terça-feira, 22 de novembro de 2016

Aluga-se um conversador

Como se explica o sucesso do Facebook, a mais icônica das redes sociais, e as demais congêneres? As pessoas adoram se comunicar. Gostam de falar, de ouvir histórias. Não importa o meio que medeia a comunicação humana, falar com outra pessoa é algo que fascina e atrai.
A comunicação pode ser feita em rede, em que alguém pode se gabar de ter “um milhão de amigos” ou tête-à-tête; conversar é a forma mais eloquente de demonstrar nossa humanidade. Quanto mais falamos uns com os outros, mais humanizados nos tornamos. Assim que, quase toda estratégia, quer se torne um negócio ou não e explore formas de contato, está, quase sempre, fadada ao sucesso.
O que torna comunicar-se algo tão incrível e, às vezes, desafiador, é nossa habilidade com a fala. Pesquisa recente demonstrou que ambos hemisférios do cérebro participam do processo. A linguagem é fruto das representações perceptuais, de uma interface sensório-motora e da produção de representações. É mágico! Pois não se trata só de produzir sons, mas a eles conferir significados. Daí porque a carta da filha ou da irmã da Mariana nos toca a todos e nos leva a visitar emoções e a produzir um senso de identificação.
Cuidado, porém. Nossa percepção é cheia de meandros e armadilhas. Nossa limitação na apreensão de informações pelos sentidos pode criar interpretações (representações do real) equivocadas e gerar distorções cognitivas que parecerão verdades e, por isso, fundamentarão conclusões (falas) erradas. Os ruídos na comunicação nascem porque damos pouca importância à percepção do outro. O que ele/ela quis mesmo dizer? Que bloqueios, defesas, resistências estão em mim que tornam minha audição seletiva, meu olhar viciado?
A despeito disso, ter com quem conversar é ainda a maior aventura que alguém pode viver. Pois, imagine, você vivencia algo fascinante, mas não tem com quem dividir e compartilhar. Digo, alguém que lhe ouça de verdade, não aquele que quer apenas a chance de se contrapor com algo ainda mais maravilhoso porque, no fundo, ele compete com você.
O narcisismo epidêmico torna a conversa com o outro uma mera desculpa para ser protagonista de tolas realizações que o narciso de plantão considera excepcional e, quase sempre, é, se muito, pouco mais que medíocre. O mundo de competição desvairada torna o outro simples desculpa, não alguém por quem se tem verdadeiro interesse.
Isso talvez explique o sucesso de um ator americano desempregado. Ele se tornou people walker. Por uma milha, pouco mais de um quilômetro e meio, ele cobra sete dólares. Sim, você percebeu bem, é o espelho reflexo do dog walker. Com uma diferença fundamental: não precisa coleira, nem esperar seu amigo se aliviar em um poste. O autor da ideia diz que não é sobre caminhar, é sobre conversar. Bingo! Ele tem fila de espera e a ideia já começa a se espalhar por outros países. Celulares e computadores com suas cornucópicas possibilidades de comunicação são meios fantásticos, mas nada supera a voz sem intermediários, o olhar no outro, a captura de todas as sutilezas no tom da voz, dos micro movimentos faciais.
As pessoas anseiam por conversar de verdade. Isso significa ser ouvido e falar e nisso se produzir uma espécie de autenticação de nós. Eu ousaria dizer que os fracassos nas relações estão nos vazios de voz, no silêncio punitivo, na gritaria generalizada em que ninguém ouve mais ninguém, na falta de pausa para ouvir, na educada espera surda para dizer apenas o que se quer dizer sem o mínimo de trabalho de compreensão do outro.