Mia Couto (António Emílio Leite Couto)
é um escritor moçambicano. Vários de seus livros foram publicados pela Cia das
Letras no Brasil. Há tempos eu o espreitava, mas não sei por que razão me
tolhia como se experimentá-lo como leitor fosse me causar algum efeito
colateral.
Nas livrarias,
folheava seus livros como que tentado, mas acabava com alguém conhecido ou
outro estranho mais bem recomendado. É isso, tinha receio do desconhecido. Uma
decepção. Detesto me decepcionar com um autor. Não com o conhecido, pois sempre
saberei pra onde voltar em sua obra, mas o que não conheço de jeito nenhum me
causa agonia. Queria lê-lo, talvez, com a certeza de que me seria uma viagem
gratificante. Não encontrei, em meu círculo, ninguém que o conhecesse. Assim
fiquei, à distância.
Outro dia
venci o pudor. Comprei Contos do Nascer da Terra. São trinta e cinco contos que
dão a sensação de um lugar próximo e, ao mesmo tempo, desconhecido. Couto adora
mostrar palavras novas. É um português com vocábulos estranhos, filhos da
África portuguesa. Ele também inventa palavras novas: imensidava, insistonto, desvalente,
sofrências, desbicho, escaravelhota.
Para mim, há
frases que já nascem eternas nas falas de seus personagens: “mesmo para morrer
sofro de incompetências.” “Meus ouvidos esgravatando no vão escuro.” “Me
desisti, desvalente, desvalido.” “Sou homem abastecido de solidões.” Uma das
minhas preferidas: “Necessito de acontecimento de nascência, uma lucinação.
Careço de um lugar para esperar, sem tempo, sem mim.” “A memória do cajueiro me
fez crescer cheiro nos olhos.” Alguém lembrou de Manoel de Barros? Não é
coincidência, Couto é fã do poeta mato-grossense e lhe dedica um conto neste
livro.
Mia Couto me
trouxe a alegria da descoberta de paisagens que não navegara antes. Surpresas com
personagens longínquos como a idade da terra. Agora já sei para onde voltar
neste autor se, caso, eu o desconheça de novo.