domingo, 12 de fevereiro de 2012

Free Willy 5


Cinco orcas foram nomeadas como autoras de um processo na Justiça americana que argumenta que elas têm os mesmos direitos de proteção contra a escravidão que humanos.
Fonte: DA BBC BRASIL 07/02/2012 
A única coisa que ele desejava àquela altura da vida era a esperada aposentadoria. Por descuido ou até por maldade – não podia descartar nada – o processo entrou na pauta. Não admiraria que um de seus auxiliares fosse membro dos Protestantes Especializados no Tratamento de Animais (PETA). Mas também fora negligente, confiou demais e olha só no que deu?
Causou rebuliço, estranheza e desconforto aquele processo. Começava com os nomes dos ditos impetrantes: Tilikum, Katina, Kasatka, Ulises e Corky. Não fosse suficientemente esquisito, identificavam-se como “as orcas escravizadas”. A ser verdade, o nome Tilikum lhe produzia a bruta sensação de encurralamento. Lembrou, tratava-se de uma orca drogada, louca e serial killer que matava com requintes de crueldade e estivera envolvida em circunstâncias suspeitas na morte de dois humanos, além de ter matado afogada sua própria treinadora diante de uma platéia que demorou horas para entender que o  afogamento não fazia parte do show.
Agora estava ali, se fazendo de coitadinha, alegava maus tratos, degradação de sua dignidade, aviltamento de sua honra, vida em regime análogo à escravidão e, para completar, invocava a 13ª emenda da Constituição, a que acabara com a servidão involuntária.
Os EUA, a maior nação do planeta, agora se via minada por dentro, achincalhada pelo conluio de baleias e uma meia dúzia de debéis mentais que não comem carne e ainda por cima acham que uma pulga e um ser humano são assim de próximos. Inda fossem hinduístas estava explicado, pois se trataria de uma crença e cada qual acredita no que quer. Estariam por força dessa crença impedidos de cortar a transmigração das almas, sabe-se lá de quem que quereria subir na escla evolucionária espiritual.  
O mais duro, entretanto, é que ganhou o apelido de juiz Bob Esponja. Ele que detestava aquele desenho em que o herói é um ser idiota com um amigo esquisito de nome Patrick. Fosse em São Luís de outros tempos, diriam que teria pendores para qualira. Se era para apelidar, preferia ser o Sirigueijo. Com aquele, sim, tinha alguma coisa que ver. Até mesmo o Lula Molusco seria melhor.
Ele que pensava já ter visto de tudo se lastimava: a vida delas é uma regalia só. Aliás, diga-se de passagem, muito melhor do que viver num oceano perdido nadando daqui pra lá e de lá pra cá. Eram bem alimentadas e cuidadas e ninguém se importava se, de quando em vez, fumavam uma cannabis em algum canto do aquário. O quê que elas queriam mais?
Mas aqueles comedores de folhas e aquelas baleias loucas iriam ver com quantos paus se faz uma petição. Negaria a ousadia. Aceitara o despautério por pura bestagem, mas lhes daria uma lição. Que conversa é essa de escravidão? Davam uns saltinhos, molhavam uns turistas babacas que pagavam por isso, comiam umas sardinhas, abanavam o rabo. Onde estava a exploração?
Percebeu depois que arrolaram o Nemo como testemunha. Como se o palhaço estava da Austrália para uma banda? Que sabia ele da vida delas? Eram umas fofoqueiras, isso sim. Engendradoras de mentiras. Estava farto daquilo.
Já nem pensava em julgar nada. Naquela manhã decidiu meio ensandecido com tamanho desperdício de sua vida. Armado com varas de pescar tamanho família determinou – também como vingança ao possível PETA dentro de seu gabinete –: iriam pescar baleias. E que não esquecessem as minhocas e os disfarces que aquelas pestes eram danadas de sabidas.