente, sem defesa. Diz-se que ela, a patroa, quando zangada, dava
umas azunhadas no pobre escultor porque dizia que ele não trazia nada pra casa
com aquela profissão.
Então, o pedido da cópia – com
braços – foi ideia de Zeus. O Toim Fila meteu-se a fazê-la. Preveniu que faria
algo com muita liberdade artística com um quê de constestação contra a tirania
da magreza e da moda capitalista que impõe modelos impossíveis de serem
seguidos, blá, blá, blá... Zeus torceu o nariz para isso, mas como só o Toim se
candidatou, resolveu aceitar. Sem grana para ir ver a verdadeira Vênus em Paris
e sem inspiração, como um barco a vela numa bruta calmaria, Fila decobriu na
Vênus de Willendorf sua musa perfeita. Com 24 mil anos de esculpida, não
poderia estar em mellhores condições.
A um só tempo satisfaria sua
visão livre da forma de mulher, constestaria como um fanático da Peta o padrão da
moda e daria a Zeus uma gostosa para apreciar. Decidiu que não usaria instrumentos
de qualquer espécie em sua Vênus, apenas as mãos como um amante que acaricia
sua amada. Zeus também não gostou desta quase corneação, mas engoliu.
Lembrem-se, o deus anda meio em baixa e aí se submete a engolir cururu desse
tipo.
Chegou o dia da entrega da
estátua. Zeus quase teve um troço, mas havia que manter as aparências. Dar
chilique na frente do Toim, nem pensar. A maior raiva dele é porque queria
lembrar sua amada Vênus. Ela inspirou o primeiro escultor. Mandou o pobre para
o Hades quando ele quebrou seus braços. Era como uma fotografia querida e
valiosa, já que a propriamente dita fugira com um sátiro que foi devidamente
fulminado por um raio. Esqueci, junto com a Vênus. Mas Zeus nunca se recuperou
do episódio.
A estátua estava coberta. Zeus,
entediado, esperava. Toim fez uns rapapés e descobriu de forma teatral a obra.
Estava radiante, mas seu riso morreu na boca quando o deus perguntou o que era
aquilo. Deixe aí, disse ele, seco. Pegue o cheque. Toim ficou meio
desconcertado, mas havia recebido o pagamento. Estava desconfiado de calote que
nem o Cordeiro pegou do Tadeu com os pescadores da Litorânea em São Luís.
Zeus olhou aquele estrupício
nauseado. A barriga volumosa lembrava a
Bertoleza do Cortiço. Que metesse uma faca ali, como sua colega. Os braços
fininhos. Uns culotes imensos e muita, muita celulite. Mas os peitos, hummm.
Volumosos. Maciços, mesmo um pouco caídos. Zeus gostava de peitos. Mas o resto
nada vale, pensou. Meteu-lhe um raio certeiro que a explodiu inteira, mas
conservou os peitos. Na nova casa diria que era obra de um importantíssimo
artista modernista. Nesta área, as pessoas acreditam em qualquer coisa. E vindo
de Zeus, quem duvida?