domingo, 14 de dezembro de 2014

Pinheirinho de maconha



A Polícia Militar (PM) apreendeu um pé de maconha enfeitado para o Natal em Maringá, no norte do Paraná, nesta sexta-feira (8). A árvore estava bem adornada: tinha várias bolas coloridas, papais noéis pendurados e botinhas natalinas.

Fonte: Do G1 PR, em Maringá (08/12/2014)

Encostada num canto, havia perdido grande parte de seu esplendor sobre o qual o jornal havia relatado. Ela não podia mais suster-se de pé. Precisava ser encostada em algum lugar para que a foto pegasse seu perfil por inteiro. Não sei se tiraram as duas fotos, a de perfil e a de frente, prática típica da polícia americana. Talvez por uma atitude relapsa, também não colocaram a placa que o preso deve sustentar com seu nome e data do evento.
Arrancada literalmente de seu chão, jogada, possivelmente, num camburão, quem sabe com outros meliantes sujos e sem qualquer pudor. Devem tê-la bolinado, daí que foi perdendo seus adereços tão adequados à época natalina. Era como uma roupa de festa a fantasia. Algo parecido a uma duende ajudante do papai noel.
Magra e alta estava em seus verdes anos e era chamada por seu companheiro de convivência de Sativa – era o nome da família –, às vezes no diminutivo. Os truculentos policiais adoraram aparecer ao seu lado nestes programas que vendem violência, como se ela fosse um animal caçado cujo corpo era exposto para seus captores contarem vantagem. Ela estava longe de sua melhor fase. Esquálida, parecia muito desidratada. Tiveram a decência, se é que se pode dizer assim, de não algemá-la. Era triste porque passaria o Natal e ano novo no xilindró.
Por falar em companheiro, aquilo era um traste. É certo que cuidou dela quase desde sua infância, mas era um perdedor. Um sem futuro desajuizado. Verdade também que ela se sentira muito bem enfeitada para esta festa que toca tanto aos corações. Era seu primeiro Natal.  Nunca imaginou que as pessoas tomariam como um deboche, uma provocação. Jamais fora sua intenção causar qualquer mal estar a quem quer que seja. Achou até engraçado ser chamada de “pinheirinho”, embora sua aparência estivesse milhas distante da garbosidade e imponência de um pinheiro.
Foi tudo uma grande surpresa: participar da festa e saber que era uma fora da lei. Uma espécie de pária. Desconhecia o mundo e suas maldades. Sabia que sua família, em priscas eras, prestara bons serviços às pessoas. Isso contava sua avó que era benzedeira e fazedora de chás, unguentos para um sem número de coisas e ainda era artesã: confeccionava cordas e tecido.
Mas quem se importava com passado tão prestimoso? Não as forças de segurança que, como diz Mia Couto, só cumpre ignorâncias. Ela não sabia o paradeiro de seu antigo cuidador. Afinal, o que se pode esperar de um indivíduo que se declara, ao ser perguntado pela atividade profissional, assaltante de residências? Rompeu ela em pequeno discurso. Típica honestidade burra a dele. Quem diz isso de si? Logo ele, que não passava de um pé rapado do crime. Enfim, entre os presos se dizia que poderia pegar até 15 anos de cadeia. Achei muito, pois se fizera mal, foi manter-me em cárcere privado, coisa que agora não ligo nem um pouco. Tivemos alguns bons momentos. Não tenho síndrome de Estocolmo se querem saber. Sou caseira e como eu, agora sei, há muitas colegas minhas em igual situação. Só não gosto da fama ruim que ignorava totalmente. E um pode ser denegrido, sofrer preconceito por ser o que é? Taí que eu não sabia. Mas a vida é como é. Paciência. 
Meu destino aqui é uma incógnita. Mas certamente, eu sou a vítima. Aqui é o caso de inversão dos fatos. Dizem que meu antigo companheiro vive entorpecido pela convivência comigo e que tem larica, além de um tipo de “abestadismo”, o que explicaria sua vida vagabunda e de delitos. E eu com isso? Mas sou acusada de, sei lá, hipnotizá-lo ou coisa parecida. Vejam só o tipo de absurdo a que chegamos! Só falta o pessoal do petrolão alegar insanidade temporária para justificar o assalto que perpetraram.