segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Droga da (de) monogamia


A questão é simples, segundo pesquisa do cientista Larry Young, da Universidade de Emory, Atlanta, EUA, amor é questão de droga (hormônio). Em seu artigo na revista Nature, ele descreve a pesquisa realizada com ratos-calunga – por aqui só conhecemos ratazanas, todas na política – que diferentemente de 95% dos outros seres vivos existentes, tem o hábito, como os humanos, de construírem relações monogâmicas com seus parceiros. Segundo a pesquisa, existe uma hipótese hormonal para isto e o culpado é o hormônio oxitocina que, explica a pesquisa, tem efeitos semelhantes à cocaína, com a vantagem de não viciar, digo eu. Quer dizer, exceto para os tarados e ninfomaníacas, logo a coisa não é tão inocente assim.

Pois bem, a oxitocina funciona na fêmea e a vasopressina no macho. A ação dos dois dá uma vontade danada de construir ninho e acasalar e viver de amor. A presença dos dois hormônios explica a equação do amor-eterno-enquanto-dure no reino dos ratos-calunga. Mas a coisa não pára por aí. Machos com pouca vasopressina teriam menos chance de achar parceiras, o que se confirmou em homens, segundo outra pesquisa na Suécia. O que explica, para além de outras ilações menos abonadoras, o comportamento daquele seu tio solteirão.

Passada a pesquisa para humanos, borrifando oxitocina no nariz das cobaias, descobriu-se uma irresistível tendência para empatia e construção de relações de confiança, base de uma relação monogâmica, por suposto. Será que isso resistiria a um carnaval no Brasil? Duvido. A conclusão, no entanto, é que a partir do que foi descoberto, pode-se criar drogas de apaixonamento. Cruzes!

A boa notícia é que se pode também inventar um antídoto, segundo o pesquisador, até mais fácil, para impedir que alguém seja enganado por um pretendente inescrupuloso, doido ou doida para torná-lo(a) seu (sua) escravo(a) sabe-se lá para que coisas. Embora, convém dizer, muitos de nós nunca tenha precisado se drogar de nada disso, nem ser drogado, para cair na esparrela de amores devastadores cujo papel que nos coube foi de loucos, debilóides ou palhaços, não necessariamente nesta ordem.

Falando sério. A pesquisa tem relevância, embora eu desconfie destas pontes imediatas entre bicho e gente. A questão que o pesquisador não toca e nem pode, coitado, são as influências sociais e culturais embolando este lado já, por si, pra lá de complicado. Estes fatores têm peso tão grandes ou maiores que hormônios, afinal, uns e outros moldaram nossas relações desde que olhamos enviesado a primeira macaquinha mais sirigaita de quem nossa mãe falou horrores, com guinchos, naturalmente.

O comentário baseia-se em reportagem do The New York Times (artigo de John Tierney) - tradução na Folha de 02/02/09

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