Ganhou repercussão nacional o caso da faxineira de
32 anos e quatro filhos que comeu guloseima do corregedor da Polícia Federal em
Roraima e tornou-se alvo de um procedimento. O caso do bombom do delegado
Agostinho Cascardo, corregedor da Polícia Federal em Roraima, virou a ‘Operação
Sonho de Valsa’ nas redes.
Fonte: G1. Por Julia Affonso e Fausto Macedo
(13/10/2015)
Todos os dias,
Veridiana entrava na sala do chefe para limpar, retirar o lixo, borrifar
perfumador ambiental com o cheiro lavanda. O delegado federal fazia questão. A
limpeza no banheiro privativo deveria ser minuciosa, nenhum fio de cabelo ou
coisa parecida deveria ser encontrado e o delegado fazia inspeção com lupa e um
daqueles óculos para se enxergar no escuro. Às vezes, com tempo, espargia
luminol e usava luz ultravioleta para ver material biológico. Veridiana era a
sexta “profissional da higienização” que a empresa terceirizada enviava. Todos
os outros não tinham o perfil para atender às exigências do delegado.
Uma ordem
expressa do delegado federal dizia que o “operário da limpeza” como ele
chamava, não deveria, jamais, mudar a ordem dos papeis e outros apetrechos de
escritório que ficavam sobre a mesa. Aquilo tudo era material de alta relevância
para a resolução de casos, todos muito importantes. Isso era cláusula pétrea. O
pano, lenço, o que fosse, deveria arrodear as coisas, quer dizer, limpava
apenas a superfície vazia disponível da mesa e havia que fazê-lo com maestria e
habilidade de malabarista. Os apetrechos e pastas “top secret” propriamente
ditos, no máximo, receberiam uma ligeira espanada com um espanador especial de
penas de avestruz. Este instrumento de precisão, o próprio delegado fornecia.
Mandou fazê-lo depois de uma operação numa fazenda clandestina de criação de
avestruzes de onde, por óbvio, recolheu algumas amostras de penas para a
investigação e da sobra foi confeccionado o espanador carnavalesco.
Por azar, Veridiana
estava faminta. Havia passado por dez outras salas e a do delegado deixara por
último, para poder fazer com mais tempo a assepsia – ele falava assim quando se
referia à limpeza de sua sala. Palavra que Veridiana nunca ouvira na vida e com
a qual teve ligeira dificuldade como se fosse uma prova pra entrar na Nasa. O
delegado não quis explicar. Disse que se ela não sabia do que se tratava, nem
iria começar o serviço. Ela intuiu que teria algo a ver com limpeza. Perguntou
aos colegas e ninguém sabia de nada. Davam de ombros e espichavam o beiço
inferior ante palavra tão estranha.
Naquele dia,
Veridiana deparou-se com um objeto novo sobre a mesa. Era uma caixa de
chocolates sonho de valsa. Ficou como hipnotizada. A última vez que comera um
daqueles fora quando seu ex-marido lhe pedira em casamento e lhe deu um só na
ocasião. A caixa estava semiaberta. Tentadora. Sabendo que câmeras monitoravam
seu trabalho e sabe lá o que mais, temeu pegar um daqueles. Mas ela tinha suas
artimanhas. Limpou a mesa e usou as penas do espanador para cobrir a caixa,
enquanto enfiava a mão para pegar um.
Correu para o
banheiro e deliciou-se como se tivesse colocado o pé num pedacinho do paraíso.
Quando saiu, havia quatro agentes armados com armas na direção da porta e o
delegado com um ar de superioridade e um risinho no canto da boca. Teje presa,
disse com autoridade. Tomou-a pelo braço e mostrou o vídeo por um ângulo que
ela nunca imaginaria. A senhora era muito certinha pro meu gosto. Eu sabia que
a senhora escondia uma bandida debaixo dessa máscara de eficiência. Confesse.
Veridiana, atarantada, mal abriu a boca. Confessou! Berrou o delegado com olhos
injetados de prazer. Veridiana balbuciou algo como: mas foi só um chocolate. É
assim que começa, daqui a pouco vamos ter uma lava jato aqui.
O
caso espalhou-se. Denominou-se, talvez por troça: “operação bombom sonho de
valsa”. O delegado adorou os holofotes e a “impopularidade” nas redes.
Veridiana foi convidada para fazer umas páginas na playboy-antes-que-acabe.
Diziam que debaixo da farda desenxabida e depois de quatros filhos, ainda tinha
quilometragem para rodar. A seção de fotos já tinha até título: descubra o
bombom da Veridiana.