A frase emblemática neste
filme é: Meus personagens não conseguem sair de Salas e eu nunca consegui
voltar. Salas é a cidade de nascimento do personagem Daniel Mantovani (Oscar
Martinez) que fez também Contos Selvagens, mas agora como personagem principal
no filme Cidadão Ilustre.
Mantovani saiu de sua
pequena cidade aos dezessete anos. Tornou-se um cidadão do mundo. Quarenta anos
depois ele é um escritor premiado com o Nobel, está em crise criativa e, em vez
de estar aproveitando os louros de tão grande realização, ele está deprimido.
Apesar da distinção que
imortaliza a obra de um artista, ele percebe o prêmio como uma declaração de
sua morte criativa. É o topo, daí para frente mais nada. Ele foi aceito, ele
foi cooptado pelo estamento que diz que esta obra é boa e aquela outra não
merece vencer.
O momento pós Nobel se
torna um frenesi de convites e prêmios secundários, festas, Feiras de
Internacionais de Livros, reconhecimento, ele recusa todos, pois é como se sua
vida tivesse sido sequestrada. Mas entre as cartas de convites diversos, ele
recebe uma de sua pequena de insignificante Salas. Recusa de imediato com um
riso que expressa o absurdo que seria ir a até aquele lugarejo para receber o
título de cidadão salense, inauguração de um busto e participar extensa
programação cultural.
Eis o mote do
roteiro que, de novo, dá de dez a zero no lixo filmográfico nacional que,
cevados pelas burras públicas, continuam sugando o dinheiro suado do
contribuinte para produzir irrelevâncias. O cinema nacional oscila entre o
humor sem criatividade, pastelão e os pretensos filmes políticos, para defender
posições de esquerda, e torná-lo mera propaganda das ridículas posições
políticas de seus atores e diretor, veja-se o descartável Aquarius com Sonia
Braga e trupe desqualificando o país nas amostras internacionais de que
participaram gritando “Fora Temer” como se fossem estudantes desajuizados. Um detalhe,
as viagens pagas com dinheiro público. Não é à toa que essa gente vive
defendendo cotas nas grades das redes de cinema e tv para os filmes nacionais,
ninguém quer ver, então eles se obrigam a serem vistos.
Num rompante,
Mantonvani decide aceitar o convite da Prefeitura salense. Fantasmas do passado
foram acordados e eles virão requerer seu direito de continuarem vivos. A
namorada que deixou para trás, amigos, gente que ele nem conhece, com suas
mentes prisioneiras de um jeito simplório de viver, com seus horizontes toscos,
transformarão a estadia do escritor num inferno.
Eles estavam e
pertenciam a dois mundos que não se tocavam. Um imerso num absurdo o outro vendo
a vida de uma maior amplitude. Mantovani se coloca como ele é e no que acredita,
mas, constrangido, negocia seus valores para se adequar aos primitivos
habitantes do lugar. É claro que esta receita não funciona. Ele jamais será
daquele lugar e eles, possivelmente, jamais conseguirão sair dali.
O filme é magistralmente
bem dirigido, os atores dão um show, a história muito bem contada e talvez nos
diga que reconhecer-se naquilo que se é, com pouquíssimas concessões, é nossa
forma de ser inteiros e viver uma vida mais livre, pois não nos cabe tornar os
outros no que somos e jamais aceitar nos mimetizar neles sem perder nossa
essência, se você a tiver.