Pode
estalar os dedos sossegado. Provavelmente nenhum dano será feito às
articulações e o som pode até indicar a saúde das juntas. A descoberta é de uma
equipe de pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, que revelou pela
primeira vez com método científico o que acontece quando estalamos as juntas.
Fonte: Revista Veja (16/04/2015)
Vamos lá,
estenda as mãos, entrelace os dedos numa teia dáctila e estique-os como se
quisesse fazer um pequeno cabo de guerra, mas sem separá-los. O que aconteceu?
Muita gente responderia: as juntas estalaram. Pois eis que os estaladores
realizaram um pequeno, até outro dia, mistério do corpo. Isso porque, a
despeito de pesquisas desde os longínquos anos 1940 sobre esta verdadeira
façanha humana, havia dúvidas sobre o que era mesmo que fazia o barulho igual
ao plástico-bolha, material que teria sido inventado muito tempo depois e, reza
a lenda – invento eu –, inspirada no estalido das juntas.
Muita gente
acha que a pequena explosão se deve ao roçar das articulações e que, com o
tempo, se desgastariam impedindo os dedos de dobrarem porque, parece,
engrossariam. Santa ignorância, diria o Robin. A explicação é deveras simples. As
ressonâncias magnéticas demonstraram que a separação das articulações causa uma
rápida criação de uma cavidade de gás dentro do fluido sinovial e é esta,
digamos, bolha que estoura como a saída da rolha de um espumante. E você vivia
sem esse conhecimento. Como era possível?
E para que
serve mesmo estalar os dedos? Para nada. Imagino cá. Matar o tempo. Causar
gastura nas pessoas sensíveis ao barulho. Desafiar seu reumatismo futuro.
Apitar briga de galo. Fazer panelaço contra discurso de político malandro.
Chamar um garçom atarantado. Um monte de dinheiro gasto e não se sabe para que
serve esta capacidade e nem porque, imaginem, o fenômeno acontece com uns e com
outros não. Seria uma classe especial de gente, esses estaladores de dedos? Uma
evolução do Homo sapiens?
Aparentemente
o “seu vizinho” e “o maior de todos” são mais suscetíveis aos estalamentos,
embora “mindinho”, “fura bolo” e “cata piolho” também possam manifestar tal
habilidade. De qualquer modo, tranquilizam os cientistas, se pode estalar os
dedos à vontade e que ser capaz de fazê-lo poderia até ser um sinal de saúde
das articulações.
Seria coisa de
atoleimados se esse grupo especial de gente reivindicasse ser uma minoria? No
Brasil, pediriam cotas. Não duvido. Já que, pelo visto, estalar e não estalar
nos diferencia, não seria indicado que os políticos fossem, obrigatoriamente,
estaladores praticantes juramentados? É que a cada vez que lançassem suas mãos
furtivas nos mensalões, lava jatos e tais quais, o estrépito dos dedos iria denunciá-los.
Economizaria os milhões que seriam roubados, as manobras dos partidos para
salvar seus confrades-membros, as ações judiciais intermináveis. Tenho leve
desconfiança de que logo eles arrumariam luvas antirruído, como se faz em
cabines a prova de som.
Tive um
insight. Dividir o mundo em duas classes – estaladores e não estaladores –
ficaria mais simples. Como se faz com o Garantido e Caprichoso em Parintins. O
elefante e o jumento nos EUA. Digo assim, enquanto não se acha melhor serventia
para os achados inéditos dos denonados pesquisadores.
Estampidos à parte, acho
que o cirque du soleil poderia acrescentar algo mais aos seus espetaculares
números com alguém que pudesse apresentar esses traques nos dedos do pé. Sugiro
que você tente, assim logo saberá em que lado do mundo está e, bem, pelo menos
consegui fazê-lo chegar até o final do texto. Agora deixem estalar os meus
dedos da digitação, porque o cérebro já foi.