domingo, 23 de janeiro de 2011

A gente briga, mas se ama mesmo assim

Uma pesquisa feita na Grã-Bretanha com 3 mil pessoas indicou que os casais brigam em média 312 vezes por ano - principalmente às quintas-feiras por volta das 20h, por dez minutos.
O levantamento, encomendado por um varejista online de artigos e peças para banheiros, sugeriu que a esmagadora maioria das brigas se origina de motivos banais, como deixar pelos na pia, entupir o ralo do chuveiro com cabelo e "surfar" entre canais de TV.

Fonte: BBC Brasil

Boa parte dos casais chegam a um ponto de acostumar-se um com o outro que ir ao banheiro de porta aberta não causa nenhum constrangimento. É, talvez, para muitos, a suprema intimidade. Tirar meleca do nariz, fazer bolinha e jogar em algum canto da sala enquanto assiste tv esparramado no sofá em trajes mínimos, é fichinha. Sentados no sofá, assistindo a algum filme, se bate a vontade de soltar um pum, o máximo que um homem faz é levantar a perna ligeiramente para liberá-lo e quem quiser que tape o nariz, a mulher no caso. Claro, ela abanará o ar de nariz tapado e o excomungará por falta de respeito, falta de vergonha e dirá que a mãe dele não lhe deu educação. Ele, que enfrentava a situação com riso debochado, injuria-se e então a sessão de cinema vai para o espaço.
A esta altura das coisas, cujo tempo depende de cada par, as brigas estão mais amiúde. Mais ainda quando os hormônios provocam erupções não só de espinhas, mas de humor, aí a coisa fica escalafobética. Aquele dia parecia tranquilo e até uns cheiros e bolinadas haviam acontecido entre um e outro. Era assim com eles até que chegou o pesquisador para perguntar quais eram as razões que os levavam a brigar. Diante da pergunta, riram. A gente não briga, disseram juntos e riram de novo pela coincidência. O pesquisador insistiu.
Digamos assim, ao longo de um mês, quantas vezes acontece?  Os dois ficaram pensativos. Acho que uma, disse ele. Às vezes nem uma, completou ela. Vocês são uma exceção, sabiam? Elogiou o pesquisador. É porque depende do mês, comentou ele despretensiosamente. Atiçou o pesquisador. Como assim? Sei lá, acho que tem meses que a tpm está mais forte. Disse e riu. Não pode acontecer no mesmo período da lua. Como é? Indagou ela, já com cara de maus bofes. Brincadeira, meu amor. Não, senhor, repete! Você disse que sou de lua e ainda falou mal de minha menstruação. O pesquisador tentou intervir. Ele não disse isso, eu entendi o que quis dizer. Então o que foi, seu gênio?
O pesquisador ficou embaraçado. Acho que ele quis dizer que... Ela cruzou os braços, desafiadora. Estou esperando. Bobagem, não vamos considerar esta resposta, ok? Não, agora eu quero esclarecer tudo. Diga você, meu amor, que não estou louca e nem tenho problema com minhas regras. Tem não, minha fofa, eu me equivoquei. Tá vendo, é isso que dá querer ser engraçadinho, você e este outro aí.
Vamos fazer o seguinte, disse o pesquisador. Encerramos a entrevista, passo ao casal seguinte e fingimos que nada aconteceu. Ah, agora você foge da situação, coitada de tua mulher. Mas nem sou casado. Da futura mulher, então. Eu e meu marido não servimos para sua pesquisa, é isso? Não foi o que quis dizer. Olha, você é muito enrolado e metido. Insinua coisas, faz meu marido dizer o que não quer e ainda quer sair assim, sem mais? Peço desculpas, tá bom?
É, meu bem, ele pede desculpas, disse o marido. Agora vamos terminar o que começamos. Eu não queria falar, mas você, meu amor, me obriga. Brigamos, sim. Quase todo dia. Ele solta pelos por toda casa. Mija em cima da tampa do vaso sanitário. É incapaz de juntar uma toalha molhada da cama. Assim não é possível. Faz para me irritar, eu sei. Anote tudo aí, ouviu? O pesquisador já não sabia o que fazer, caiu numa arapuca.
Então, é assim, agora você quer colocar nossos podres em praça pública? Nossos não, meu amor, seus. E você que parece que está ficando careca, enche o ralo de cabelo que quase causa um alagamento na casa? Demora horas pra se arrumar (e não adianta nada) e não sabe fazer um café que preste. Se sou assim tão imprestável – já entre lágrimas –, por que é que você ainda está comigo? Não sei, talvez não queira trocar seis por meia dúzia, vocês são todas iguais.
O pesquisador anotava e ria. Os dois perceberam que ele se divertia com a briga deles. Voltaram-se para ele e o enxotaram. Ela com uma velha frigideira que servia de aparador de água de uma planta e ele com a colher de pau que jazia sobre a mesa. O coitado disparou em desabalada carreira. Os dois continuaram sua querela. Você não sabe nem apertar um tubo de pasta. E você é um sujão que não aprendeu a limpar a própria bunda...