sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Solidão adoece como cigarro


À medida que os equipamentos de cascavilhar nossos lugares mais recônditos evoluem, mais e mais teses e explicações surgem sobre quem somos e como funcionamos. Li que um novo estudo realizado por Jonh Cacioppo e outros pesquisadores da Universidade de Chicago, indica que a solidão afeta o comportamento das pessoas e a forma como seus cérebros funcionam. O título da reportagem era interessante: Solidão pode ser tão nociva quanto o cigarro.

Ali se diz que “o estriato ventral, crucial para o aprendizado, é uma região importante do cérebro, ativada por estímulos que os especialistas chamam de recompensas primárias (como a comida) e recompensas secundárias (como o dinheiro). A convivência social e o amor também podem ativar a região.” E eu que em minha bruta ignorância desconhecia completamente o “estriato ventral” peguei-me a perguntar se esta dissecação in vivo que promovem estas pesquisas, mais que explicar este ou aquele comportamento ou doença, servirão, no fim de tudo, para que um sujeito, aqui no sentido psicológico, se conheça melhor.

Até a comparação entre os males da solidão e aqueles causados pelo fumo parecem deslocados. Solidão fala de alma e ainda que seu adoecer se manifeste no soma e aí compartilhe com o hábito de fumar os mesmos danos, não são, em absoluto, coisas passíveis de comparação. 

Suspeito que a experiência difícil do isolamento em meio à multidão, já por muitos falada, nunca será minorada apenas porque sabemos que nosso estriato ventral não funciona como deveria. No fim destas pesquisas, abre-se mesmo é a porta para a produção de drogas que promoverão seu reto funcionamento.

Para nosso tempos, o que se sabe pela experiência não serve, há que quantificar, sopesar, qualificar, dimensionar e desmontar parafuso a parafuso (permitam-me a metáfora pobre) o órgão estudado. De muito já se sabe que solidão adoece, mas há solidões e solidões. Aquela que “prejudica a imunidade, provoca depressão, aumenta o estresse e a pressão sanguínea e também aumenta as chances de uma pessoa desenvolver o Mal de Alzheimer.”, como bem relata a pesquisa, resulta não da falta de gente que se fale, mas do cada um por si. Do individualismo exacerbado. Da coisificação do indivíduo.

Como é que mal a pessoa sai dos cueiros e já se pede dela comportamentos que não lhe cabem? Nada de amadurecer, viver cada fase da vida, porque esta passa célere, à velocidade de terabytes, então basta pegar um avatar e ser quem você quiser. Fácil, já está pronto. Não admira crianças(?) imitarem adultos e adultos(?) regredirem como crianças. Fora deste grande espectro estão os bebês e os maduros que se quiserem sobreviver precisam se assemelhar quase mimeticamente a esta massa informe sob pena de ser tido como ninguém.

Não à toa, suspeito, explica-se esta onda de pedofilia. Neste meio há aqueles que defendem abertamente a prática como se fossem os primeiros de uma era futura que já está presente. Eles apenas, desorientados e deslocados, praticam o que seu sistema de valores entende como permitido, mas chamam isso de doença. Melhor assim. Inclua-se na numa dessas classificações psiquiátricas/psicológicas e tudo se torna mais aceitável e o doente uma minoria e logo, cheio de direitos.

Talvez caiba aqui o que disse o pesquisador: "Devido aos sentimentos de isolamento social, indivíduos solitários podem ser levados a buscar um certo conforto em prazeres não sociais". Minha afirmação anterior vai, talvez, longe demais, o professor contentou-se em dar como exemplos comer ou beber demais.

Solidão do abandono mata aos poucos. Esta que ignora a pessoa pelo ensimesmamento doentio de todos nós, seja pelo medo do outro, seja pela fuga da enorme maçada que é conhecer o outro e suportá-lo em sua feiúra de ser. Mas o estudo diz que a solidão – que se afirma como uma possibilidade intrigante – resulta da redução na atividade associada à recompensa no tal estriato. Quer dizer, um estriato insatisfeito é abacaxi na certa.

    Como disse, nem toda solidão é igual. Há aquela necessária e desejável do trilhar para dentro em busca de si. Caminho íngreme, às vezes aterrorizante, como quando nos deparamos conosco e olhamos de viés como se nunca tivéssemos sido apresentados. Mas então, estar consigo, depois de um tempo, nos dá tolerância e respeito por aqueles ao redor de nós que tanto de nós carregam.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Fim dos tempos


Ao longo do mês de janeiro, os canais de tv a cabo Discovery, History Channel e National Geographic Channel, apresentaram documentários sobre o fim do mundo. Cada qual deu sua própria nuance. Um enfatizou os cataclismos naturais como o aquecimento global. Outro buscou nas idéias apocalípticas diversas, religiosas e de culturas extintas. E ainda outro, misturou vários detalhes, incluindo um possível meteoro que poderá, num futuro remoto, acabar com tudo.

Mas eis que me deparo com o teólogo Jurgen Moltmann, autor de Teologia da Esperança, que em seu livro “Vida, esperança e justiça: um testamento teológico para a América Latina”, no capítulo “O Deus da ressurreição”, diz o seguinte: “As imagens ou idéias com as quais nós imaginamos o fim, sejam religiosas ou seculares, militares ou ecológicas, certamente são boas imagens apocalípticas. Mas será que elas são também cristãs? Não, elas não são. A original e autêntica expectativa de futuro do Cristianismo não tem nada a ver com o fim, o fim da vida, o fim da história, o fim de todas as coisas; mas com o início, o início da vida, o início do reino de Deus, o início da nova criação de todas as coisas.”

Sua fala cutucou minha letargia sobre ter visto aqueles documentários como que anestesiado. Não de medo. Mas de indiferença. Meu filho menor amedrontou-se e encheu-me de perguntas enquanto assistíamos e respondi lá de qualquer jeito, mais preocupado em amenizar seu temor que explicar qualquer coisa.

Relatei a ele uma experiência que tive mais ou menos na sua idade na casa de um colega vizinho. O menino mostrou-me um livro com figuras sobre o fim dos tempos e me fez correr em desabalada carreira e pranto para casa, amedrontadíssimo. A ponto de minha mãe ter que falar com a mãe do tal menino para que não me mostrasse aquelas coisas. Assim se consolam os crentes em geral, pelo menos a parcela que ainda recorda de algo que se pareça a segunda vinda de Cristo. Sim, porque a moda corrente é preocupar-se com o hoje – saúde e dinheiro – e esta história de esperança futura que fique por lá, em algum ponto perdido no tempo.

Antes da esperança, há que se passar pelas idéias teológicas mais em voga, pela (grande) tribulação. A esperança servirá como vara para um salto sobre o obstáculo do apocalipse, que amedronta os infiéis e aos especiais, ditos salvos, resta a expectativa de livramento desta hecatombe por meio de um arrebatamento.

Vejam, não nego um arrebatamento, pontuo apenas um tipo de movimento em relação a este evento por demais sobrecarregado com a busca de sinais no tempo e esquecido de viver em novidade de vida. Pode-se dizer, por exemplo, que a resposta de Jesus aos discípulos sobre sua pergunta de quando seriam aqueles acontecimentos que anunciavam um fim (Mt 24.2-14), não tem o propósito de estabelecer um ponto final, mas de motivar seus discípulos a viverem os valores da Vida em meio a um mundo dominado pela morte. Faça um exercício simples. Leia o texto de Mateus e veja se cada coisa à qual Jesus se refere não aconteceu ali mesmo, no tempo e aos próprios discípulos.

A ênfase atual, entretanto, firma-se no fim, como diz Moltmann. No mesmo capítulo, o teólogo afirma: “Na ressurreição de Cristo, nós reconhecemos o começo real do futuro de Deus, em meio a este mundo da morte e essa história passageira.” Isto faz enorme diferença. A expectativa da destruição não é adequada até porque ressurreição é começo, mas no que foi dito: “Eis que faço novas todas as coisas.” (Ap 2.15) Estar em Cristo é ser nova criatura, as coisas velhas estão para trás. (2 Co 5.17) Que parte pode ter o da fé e esperança com a destruição e morte?

Ah, alguém poderia dizer, mas vai acontecer o fim dantesco. Pode ser. Mas não é nisso que Jesus está, mas no começo do começo. Ele é o ponto de partida para o novo, não em algum lugar perdido no tempo, mas agora. Pensar deste modo deve mudar nossa forma de ser cristão. Porque aquele que faz parte do novo e é para isso que o Reino se instalou em nós, não cogita do passado nem na forma de viver que tem referência no modo antigo de agir e ser, que apenas serve ao discipulado do mal. Jesus nos diz: “Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós.” (Mt 12.28) Onde o reino de Deus chega, as trevas devem dar lugar à luz. E aí, por meio do Santo Espírito, o fazer será sempre criativo, pacificador, misericordioso e gracioso. Basta ler as bem-aventuranças em Mateus 6.

Viver no reino de Deus hoje, portanto, numa antecipação do futuro onde haverá novo céu e nova terra, implica uma atitude ativa. Não à toa o reino é comparado às dez virgens. Há todo tipo de comportamento no espaço do reino enquanto palmilha a história. Pessoas que foram alcançadas, mas que vivem numa expectativa, sem que esta se traduza em ação à imitação de Cristo. As virgens que são louvadas são aquelas que são prudentes. No contexto, sinônimo de sábias e atentas ao seu próprio interesse. No caso, o encontro com o noivo. Ora, do que se ocupa alguém que tem algo como fundamental em sua vida? Evidente que é daquilo que lhe é importante. Assim, se consideramos a relação com o Senhor algo de importante, é disso que nos ocuparemos a cada minuto. Não será trocado nem substituído por cultos, ativismos, nem qualquer outra coisa, senão o cuidado de andar com Ele e nEle.

Moltmann toma a ressurreição de Cristo como paradigma deste reino. Não só porque ele mata a morte e todas suas formas, mas porque Ele estende este poder a todos quantos nele fixarem os olhos. Ressurreição produz cura de um jeito mortal de viver e, neste sentido, a morte, a inimiga, torna-se incapaz de matar e ainda que o faça ao corpo, aquele que morre está vivo diante de seu Deus. Não em forma de um retrato em cima de uma cômoda, mas de fato vivo, pleno e a salvo nEle. Ademais, a ressurreição que rompeu com uma ordem estabelecida em cujo centro a morte reina, garante ao que crê também a ressurreição do corpo. Lembre, ele fará novas todas as coisas, isto inclui a você e a mim.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

FRASES

"Deus é assunto delicado de pensar; faz conta um ovo: se apertamos com força parte-se; se não seguramos bem cai."

Mia Couto, escritor angolano, reinventando um provérbio Macua

 

"Um adulto consente onde uma criança obedece; se dizemos que um adulto obedece, ele de fato apóia a organização, a autoridade ou a lei que reinvidica 'obediência'".

“...aqueles que escolhem o mal menor esquecem muito rapidamente que escolhem o mal.”

“Em termos morais, é tão errado sentir culpa sem ter feito nada específico quanto sentir isenção de toda culpa quando se é realmente culpado.”

“Não existem coisas como culpa coletiva ou inocência coletiva. A culpa e a inocência só fazem sentido se aplicadas aos indivíduos.”

“Embora uma tentação em que se corre perigo de vida possa ser uma desculpa legal para um crime, ela não é certamente uma justificação moral.”

Hanna Arendt em Responsabilidade e Julgamento

 

Para esculhambar, coloquemos um pouco de Brasil.

“O PMDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem norte e boa parte dos filiados quer mesmo é corrupção".

O autor da frase sapecou uma pérola para o ex-presidente Sarney.  A eleição do senador para a presidência do senado é um: "completo retrocesso". Mais: Sarney não tem compromissos éticos: "A moralização e a inovação do Senado são incompatíveis com a figura do senador."

"O PMDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos."

Senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) em entrevista à revista Veja

 

"Tenho dó das estrelas luzindo há tanto tempo, há tanto tempo... Tenho dó delas. Não haverá um cansaço das coisas, de todas as coisas, como das pernas ou de um braço? Um cansaço de existir, de ser, só de ser, o ser triste, brilhar ou sorrir...".

Fernando Pessoa citado na crônica de Rubem Alves na Folha em 17/02/09

 

“Pela rendição dos nossos valores, será possível "acomodar" os valores dos outros, certo? Não. Errado.“

João Pereira Coutinho – articulista da Folha. Escreve às terças-feiras.

De formiga e rainha louca toda sociedade tem um pouco


Uma pesquisa das universidades de Oxford (Reino Unido) e de Turim (Itália) mostrou que formigas costumam conversar entre elas, em seus formigueiros.
Segundo os pesquisadores, as rainhas emitem sons característicos dentro do formigueiro que produzem reações das operárias, o que reforça o status social da rainha, de acordo com o artigo publicado na revista "Science".

De acordo com um dos pesquisadores, Jeremy Thomas, da Universidade de Oxford, o progresso da tecnologia permitiu a gravação dos sons das formigas nos formigueiros e a execução destas gravações sem que as formigas ficassem assustadas.
Apesar de ter uma sociedade muito bem defendida pelas operárias, as formigas também podem sofrer com infiltrados, segundo a pesquisa conduzida pelas universidades de Turim, Oxford e pelo Centro de Ecologia e Hidrologia de Oxfordshire.
Fonte: BBC Brasil

O relato abaixo me foi passado, em segredo, por um dos pesquisadores.

 

Chama-se Ritinha. É uma operariazinha cujo trabalho consiste em retirar o lixo ou restos de escavações para fora da comunidade. Não parece muito glamoroso para as pretensões dela, mas num grupo hierarquizado e definido por castas é difícil galgar posições mais confortáveis.  Quando pode, enrola as fiscais que estão sempre atentas às embromadoras como ela.

Sem exagero, ela está mais para uma destas colunistas sociais, sabe da vida de todo mundo, e vive falando deles. Está bem, uma relações públicas. Que seja.

Adora falar do Pedrão, um soldado enorme por quem morre de amores. Mas ele, meio troncho das idéias, não percebe seus olhares lânguidos e suspiros. Não se fale os rebolados de tanajura. Ele está quase sempre em posição de sentido com sua bocarra aberta. Por último, Ritinha desconfia de tudo. Pensa estar no mundo 1984 de George Orwell. Imagina que tem gente ouvindo por todo canto e quase sussurra quando fala. Pudera, amigos próximos desapareceram sem deixar vestígios e toda sorte de boato se diz a respeito, até culpam a monarquia. Tem medo de que suas conversas cheguem à rainha a quem chama de louca. Não só ela, mais da metade daquela sociedade formicídea.

A conversa que ronda por aí, dizia Ritinha a sua amiga Rufina, é que a rainha está meio lelé e instalou sistema de escuta e som por todo o formigueiro. Imitou a rainha com seus gritos que deixam a todos estremecidos de medo e gargalharam juntas sem se conter. Ei, vocês não tem o que fazer. Disse uma fiscal que tem cisma com Ritinha. O trabalho de vocês está leve, é por isso que estão nesta conversa-fiada. Desculpe, sua excelência, debocha Ritinha da fiscal. E saiu faceira para o seu trabalho.

Logo em seguida se ouviu o grito da rainha que só elas, as formigas, podem entender. Como pequenas maquininhas pararam seus afazeres imediatamente, como se assuntassem um perigo. Olha Rufina, o palerma do Pedrão. Se a rainha grita ele fica assim, e o imitou na posição de sentido. Se ela não grita ele mantém a mesma posição. Dizem que a ingratidão tira a afeição. Não que Pedrão deva algo a Ritinha, mas como ele a ignora, ela, de brios feridos, agora debocha dele.

Por que a rainha está nervosa? Sei lá. Falam em borboletas terroristas, formigas piratas, larvas infiltradas para roubarem nossa provisão e até comer nossos bebês. Argh! Torceu a cara Rufina. Mas fora alguns acontecimentos esporádicos, onde foi que você viu isso Rufina? Sei não. Então? Isto é piração da rainha louca e nós é que pagamos o pato. Parece a rainha da Alice: Cortem as cabeças! Que Alice? Ai, Rufina, como você é desinformada! A Alice, aquela formiguinha que caiu dentro de um buraco num tronco e conheceu um monte de formiga esquisita. Sabia que tinha uma lá que era só um sorriso? O sorriso da formiga. Rufina balança a cabeça como a lamentar sua burrice e ainda mais a burrice da Ritinha que sabe isso tudo e continua juntando lixo.

Mas sabe, eu acho bom este controle, disse Rufina. Pra quê? Pra nos proteger. De quem sua tansa? Sei lá, tem muito perigo aí fora. Eu morro de medo de tamanduá. Minha mãe conta que um deles atacou a colônia em que ela morava e foi uma desgraceira. Rufina, alôôôô, nós estamos na Europa, aqui não tem tamanduá. Não? Quanta ignorância! Não sei como é que eu continuo sendo sua amiga. Você me cansa. Mas eu, minha filha, um dia saio daqui para outros lugares mais importantes, caso com o primeiro maribondo que encontrar pela frente. Ficar olhando para o Pedrão é perda de tempo.

             Um dia Ritinha acordou cedo e notou algo fantástico, havia asas em suas costas. Um cheiro de terra molhada invadia o ambiente. Sentiu um desejo irreprimível para subir à luz do sol. Queria contar a sua amiga antes. Mas foi quase atropelada por outras iguais a ela que subiam para a saída. Ela as seguiu. Lá em cima testou as asas e na primeira lufada de vento subiu. Nem a alegria lhe encheu o peito e teve que desviar-se de passarinhos que faziam vôos rasantes, comendo suas amigas. Formiga quando quer se perder cria asas.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Números


Em 2008 foram realizadas 629 mil plásticas de vários portes no Brasil. Lipos foram 91 mil e mamas turbinadas, 151 mil. Que fixação maluca é esta com mama?

O Brasil ocupa o honroso 2º lugar no mundo em cirurgias plásticas. Só perde para os gringos americanos.

74% das cirurgias de seio são de aumento. 96 mil contra 55 mil. Nesse passo, o Brasil vai ser campeão mundial de produção leiteira. Carro movido a leite siliconado. Resolvemos problema mundial sem afetar o meio ambiente. Há controvérsias. Vai aumentar o número de camisinhas espalhadas. Reciclagem de camisinha, vai ser o negócio do futuro.

A média de mililitros de silicone é de 300 ml. Uma lata de refrigerante em cada peito. Tem tanto decote inflado que muitas cidades não precisam mais plantar árvore para sombra.

Cirurgias plásticas reparadoras somam apenas 172 mil ao ano. Quem se importa com reparar alguma coisa, a galera quer fazer tunning naquilo que a natureza não foi muito generosa. Só não sabia que estávamos numa epidemia. Tem mulher morrendo de complexo porque suas mamas não passam de dois míseros copinhos d’água descartáveis, muxiba pura.

Um próximo Darwin irá propor uma evolução a partir dos peitos. Sim, porque com o tempo, as mamas deverão ganhar outras funções ainda por nós não descobertas além daquelas de praxe. Precisa dizer? Quem sabe, as pernas vão desaparecer por desnessárias, bastará rolar sobre os peitos.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Droga da (de) monogamia


A questão é simples, segundo pesquisa do cientista Larry Young, da Universidade de Emory, Atlanta, EUA, amor é questão de droga (hormônio). Em seu artigo na revista Nature, ele descreve a pesquisa realizada com ratos-calunga – por aqui só conhecemos ratazanas, todas na política – que diferentemente de 95% dos outros seres vivos existentes, tem o hábito, como os humanos, de construírem relações monogâmicas com seus parceiros. Segundo a pesquisa, existe uma hipótese hormonal para isto e o culpado é o hormônio oxitocina que, explica a pesquisa, tem efeitos semelhantes à cocaína, com a vantagem de não viciar, digo eu. Quer dizer, exceto para os tarados e ninfomaníacas, logo a coisa não é tão inocente assim.

Pois bem, a oxitocina funciona na fêmea e a vasopressina no macho. A ação dos dois dá uma vontade danada de construir ninho e acasalar e viver de amor. A presença dos dois hormônios explica a equação do amor-eterno-enquanto-dure no reino dos ratos-calunga. Mas a coisa não pára por aí. Machos com pouca vasopressina teriam menos chance de achar parceiras, o que se confirmou em homens, segundo outra pesquisa na Suécia. O que explica, para além de outras ilações menos abonadoras, o comportamento daquele seu tio solteirão.

Passada a pesquisa para humanos, borrifando oxitocina no nariz das cobaias, descobriu-se uma irresistível tendência para empatia e construção de relações de confiança, base de uma relação monogâmica, por suposto. Será que isso resistiria a um carnaval no Brasil? Duvido. A conclusão, no entanto, é que a partir do que foi descoberto, pode-se criar drogas de apaixonamento. Cruzes!

A boa notícia é que se pode também inventar um antídoto, segundo o pesquisador, até mais fácil, para impedir que alguém seja enganado por um pretendente inescrupuloso, doido ou doida para torná-lo(a) seu (sua) escravo(a) sabe-se lá para que coisas. Embora, convém dizer, muitos de nós nunca tenha precisado se drogar de nada disso, nem ser drogado, para cair na esparrela de amores devastadores cujo papel que nos coube foi de loucos, debilóides ou palhaços, não necessariamente nesta ordem.

Falando sério. A pesquisa tem relevância, embora eu desconfie destas pontes imediatas entre bicho e gente. A questão que o pesquisador não toca e nem pode, coitado, são as influências sociais e culturais embolando este lado já, por si, pra lá de complicado. Estes fatores têm peso tão grandes ou maiores que hormônios, afinal, uns e outros moldaram nossas relações desde que olhamos enviesado a primeira macaquinha mais sirigaita de quem nossa mãe falou horrores, com guinchos, naturalmente.

O comentário baseia-se em reportagem do The New York Times (artigo de John Tierney) - tradução na Folha de 02/02/09