O barquinho
precário flutua estático no meio do lago. Eles falam de coisas muito antigas, de
antes de se desencontrarem. O pai, ao contrário do que sempre fez, aceita do
filho a bala de algum doce. Diz as palavras que costumava dizer o filho quando
pequeno ou se lembram disso juntos. Eles estão ali se reencontrando de forma
definitiva. O pai diz, repisando uma conversa tida antes. Hoje eu acho que você
é o melhor advogado de todos. O filho não sabe o que dizer. Era um
reconhecimento, um prêmio. O silêncio enche o ar. Eles se miram encadeados pelo
sol.
Ao falar, o
pai tinha o papel da bala na mão. Gesticulava com ela presa entre dedos. O
filho, que fora pego de surpresa com o elogio, resolve mudar de assunto. Era
muito sentimento. Talvez o barco não aguentasse. Aposto cinco dólares que pego
um peixe primeiro. Vira-se para o lado e lança a linha. Queria competir para
rir, contar vantagem depois, vangloriar-se sobre o perdedor, mostrar o peixe,
por menor que fosse. O papel, que estivera preso entre dedos, cai no fundo do
barco. A câmera acompanha o papel insignificante. Então sabemos. O pai se foi e
o filho, diante do silêncio, voltara-se para instigar o pai à competição de
pescaria. Então vê o que víramos antes. A câmera afasta. O corpo do pai jaz
pendido para o lado, um convite para que o filho se aproxime para abraçá-lo
ternamente.
É um fim
feliz. Até chegar a este momento, há um rio de história com tantos
desencontros, raiva, não ditos, incompreensões. Parece que somos peritos nisso.
Talvez seja a velha história repetida tantas vezes. Um filho se vai, parte em
fuga, parte ferido deixando outros feridos. Depois, a história se enrola em si
mesma ou como um bumerangue que volta à mão de seu lançador e o exilado precisa
voltar. Lá, à sua espera, estão as pendências acesas e vívidas prontas para
cobrar consertos.
O filme “O Juiz” começa
leve, mas vai se complicando quadro a quadro. Outros ingredientes vão entrando
agressivos e vão modelando os personagens que se batem entre si em busca do
reparo de velhas dores. É comovente, alegre, dolorido, parecido com a vida.