Com o objetivo de ensinar boas maneiras aos seus cidadãos, o governo
norte-coreano publicou uma reportagem chamada “Etiqueta para conversar ao
telefone” em uma revista estatal especializada em estilo de vida.
Fonte:
Exame.com (30/09/2014)
Havia enorme
apreensão quanto a liberar celulares no país. Imagine as pessoas podendo ligar
pra quem quisessem. Imagine as pessoas conversando e perdendo tempo em vez de
produzir para a pátria. Todos os minutos somados com o desperdício ao celular traria
o caos. Mas o pior de tudo, alarmavam-se os camaradas dirigentes, vai ser a
possibilidade dos cochichos antipatrióticos que o povo pode fazer. Mas camarada
diretor, a gente faz que nem o Obama, põe escuta universal. Em qualquer esquina
da nossa vizinha China se vende aparatos para este fim. Moleza.
Camarada
diretor ficou mais tranquilo. Até alegrou-se com a ideia de maior controle
sobre os infelizes coreanos nortistas. Todos acharam a saída muito boa e
alegremente passaram a deliberar sobre a instalação da telefonia celular na
nação. Mas camarada diretor, não seria de bom alvitre estabelecer algumas
normas para que as pessoas usem o aparato de forma educada e de acordo com a
vontade de nosso supremo líder? Imagine se alguém dá uma risada ao celular
justo no dia da gloriosa morte de nosso fundador que, como se sabe, é
terminantemente proibido?
Todos
novamente concordaram. Embora este camarada cheio de ideias já aborrecesse
camarada diretor que se via ameaçado pelo desembestado proativismo do colega.
Resolveu dar ideias também. Pois bem, direi as regras. Todos atentos,
circunspectos. Pigarreou, não lhe vinha nada à mente. Os olhares dirigidos, um
riso disfarçado no camaradinha infernal cheio de propostas, aquilo lhe acendeu
a ira. A reunião está encerrada! Amanhã, aqui, no mesmo horário, trarei a lista
para vossa aceitação. Saiu-se bem, ganhou tempo, pensou autoindulgente.
Em casa,
embatucado. Andava pra lá e pra cá. Até que lhe veio uma luz do camarada Kim
Il-sung, com ligeiro bafejo inspirativo do finado grande pequeno líder, Kim
Jong- il. Regra 1. Etiqueta. Deve-se dizer: Alô e imediata identificação. Não
se deve parecer rude. Regra 2. Espera-se que o atendente diga também Alô e o
nome. Regra 3. Deve-se usar sempre o termo “camarada” antes do nome, a bem da
boa educação nacional. Regra 4. Encerrar a conversa com desejos de bons
augúrios em nome de nosso plenipotenciário presidente eterno e grande líder. Fim.
A genialidade
do costume espalhou-se pelo mundo e foi bem vista pela camarada, candidata a presidente
da República do Brasil, Chiquitita Genro (devia ser nora ou sogra, mas um
escrivão do cartório, bêbado, errou ao grafar o registro). Em suas perorações
asmáticas, defendeu o novo costume em terras tupiniquins, para alegria de
alguns camaradas nacionais.
Pareceu bem à
indisfarçada camarada Bilma que a ideia fosse parte de um plano maior, uma lei,
um estatuto, para sua próxima esperada e desejada salve, salve, estadia no
Planalto. Importaria camaradas coreanos para aplicar a nova técnica junto aos
bolsistas nos fundões do Brasil que, como é sabido, não tem modos e basta uma
conversinha errada que invadem as Caixas e quebram tudo por medo de perder a
maciota do dinheirinho pingado sem esforço nenhum.
Houve um
rebuliço na eleição. Parte da zelite branca de olho azul espoletou-se. Queriam
comprar seu espertofone e falar do jeito que lhe dessem na telha, seja onde
fosse. Invasores de prédios e terras, qualquer tipo de minoria existida a
partir de duas pessoas, receberá um espertofone – clamou Bilma, percebendo a
boa veia populista que isso produzia – encomendado a um conglomerado chinês com
duzentos tipos de funções, inclusive faz café e lava pra fora a fim de aumentar
os ganhos destes menos desfavorecidos.
Foi só dar a
ideia que Bilma começou a subir nas pesquisas. Mas ela também dizia que seus
concorrentes fariam de tudo para acabar com o bolsa-espertofone. Dona Marinada
não sabia o que fazer e apenas dizia que nunca tomaria um espertofone de
ninguém, que aquilo era acusação falsa e chorava pelos cantos. Seu Décio, outro
candidato, vociferava qualquer coisa contra as duas outras. Um certo Verde
estava ocupado demais com sua lombra, não dava conta de nada.
Acabou uma primeira rodada
da eleição e a nação aguarda as novas regras educativas, ou seja lá o que for
que aconteça no pleito.