quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Peito protesto



O 'Toplessaço', protesto convocado em uma rede social para um topless coletivo na Praia de Ipanema, na Zona Sul do Rio, está confirmado para este sábado às 10h. Por conta da "enxurrada de machismo", segundo a atriz e organizadora Ana Rios, o evento no Facebook ficou oculto "somente" aos 50 mil convidados. Na sexta (20), voltou a ser público — e a ser alvo de ataques.

Fonte: Gabriel Barreira Do G1 Rio

Não é de hoje, o mundo sempre esteve de revestrés. Mas é porque se esquece a frase lapidar do poeta romano Publio Terêncio Afro: “sou um homem: nada do que humano me é estranho”. A estranhice humana, porém, se supera de tal maneira que nos pega no contrapé de nossas idiossincrasias, daí o espanto.
Que querem as mulheres? Indagou Freud em carta a Marie Bonaparte certa vez. E eu que sei! Se ele não sabia e, dizem, ninguém sabe. Não quero levar este texto para o terreno pantanoso da discussão boba da guerra dos sexos, mas os homens tampouco sabem de si. A condição humana, cheia de contradições, talvez, seja um veio para se adivinhar este enigma.
As pessoas também ficam entediadas com sua vida ridícula e sem sentido. Vivem porque vivem. Uma causa, por pobre e tola que seja, ajuda a significar a existência. O mundo instantâneo em que todos (quase) estão interconectados ajuda a fazer a cabeça das pessoas na construção daquelas causas esfarrapadas. Hoje é a ideologia de manada.
Três parágrafos de introdução é muito, sei.  No Enem eu já teria tomado bomba. Aqui entram as mulheres. Vejam a Marcha das Vadias. Não é nada. Transformou-se num movimento porque no Canadá um policial justificou uma mulher ter sido estuprada por causa de suas roupas provocantes. É, literalmente, a aldeia global como previu Macluhan. Um incidente, uma fala de um idiota numa situação local é como se, neste caso, se ouvisse um grito mundial, uma trombeta ao chamado para guerra. As mulheres reagiram se mostrando ainda mais.
Eventos como esse conservam um pouco da origem e vão se transmutando. Aqui, além das palavras de ordem de praxe – guerra ao preconceito, movimento gay, aborto – enfiaram até o “cadê o Amarildo?” na marcha das vadias tupiniquim e ainda quebraram imagens de santos como provocação extra à opressora mor, segundo dizem, a igreja.
Entre um grito e outro a mulherada desfilante e protestante, notou que mostrar uma muchibinha causava enorme impacto. Claro, em plena Jornada da Juventude com o Papa e tudo! Esta descoberta produziu uma variante da Marcha das Vadias: o Toplessaço. Acho que toplezaço ficaria melhor, mas suspeito que as meninas não concordariam. Haverá, enfim, uma mostra de peitos por atacado. Marcar posição, gritar pela liberação do aborto do jeito que quiserem pois, afinal, o corpo é delas. Não só arrancam o filho indesejado que elas fizeram como berram a plenos pulmões que dão para quem quiser. Não retirei as ideias de um manual louco, estão nos cartazes. Deixei de lado os xingamentos.
E os homens solidários nestas ditas marchas? Acho que tem dois tipos: a galera que vai para ver e pegar mulher e os novos machinhos feministas. Castrados. Rufiões sem opinião, provavelmente até o time é escolhido pela mulher. Como dizem os americanos, os sissies. Homens considerado efeminados – não são gays –, covardes, tímidos.  São capazes de falar horas todo um discurso sem se dar conta que não são mulheres.
O feminismo detestava qualquer exposição da nudez feminina. Mas eram mulheres que pensavam e articulavam ideias a partir da filosofia, sociologia, psicologia. Tinham orgulho da cultura e suas mentes brilhantes. Hoje, a cara mais exposta do feminismo é peito e outras partes também. Seria interessante uma análise do discurso dos cartazes que dizem... nada. Platitudes e agressões.
Estes movimentos acabarão com as revistas masculinas pela overdose de nudez. Como se as praias brasileiras já não o fizessem. Mas a delicadeza (ou nem tanto) do esconde-revela é mais discreto como uma tanga esfarrapada ou um cordão encobre a nudez de um indígena. Desamasculinizar, objetivo do feminismo aguerrido, alcança por fim, um resultado perfeito e inesperado, não com a ideias mas com as autoproclamadas “vadias”. Que ironia.
Noutro round deste movimento muito produtivo e enriquecedor da sociedade, foi marcado o tal toplessaço para sábado, 21, em Ipanema. O saldo foi decepcionante. Apenas 8 revolucionárias pareceram, das quais apenas uma valia a pena uma olhada ao redor d qual, por motivos óbvios, reuniu-se um bom grupo e câmeras. Ela se divertiu, não gritou ou esbravejou qualquer slogan e mais uma bela manhã na praia passou. 
O movimento acabou? Não. No carnaval milhares de peitos serão mostrados, mas não conta e ninguém se importa, exceto com as feias. Elas esperam as abluções pelos excessos da carne em plena quaresma. Talvez uma invasão à la Pussy Riot de alguma igreja em plena sexta-feira santa.

domingo, 22 de dezembro de 2013

O rapto do menino Jesus



O desaparecimento do menino Jesus da manjedoura do presépio montado na Praça Nossa Senhora Aparecida, centro de Vilhena (RO), ainda é um mistério. Desde o início de dezembro o boneco foi levado e os moradores estão preocupados sobre o paradeiro do símbolo religioso.

Fonte: Jonatas Boni Do G1 RO  (21/12/2013)

A principal notícia naquele dia estampada no único jornal local, mas que já havia perdido o furo para o disse-me-disse: o menino Jesus fora roubado da manjedoura. Havia certa desolação na cidade e ainda quem visse nesse evento funesto um mau agouro para o ano vindouro.
Mas quem seria este ou esta desalmado(a) para fazer tamanha sandice? Dizem que até o jumento que (não aparece na foto), segundo a lenda, coabitava a mesma estrebaria e foi testemunha privilegiada do nascimento da criança santa, zurrava de tristeza.
Sim, era um boneco, mas eis que alguém contava o zurro lastimoso como verdade verdadeira, donde se conclui que o sumiço do menino já produzia um milagre ao redor do qual já havia grande movimento esperando a próxima fala do animal. Especialistas em decifrar linguagem de bichos já se postavam ao lado com aparatos de gravação para posterior interpretação, pelo menos do que sobrasse do boneco, pois alguns pedaços, considerados santos, haviam sido roubados também.
Diversas explicações foram dadas. Uma curiosa, dita por uma vizinha do presépio, ajudava o larápio ou sequestrador. Dizia que o furto do menino não seria crime, pois possivelmente, fora perpetrado por fiel muito cioso da veracidade dos fatos. Ora, se o menino nasce apenas no dia 25, segundo a tradição, será possível e coerente que o mesmo se abolete na manjedoura lá pelo fim de novembro? Certamente a criança seria devolvida na madrugada do dia 24, no meio da missa do galo.
Esta teoria encontrou apoio, mas também muita desconfiança. O delegado Almeida andou sondando a vizinhança sobre os hábitos da tal senhora, pois havia fortes evidências de que ela era a malfeitora. O padre defendeu a fiel como mulher séria e dedicada às coisas da igreja e que ladra não era. Roubar o menino Jesus, isso mesmo é que não faria.
Inesperadamente, apareceu um bilhete apócrifo e anônimo que pedia resgate pelo garoto sacrossanto. Horror total. Como é que uma pessoa sequestraria o menino Jesus? Esse ou essa deveria ter parte com o capiroto em pessoa se não fosse seu secretário particular. O bilhete era um tanto lacônico: “Paguem R$5.000,00 pelo menino ou nunca mais o verão. Adeus natal e presépio”.
Delegado Almeida mandou cópia fac símile incontinenti à capital, de barco voadeira, para que um perito analisasse a escrita mal ajambrada e quiçá até poderia descobrir a digital do(a) infame. Todos são suspeitos, dizia o delegado Almeida, inclusive o padre e o coroinha. Claro que isso gerou protestos, pois o venerando padre estava na cidade há muitos anos e até o prefeito fora batizado pelo próprio. O coroinha era um moço velho, incapaz de matar uma mosca quanto mais arquitetar plano tão nefasto e sofisticado.
A situação desandou, pois o natal se aproximava e nada de pista do paradeiro da criança divina. Alguns diziam que poderia morrer, pois estaria longe da mãe para amamentá-lo. Que São José, que dava nome à igreja, estava inconsolável com a perda do filho. Procissões se seguiam em favor da volta do menino, sem contar a vigília no pé do presépio. A cidade era uma comoção só. Então, uma menina, destas que nem sabia quem era o pai de seu bruguelo, ofereceu seu infante para ocupar o lugar de Nossossenhor menino. Pareceu bem a todos que aceitaram e foram consolados em sua tristeza e abandono. O peste raptor não foi descoberto e o menino nunca apareceu. 
Feliz Natal para todos os queridos e queridas leitores e leitoras.