quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

De formiga e rainha louca toda sociedade tem um pouco


Uma pesquisa das universidades de Oxford (Reino Unido) e de Turim (Itália) mostrou que formigas costumam conversar entre elas, em seus formigueiros.
Segundo os pesquisadores, as rainhas emitem sons característicos dentro do formigueiro que produzem reações das operárias, o que reforça o status social da rainha, de acordo com o artigo publicado na revista "Science".

De acordo com um dos pesquisadores, Jeremy Thomas, da Universidade de Oxford, o progresso da tecnologia permitiu a gravação dos sons das formigas nos formigueiros e a execução destas gravações sem que as formigas ficassem assustadas.
Apesar de ter uma sociedade muito bem defendida pelas operárias, as formigas também podem sofrer com infiltrados, segundo a pesquisa conduzida pelas universidades de Turim, Oxford e pelo Centro de Ecologia e Hidrologia de Oxfordshire.
Fonte: BBC Brasil

O relato abaixo me foi passado, em segredo, por um dos pesquisadores.

 

Chama-se Ritinha. É uma operariazinha cujo trabalho consiste em retirar o lixo ou restos de escavações para fora da comunidade. Não parece muito glamoroso para as pretensões dela, mas num grupo hierarquizado e definido por castas é difícil galgar posições mais confortáveis.  Quando pode, enrola as fiscais que estão sempre atentas às embromadoras como ela.

Sem exagero, ela está mais para uma destas colunistas sociais, sabe da vida de todo mundo, e vive falando deles. Está bem, uma relações públicas. Que seja.

Adora falar do Pedrão, um soldado enorme por quem morre de amores. Mas ele, meio troncho das idéias, não percebe seus olhares lânguidos e suspiros. Não se fale os rebolados de tanajura. Ele está quase sempre em posição de sentido com sua bocarra aberta. Por último, Ritinha desconfia de tudo. Pensa estar no mundo 1984 de George Orwell. Imagina que tem gente ouvindo por todo canto e quase sussurra quando fala. Pudera, amigos próximos desapareceram sem deixar vestígios e toda sorte de boato se diz a respeito, até culpam a monarquia. Tem medo de que suas conversas cheguem à rainha a quem chama de louca. Não só ela, mais da metade daquela sociedade formicídea.

A conversa que ronda por aí, dizia Ritinha a sua amiga Rufina, é que a rainha está meio lelé e instalou sistema de escuta e som por todo o formigueiro. Imitou a rainha com seus gritos que deixam a todos estremecidos de medo e gargalharam juntas sem se conter. Ei, vocês não tem o que fazer. Disse uma fiscal que tem cisma com Ritinha. O trabalho de vocês está leve, é por isso que estão nesta conversa-fiada. Desculpe, sua excelência, debocha Ritinha da fiscal. E saiu faceira para o seu trabalho.

Logo em seguida se ouviu o grito da rainha que só elas, as formigas, podem entender. Como pequenas maquininhas pararam seus afazeres imediatamente, como se assuntassem um perigo. Olha Rufina, o palerma do Pedrão. Se a rainha grita ele fica assim, e o imitou na posição de sentido. Se ela não grita ele mantém a mesma posição. Dizem que a ingratidão tira a afeição. Não que Pedrão deva algo a Ritinha, mas como ele a ignora, ela, de brios feridos, agora debocha dele.

Por que a rainha está nervosa? Sei lá. Falam em borboletas terroristas, formigas piratas, larvas infiltradas para roubarem nossa provisão e até comer nossos bebês. Argh! Torceu a cara Rufina. Mas fora alguns acontecimentos esporádicos, onde foi que você viu isso Rufina? Sei não. Então? Isto é piração da rainha louca e nós é que pagamos o pato. Parece a rainha da Alice: Cortem as cabeças! Que Alice? Ai, Rufina, como você é desinformada! A Alice, aquela formiguinha que caiu dentro de um buraco num tronco e conheceu um monte de formiga esquisita. Sabia que tinha uma lá que era só um sorriso? O sorriso da formiga. Rufina balança a cabeça como a lamentar sua burrice e ainda mais a burrice da Ritinha que sabe isso tudo e continua juntando lixo.

Mas sabe, eu acho bom este controle, disse Rufina. Pra quê? Pra nos proteger. De quem sua tansa? Sei lá, tem muito perigo aí fora. Eu morro de medo de tamanduá. Minha mãe conta que um deles atacou a colônia em que ela morava e foi uma desgraceira. Rufina, alôôôô, nós estamos na Europa, aqui não tem tamanduá. Não? Quanta ignorância! Não sei como é que eu continuo sendo sua amiga. Você me cansa. Mas eu, minha filha, um dia saio daqui para outros lugares mais importantes, caso com o primeiro maribondo que encontrar pela frente. Ficar olhando para o Pedrão é perda de tempo.

             Um dia Ritinha acordou cedo e notou algo fantástico, havia asas em suas costas. Um cheiro de terra molhada invadia o ambiente. Sentiu um desejo irreprimível para subir à luz do sol. Queria contar a sua amiga antes. Mas foi quase atropelada por outras iguais a ela que subiam para a saída. Ela as seguiu. Lá em cima testou as asas e na primeira lufada de vento subiu. Nem a alegria lhe encheu o peito e teve que desviar-se de passarinhos que faziam vôos rasantes, comendo suas amigas. Formiga quando quer se perder cria asas.

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