A agência "Associated Press" divulgou na quinta-feira (17) a imagem do bilionário chinês que pagou US$ 1,52 milhão (cerca de R$ 2,54 milhões) por um cão da raça mastim tibetano chamado "Hong Dong". O cachorro adquirido pelo empresário identificado por Yang, que mora em Qingdao, na província de Shandong (China), é o mais caro do mundo.
Fonte: Do G1, em São Paulo, com AP
Ele simplesmente queria torrar uma grana, que mal há nisso? Sei, lá vem você com sugestões onde ele poderia gastar estes poucos trocados, mas, entenda, dá-lo a você não faz qualquer sentido, porque para gastar quantia tamanha é preciso certa dose de criatividade e, mais importante, fazê-lo de maneira absolutamente excêntrica. Qualquer um compraria um carrão, um iate cheio de badulaques, até com minissubmarino, e daí? No que isso o diferenciaria de todos os esbanjadores e perdulários do planeta? Nada.
Esta é a questão aqui. Dinheiro não é problema, o problema é como gastá-lo e como ele já tem tudo o que o dinheiro pode comprar, logo é igual a milhares de outros milionários – acredite, há milhares deles e nenhum é seu vizinho, nem parente –, o diferencial está na esquisitice de como se gasta. Um outro qualquer daria alguns milhões num quadro de um artista abstrato moderno. Sim, aquelas garatujas que seu filho de cinco anos faz exatamente igual, mas ninguém se aventura a dar um mísero trocado pela “obra”. Mas isso também todo mundo faz.
Ademais – sei que a piada é infame e nada criativa –, num universo de gente, um terço da população humana, em que todos, aos nossos olhos, se parecem tanto, desparecer não é nada fácil. E é isso que todo mumdo quer um dia. Desparecer dos demais, ser, nem que seja por momentos, único, destacado, especial e sei lá mais o quê. Yang, o bilionário, também tem este mesmo miserável humano desejo.
Qualquer um doa dinheiro para causas ambientais, para mortos de fome em algum lugar perdido do mundo. Ou então faz viagens como embaixadores da ONU para rincões onde a miséria brasileira mais indigente parecerá uma situação de abundância. Claro, medidas sempre são tomadas. Um único fio de cabelo despenteado está lá na foto por algum motivo e sugere, o que finjo acreditar, que o tal meteu a mão na massa... de gente. É preciso, sempre, algum desdentado ao lado, uma criança esquálida no colo (argh!), se possível com algum sorriso famélico para compor. Mas qualquer um faz isso, taí a Angelina Jolie e o Brad que não me deixam mentir.
Mas como ser notado? Criar um conceito, um personagem que se diferencie dessa multidão amorfa de bilionários? Pelo dinheiro contado na casa dos nove dígitos, Yang já cansou. Parece tão... tão... pequeno, materialista, digamos, capitalista num país comunista. Se bem que ninguém mais se importa com isso, desde que o status de mando do PC se mantenha, um chinês pode ganhar dinheiro até cair. Ninguém se importa.
Yang estava sem dormir com este enorme problema. Comentou com alguém – amigo, não, que bilionário não tem amigo – que seja, o serviçal. Ladino que só, conhecedor da alma bilionária de seu patrão, disse logo: basta comprar um cachorro por um preço descomunal, em vez de comê-lo. Não há no mundo quem não queira saber porque alguém faz uma coisa dessas. Aquilo veio como a notícia de que as ações de sua empresas haviam subido de novo na bolsa. Atente, completou o serviçal, é bem diferente de deixar uma herança para um gato ou cachorro, isto também já é manjado.
Eis que passa um senhor com um cachorro da cor de chocolate, peludo feito um bisão e quase do mesmo tamanho. De fato, o pobre homem era arrastado pelo animal, que se quisesse podia montar o bicho e levar para passear. O serviçal deu a deixa. Que tal aquele ali? Mas será que o homem quer vender? Claro que quer. Amigo, gostaria de vender o cachorro? Posso não – minha mulher não deixa não –, estou apenas levando o bicho para passear. Mas se fosse vender, por quanto vendia? Bom, este aqui é puro, bom reprodutor, é novo, sem defeito, acho que uns cem conto. Que tal dois milhões e meio de reais? Quer cheque ou transferência bancária?
Vendido, mas não tenho conta. Vai cheque, então. Bingbo, traz a pasta e o cheque. Só tem uma condição, o senhor terá que ir à televisão, jornal e o que mais for e dizer que vendeu o cachorro por esta quantia. Feito. Bigbo, pega o bicho. Ah, ele tem nome? O senhor chama do que quiser, mas a gente lá em casa chamava de “Hong Dong”.
Dia seguinte, o mundo alarmado sabia pela internete, televisão, jornais e redes sociais que o estapafúrdico bilionário comprara um cão por uma ninharia, na verdade, dizia a forbes e afins, fez um negocião, o bicho valia muito mais. Nem se fale as elucubrantes razões que as pessoas tentavam adivinhar. Yang, se deliciando com tudo isso, ria, enquanto bebericava sua Veuve Clicquot. Pensava agora em comprar um sapo, um mosquito ou, quem sabe, a calçola da Evita Perón.