sábado, 10 de outubro de 2009

A origem do diabo





Como é que foi na escola hoje? Foi legal. Só isso? Quais foram as aulas? Ah, nós tivemos devocional. A professora contou a história do diabo. E como foi isso? (convenhamos, mesmo sendo uma escola cristã, soa estranho uma aula para crianças de 8-9 anos sobre a origem do diabo, espremida entre matérias mais prosaicas como matemática e português).
Sabia que o nome dele era Lúcifer? Isso quando ele era um anjo bom. Mas um dia ele ficou maluco e disse pra Deus: eu não quero mais trabalhar pra ti. E sai logo daí desse trono que eu vou sentar no teu lugar. E o que foi que aconteceu? Ah, ele tinha uns amigos, uns caras lá que apoiaram essa maluquice dele. Dele quem? O diabo, oras! Tá bom, continua.
Deus pegou uma corrente do material mais forte que tinha, acho que era adamantium, e amarrou todos eles. Tudo de uma vez? Foi. Que mais? Pegou e jogou lá no fundo da terra, onde ficam as placas “tecnotônicas”. Por isso que quando eles se mexem as placas mexem também e dá estes terremotos, vulcão... E foi assim que a professora ensinou. Foi quase assim.


PS. A versão da origem do diabo foi fantasiada pelo Yáron, 8. É sua versão da origem do Coisa Ruim e de quebra, dos terremotos e vulcões. E os cientistas quebrando a cabeça para entender estes fenômenos. Está aqui e de graça.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O neurônio e a coceira

Aos poucos, tudo em nós vai se explicando pelos genes. Mesmo quando não se sabe a causa de um comportamento. Uma nova doença com um agente etiológico desconhecido é de um dos genes que se desconfia.
Se um pesquisador é instado a falar a hipótese de tal mal, mas ainda às cegas, descamba para explicações genéticas, lança suspeitas sobre um cromossomo qualquer que sozinho é um mundo de letrinhas e logo todos nos damos por satisfeitos. Queremos uma explicação, se ela é razoável dentro dos parâmetros científicos atuais, parecerá aceitável a nós.
E assim os males da alma, dos quereres, dos fastios, das inclinações, do caráter e da personalidade, nossa propensão para enlouquecer, para comer doces ou tornar-nos adictos de drogas ou do trabalho vão se explicando por agrupamento de células rebeldes, genes amalucados que se expressão perversamente dos porões de nosso dna.
Um dos últimos números da revista “Science” reporta uma nova descoberta. Um grupo de cientistas desvendou que um grupo de células nervosas dedicam-se única e exclusivamente a mandar mensagens de coceira para o cérebro. Suponho que entram neste grupo celular aquelas que acusam um bicho de pé sorrateiramente instalado no dedão. Um formigamento por uma frieira em estágio inicial, uma picada de muriçoca.
Os cientistas utilizaram em sua descoberta os onipresentes camundongos. Para confirmar suas suspeitas, desligaram o tal grupo de células (haveria um interruptor à disposição?) e os animais não deram conta que havia coceira. Escapa-me como induziram a prurigem nos bichos. Sabendo-se que algumas doenças têm como efeito colateral coceiras apocalípticas, coisa de um coçar até deixar o local em carne viva, a descoberta tem grande importância.
Pergunto-me. Haverá como desligar outras coceiras, verdadeiros comichões que nos corcomem a alma? Que fazer com a inquietação sem medida com a vida que nos prega peças, com o silêncio de Deus ou suas muitas falas ditas por quem as ouve dos píncaros ou pressentidas de vapores nebulentos? Haverá cura para aqueles de nós que desenvolveu a incapacidade de ouvir o bem por causa do prurido nos ouvidos?
É Paulo quem alerta Timóteo para aquilo que ele considerava o “tempo”, como a indicar, ao mesmo tempo, um futuro longínquo e o presente, quando as pessoas não suportando o ensinamento verdadeiro, cercar-se-ão de mestres que lhes dirão tão somente o que elas desejarão ouvir. Intrigante a metáfora da coceira. Ela indica formigamento, gastura, impaciência, ansiedade, desejo insatisfeito. Penso que traduz uma forma de vida instável, em perpétuo movimento, que nunca encontra paz. Revela inconstância das verdades faladas, fabricadas, acreditadas, mas tão logo se desgastam, haverá a necessidade de substituição.
Ouve-se gritos nas ruas: quero uma ideologia pra viver! E as muitas que existem se justapõem, se atravessam e se juntam aos discursos de verdade que são catadas em livros de auto-ajuda para produzirem montagens teologástricas, personalizadas, recortes profundos que apenas demonstram mais coceira que nos põem como medida de nós. E o danado é que não nos desacostumamos a estes desastres.
Vá lá, tenho minhas coceiras também. Ainda mais se fora o zumbido, ouço ecos de Ezequiel: Os príncipes são lobos que arrebatam a presa, para derramarem sangue, para destruírem as almas e ganharem lucro desonesto. Os profetas, estes encobrem com cal, visões falsas, anteveem mentiras sobre as quais alegam: Assim diz o Senhor Deus, sem que o Senhor tenha falado com eles.




Textos bíblicos: 2 Tm 4.3; Ez 22. 27,28

Docinhos e bandidos: tudo a ver




Docinhos e bandidos: tudo a ver
Willy Wonka, doceiro do filme "A Fantástica Fábrica de Chocolates", ficaria horrorizado. Crianças que comem muitos doces podem ser mais propensas à prisão devido a comportamento violento quando se tornam adultas, segundo aponta uma nova pesquisa.
Fonte: da Associated Press, em Londres
Olá, o programa “Minha vida, nossas vidas” de hoje será inteiramente dedicado à relação pais, filhos e doces. Entrevistaremos Dra. Lindocrécia, pesquisadora afamada na área psiquiátrica, que nos contará sua mais nova descoberta. A pesquisa causou muita controvérsia com os pais e o mais inusitado, com a indústria de doces e chocolates. Segundo os dados de Dra. Lindocrécia, crianças que comem muito doce, tendem, na fase adulta, a terem comportamento violento ou fora da lei.
Boa noite, doutora. Boa noite, Cassiopéia. Conte para nós como aconteceu sua pesquisa. Acompanhamos o desenvolvimento de crianças nascidas desde a década de setenta. Ao todo 17 mil crianças, durante 40 anos. Os dados são incontestes: daquelas que comeram doces e chocolates regularmente, 69% foram presas, cometeram todo tipo de barbaridade e atos violentos. Então, como se vê, está clara a relação.
Atentem para isso, senhores e senhoras telespectadores. (doutora Lindocrécia atalhando a fala da apresentadora e olhando diretamente para a câmera) O que quero dizer é que você pai e mãe que vive dando docinho para seu filho para comprá-lo, fazê-lo obedecer, está, na prática, formando um marginal. Isso não é exagerado doutora? Os dados são inegáveis. Não foram quatro dias de pesquisas, mas 40 anos.
Quer dizer que as cadeias estão cheias de pessoas que, quando crianças, apenas comeram doces? Não digo isso. Existem outras razões para a marginalidade. Mas é certo também que doces e chocolates são um perigo. Falta, no entanto, descobrir o mecanismo cerebral que faz com que a pessoa se transforme de médico em monstro. Talvez os doces e chocolates deixem as pessoas de miolo mole. Desculpem a piada de mau gosto.
Doutora, temos um pai que gostaria de perguntar. Pode falar, seu Mindício. Doutora, meu filho está na cadeia. Eu mesmo entupia ele de bombom, chiclete e balinha quando criança. Obrigado por me fazer saber. E eu que me perguntava: onde foi que eu errei na criação deste menino? Obrigada por sua participação, seu Mindício.
Temos outra telespectadora. Alô, quem fala? É a Lindineusa. Pode perguntar, Lindineusa. Doutora Lindocrécia, eu não concordo com sua pesquisa. O filho de minha irmã é um vagabundo, vive de dar golpe nos outros e não comeu tanto doce assim. Lindineusa, o filho de sua irmã pode ter comido doce escondido. Eles desenvolvem mil artimanhas para praticar o vício. Ademais, número não mente. Pode averiguar, seu sobrinho devia atacar o pacote de açúcar.
E a senhora, comeu muito doce quando criança? Muito pouco. De alguma forma meus pais já tinham a intuição de que doces na infância produzem sérios prejuízos na vida adulta. Imagino que seus filhos também não comem doces? De jeito nenhum e se eu pegar um deles comendo doces, na mesma hora lhe enfio uma boa colher de óleo de peixe. Ajuda muito.
É verdade que a fábrica de chocolates Garoto processou a senhora, alegando perdas nas vendas, falsa informação científica, agravamento da imagem da empresa junto ao público? Bobagem, eles queriam que eu não mencionasse as crianças na pesquisa, apenas adultos. Tentaram me subornar, esta verdadeira boca de doces. Doutora, por favor. É isso mesmo, fazem mal às nossas crianças, ainda apodrecem os dentes e eu ainda aliviei nesta parte que também foi constatada na pesquisa. Digo, digo mesmo. Doutora, calma. Calma o quê sua abestada, dou banana para essa fábrica, seus filhos da #$%*@, (piiii) %$#@ (piiii), &*§% (piiiiiiiiiii)... CORTA!