domingo, 9 de junho de 2013

A caxirola foi pro brejo

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, confirmou nesta sexta-feira (31), durante a inauguração do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), na Cidade Nova, Centro do Rio, que vai realmente vetar as caxirolas, chocalho criado pelo músico Carlinhos Brown para a Copa do Mundo.

Fonte: G1 (31/05/2013)

A caxirola é uma mistura do caxixi com castanhola e um quê de soco inglês. Enquanto você se pergunta o que diabos é um caxixi, por maldade, deixarei você na ignorância enquanto conto as últimas de meu amigo Aristogênio.
Imagino que você, prezado leitor, já esteja a par do que seja uma caxirola. Não? Os jornais não falaram noutra coisa. Ela seria nossa vuvuzela. Aquela trombeta de plástico estúpida que, sabe-se lá por que razão, deu certo na copa africana. Em último caso, ela até se prestaria para outros fins: bengala – se o usuário não fosse tão alto –, porrete para resolver uma pequena desavença com o torcedor do time contrário. No máximo, os agressores teriam pequenas escoriações, bem diferente de meter um sinalizador no olho, como gostam alguns membros da fiel. Para beber chopp e, claro, sua principal função, atormentar os ouvidos de meio mundo.
Aristogênio teve a ideia da caxirola, embora se diga que foi o Carlinhos Brown que, se não roubou a invenção propriamente, não foi o pai solitário e genial deste estrupício. Pra começar, a caxirola faz pouco barulho. A função precípua de sua criação é atazanar a audição das pessoas. Seria preciso nós e a torcida adversária para produzir um barulho de respeito. Eles, por teima, se recusaram a nos ajudar. Nossa torcida frustrada e fazendo jus à nossa proverbial falta de educação, mas principalmente porque nossa seleção ameaça ser eliminada antes das quartas de final, descobriu uma utilidade absolutamente inusitada para a fracassada criação.
Como nos parques de diversão, em que se tenta atirar nos patinhos no tiro ao alvo, os camisas 12 resolveram que melhor que balançar pateticamente a porcaria de plástico (biodegradável, dizem), era tentar acertar os pernas-de-pau da seleção. Aristogênio diz também que esta inciativa de reciclagem utilitária da caxirola foi dele também. Mas foi despeito. Jogou no campo por pirraça porque a sua bruta sequer veio com as bolinhas que produziriam o som: era uma caxirola muda.
Num jogo entediante, o vizinho também jogou e logo todos acharam melhor tentar acertar os jogadores do que ver a partida. Uma pena porque a caxirola, sem nenhuma aerodinâmica, mal chegava na beirada do campo. Nem precisa dizer que nem um jogador foi acertado. O governo, espremido entre o vexame dos estádios que não terminam e aqueles que, terminados, se desmontam a olhos vistos, elegeu a porcaria da caxirola como o bode expiatório de toda incompetência insistentemente demonstrada. Sem contar que, por falta de transporte decente, avenidas e ruas, corre-se o risco de não chegar aos estádios ou sair deles.
O tal bode é um infeliz chocalho, mas poderia ser qualquer outra coisa. Azar do pobre. Em nome dos mais altos padrões de segurança, a caxirola foi banida dos campos, mesmo das peladas de várzea se é que ainda existe alguma. O governo queria desviar a atenção e aumentou o máximo que pode o perigo da coisa. Aquilo era um gás sarin; uma ameaça à Amazônia e à lua.
Pra terminar, o ministro da Justiça, um gênio, encerrou o assunto com a seguinte declaração: "Houve uma posição técnica da Secretaria de Grandes Eventos em relação à caxirola, que entendia que do ponto de vista técnico de segurança pública, a caxirola não seria adequada para que pudesse adentrar os estádios. Esse estudo técnico está mantido e foi encaminhado para a coordenação da Copa e deve ser mantido".(?????)
Milhões de caxirolas aguardam um destino. Carlinhos chora. Aristogênio, vingado, ri enquanto balança o caxixi.