domingo, 22 de dezembro de 2013

O rapto do menino Jesus



O desaparecimento do menino Jesus da manjedoura do presépio montado na Praça Nossa Senhora Aparecida, centro de Vilhena (RO), ainda é um mistério. Desde o início de dezembro o boneco foi levado e os moradores estão preocupados sobre o paradeiro do símbolo religioso.

Fonte: Jonatas Boni Do G1 RO  (21/12/2013)

A principal notícia naquele dia estampada no único jornal local, mas que já havia perdido o furo para o disse-me-disse: o menino Jesus fora roubado da manjedoura. Havia certa desolação na cidade e ainda quem visse nesse evento funesto um mau agouro para o ano vindouro.
Mas quem seria este ou esta desalmado(a) para fazer tamanha sandice? Dizem que até o jumento que (não aparece na foto), segundo a lenda, coabitava a mesma estrebaria e foi testemunha privilegiada do nascimento da criança santa, zurrava de tristeza.
Sim, era um boneco, mas eis que alguém contava o zurro lastimoso como verdade verdadeira, donde se conclui que o sumiço do menino já produzia um milagre ao redor do qual já havia grande movimento esperando a próxima fala do animal. Especialistas em decifrar linguagem de bichos já se postavam ao lado com aparatos de gravação para posterior interpretação, pelo menos do que sobrasse do boneco, pois alguns pedaços, considerados santos, haviam sido roubados também.
Diversas explicações foram dadas. Uma curiosa, dita por uma vizinha do presépio, ajudava o larápio ou sequestrador. Dizia que o furto do menino não seria crime, pois possivelmente, fora perpetrado por fiel muito cioso da veracidade dos fatos. Ora, se o menino nasce apenas no dia 25, segundo a tradição, será possível e coerente que o mesmo se abolete na manjedoura lá pelo fim de novembro? Certamente a criança seria devolvida na madrugada do dia 24, no meio da missa do galo.
Esta teoria encontrou apoio, mas também muita desconfiança. O delegado Almeida andou sondando a vizinhança sobre os hábitos da tal senhora, pois havia fortes evidências de que ela era a malfeitora. O padre defendeu a fiel como mulher séria e dedicada às coisas da igreja e que ladra não era. Roubar o menino Jesus, isso mesmo é que não faria.
Inesperadamente, apareceu um bilhete apócrifo e anônimo que pedia resgate pelo garoto sacrossanto. Horror total. Como é que uma pessoa sequestraria o menino Jesus? Esse ou essa deveria ter parte com o capiroto em pessoa se não fosse seu secretário particular. O bilhete era um tanto lacônico: “Paguem R$5.000,00 pelo menino ou nunca mais o verão. Adeus natal e presépio”.
Delegado Almeida mandou cópia fac símile incontinenti à capital, de barco voadeira, para que um perito analisasse a escrita mal ajambrada e quiçá até poderia descobrir a digital do(a) infame. Todos são suspeitos, dizia o delegado Almeida, inclusive o padre e o coroinha. Claro que isso gerou protestos, pois o venerando padre estava na cidade há muitos anos e até o prefeito fora batizado pelo próprio. O coroinha era um moço velho, incapaz de matar uma mosca quanto mais arquitetar plano tão nefasto e sofisticado.
A situação desandou, pois o natal se aproximava e nada de pista do paradeiro da criança divina. Alguns diziam que poderia morrer, pois estaria longe da mãe para amamentá-lo. Que São José, que dava nome à igreja, estava inconsolável com a perda do filho. Procissões se seguiam em favor da volta do menino, sem contar a vigília no pé do presépio. A cidade era uma comoção só. Então, uma menina, destas que nem sabia quem era o pai de seu bruguelo, ofereceu seu infante para ocupar o lugar de Nossossenhor menino. Pareceu bem a todos que aceitaram e foram consolados em sua tristeza e abandono. O peste raptor não foi descoberto e o menino nunca apareceu. 
Feliz Natal para todos os queridos e queridas leitores e leitoras.

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