domingo, 3 de maio de 2015

Esporro

Uma mulher foi filmada retirando à força um garoto que parece ser seu filho do tumulto nas ruas de Baltimore, nos Estados Unidos.

Fonte: BBC Brasil (28/04/2015)

As imagens correram o mundo. Viraram meme. O garoto frazino vestido a la black bloc é estapeado pela mãe (suponho) no meio da rua, que lhe diz ainda impropérios. Mas circunstantes alegam que apenas perguntava frase típica dos americanos: o que há de errado com você? E lhe mandava sair dali aos empurrões. Arrancou-lhe a máscara e o expôs publicamente, que não teve outra coisa a fazer a não ser sair batido para casa.
Alguém dedurou o moleque. Ou, neste tempo de exposição maciça pelas lentes nos lugares mais improváveis, foi denunciado por seus trejeitos no meio da multidão. A mãe espantada: Gente, aquele ali não é o Jamal jogando pedra na polícia? A amiga do lado coloca fogo: Jay-vonna, é o Jamal. Vai pegar este bastardo antes que a polícia o prenda.
Jay se levanta, calça as sandálias de salto alto e sai como uma fera com o megahair esvoaçante. Vou partir a cara dele na frente do mundo todo. Cretino, era para estar na aula agora. O resto é vídeo.
Nem tudo dá para resolver desta maneira, mas me pergunto se nós fizéssemos assim com os acanalhados políticos. Imagine Renan em plena fala cutucando a presidente por não discursar no dia primeiro de maio – o que nos salvou de bons minutos de aporrinhação – e, aberração, criticando a prática de distribuição de cargos no governo, fosse puxado pela orelha por uma entidade fictícia chamada povo? Os repórteres nada fariam além de registrar a cena. Abririam passagem para que o tal sofresse um corretivo mais adequado numa salinha qualquer do Senado. Quem sabe uns bons cascudos e reprimenda para que ele voltasse à sua antiga posição. Nada de virar folha de sua canalhice costumeira. Vai dar susto assim no diabo que o carregue. Afinal, o mundo precisa funcionar de forma normal, ou não?
E os meninos executivos da Lava Jato? Bem esses seriam chamados em plena reunião de suas big corporações e ali, ainda sentados na cadeira de mando seriam abordados pelo tal povo que entrou sem cerimônia e lhe daria uma bifa pequena raspando da região occipital, passando pela sutura sagital até quase a estrutura frontal a fim de desmanchar o cabelo implantado ou deixar a careca vermelha. Metia-se a mão pelo sovaco forrado pelo belo Armani bem cortado e sugigado para levantar-se ante o olhar pasmo dos presentes e seria levado também ali na antessala para uma descompostura. E que fazer com o Duque da Petrobras? Ah, como esse tipo só palmatória. Cerveró no milho. Barusco e Paulo Roberto umas boas cintadas com fivela.
Aos mensaleiros basta o ostracismo e a insignificância. Mas o que fazer com o Lula que anda até tirando foto na esteira cercado de treze personals a nos dizer – valha-nos Deus!! – que está tinindo de saúde para voltar em 2018? Nada de bifa com ele, hein? Com ladinos é preciso estratégia porque eles mudam de cara a cada dois segundos. Melhor lugar seria pegá-lo em plena reunião de seu partido. Ali ele mostra a verdadeira cara. No primeiro rompante, o tal povo subiria no palco, que por ele seria recebido com um sorriso – não se engane, é falso – e lhe tascaria um beliscão no braço para descer imediatamente para voltar para o abecê. Aluno evadido de sala de aula é bicho danado de esperto. Sua punição seria escrever quinhentas vezes – duzentos e cinquenta para cada mão: nunca mais digo que o mensalão não existiu. E o dedo faltante? Ele dá um jeito. Não é concurso de caligrafia.
Então o povo, já que subiu nas tamancas para colocar ordem na baderna, iria de ônibus até o Planalto. Ai do serviço de segurança que quisesse impedi-lo. Iria até o quarto andar e bateria na porta. Alguém com voz sorumbática, perguntaria: quem é? É o povo e vem logo abrir esta porta antes que eu a derrube. Na hora que ela abrisse a porta com cara de maus bofes dizendo que não queria falar com ninguém, me deixa em paz! Pegaria um safanão para sentar e ficar caladinha. Vai colocar aparelho nos dentes, sim, e vai deixar desse mau humor adolescente e de ficar dando chilique a cada vez que valoriza seu tempo de guerrilheira assaltante de banco que foi torturada.
Arruma tuas coisas e vamos para aula de economia e administração. Vai trabalhar e estudar que está muito desocupada.