sábado, 25 de abril de 2015

Sobre como a ciência muda nossas vidas



Pode estalar os dedos sossegado. Provavelmente nenhum dano será feito às articulações e o som pode até indicar a saúde das juntas. A descoberta é de uma equipe de pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, que revelou pela primeira vez com método científico o que acontece quando estalamos as juntas.

Fonte: Revista Veja (16/04/2015)

Vamos lá, estenda as mãos, entrelace os dedos numa teia dáctila e estique-os como se quisesse fazer um pequeno cabo de guerra, mas sem separá-los. O que aconteceu? Muita gente responderia: as juntas estalaram. Pois eis que os estaladores realizaram um pequeno, até outro dia, mistério do corpo. Isso porque, a despeito de pesquisas desde os longínquos anos 1940 sobre esta verdadeira façanha humana, havia dúvidas sobre o que era mesmo que fazia o barulho igual ao plástico-bolha, material que teria sido inventado muito tempo depois e, reza a lenda – invento eu –, inspirada no estalido das juntas.
Muita gente acha que a pequena explosão se deve ao roçar das articulações e que, com o tempo, se desgastariam impedindo os dedos de dobrarem porque, parece, engrossariam. Santa ignorância, diria o Robin. A explicação é deveras simples. As ressonâncias magnéticas demonstraram que a separação das articulações causa uma rápida criação de uma cavidade de gás dentro do fluido sinovial e é esta, digamos, bolha que estoura como a saída da rolha de um espumante. E você vivia sem esse conhecimento. Como era possível?
E para que serve mesmo estalar os dedos? Para nada. Imagino cá. Matar o tempo. Causar gastura nas pessoas sensíveis ao barulho. Desafiar seu reumatismo futuro. Apitar briga de galo. Fazer panelaço contra discurso de político malandro. Chamar um garçom atarantado. Um monte de dinheiro gasto e não se sabe para que serve esta capacidade e nem porque, imaginem, o fenômeno acontece com uns e com outros não. Seria uma classe especial de gente, esses estaladores de dedos? Uma evolução do Homo sapiens?
Aparentemente o “seu vizinho” e “o maior de todos” são mais suscetíveis aos estalamentos, embora “mindinho”, “fura bolo” e “cata piolho” também possam manifestar tal habilidade. De qualquer modo, tranquilizam os cientistas, se pode estalar os dedos à vontade e que ser capaz de fazê-lo poderia até ser um sinal de saúde das articulações.
Seria coisa de atoleimados se esse grupo especial de gente reivindicasse ser uma minoria? No Brasil, pediriam cotas. Não duvido. Já que, pelo visto, estalar e não estalar nos diferencia, não seria indicado que os políticos fossem, obrigatoriamente, estaladores praticantes juramentados? É que a cada vez que lançassem suas mãos furtivas nos mensalões, lava jatos e tais quais, o estrépito dos dedos iria denunciá-los. Economizaria os milhões que seriam roubados, as manobras dos partidos para salvar seus confrades-membros, as ações judiciais intermináveis. Tenho leve desconfiança de que logo eles arrumariam luvas antirruído, como se faz em cabines a prova de som.
Tive um insight. Dividir o mundo em duas classes – estaladores e não estaladores – ficaria mais simples. Como se faz com o Garantido e Caprichoso em Parintins. O elefante e o jumento nos EUA. Digo assim, enquanto não se acha melhor serventia para os achados inéditos dos denonados pesquisadores. 
Estampidos à parte, acho que o cirque du soleil poderia acrescentar algo mais aos seus espetaculares números com alguém que pudesse apresentar esses traques nos dedos do pé. Sugiro que você tente, assim logo saberá em que lado do mundo está e, bem, pelo menos consegui fazê-lo chegar até o final do texto. Agora deixem estalar os meus dedos da digitação, porque o cérebro já foi.

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