domingo, 19 de fevereiro de 2012

Dasdô tem samba no pé


Dasdô sempre sonhara em ser destaque num daqueles carros alegóricos cheios de brilho, cores e o baticum explodindo como se fosse um foguete na decolagem. Ia aos ensaios de várias escolas e lá enquanto sambava, imaginava tudo aquilo que era apenas sonho. Tinha samba no pé, nascera sambando, por bem dizer, não fazia de conta como aquelas ultragostosas que fingem sambar, mas na verdade só mostram as toneladas de silicone sacolejantes montadas nas partes mais improváveis.
Este é o problema: a mulher gostosa de hoje é uma criatura fabricada, esculpida a cirurgias e musculação bruta como quem treina para ganhar a vida desatolando caminhão. A coisa começa no implante de cabelo e vai até as unhas postiças do pé. No final das contas, não se tem uma mulher de verdade, tem-se algo próximo de uma boneca inflável torneada e com vida própria tanto é o plástico instalado.
Dasdô estava longe disso. Era pobre de marré e não consta que montar uma mulher gostosa padrão seja algo barato. Não sabiam? O negócio funciona como quem compra um carro. O modelo básico inclui peitos de baixa siliconagem, um botox no entre sobrancelha e pronto. Daí para diante o céu é o limite com os acessórios que se podem colocar. Mas, colocado tudo em quanto, se a dita ainda tiver alguns trocados – não poucos trocados, aviso, hein – pode-se tunar a mulher.
Explico o tunar para os menos desavisados. Aportuguesou-se o termo inglês tuning que, segundo o tradutor do Google, significa afinação, sintonização, ato de afinar. Bom, os carros ficam mais exagerados, coloridos, motores potentes e não sei onde está a afinação disso. As mulheres tunadas ganham coxas descomunais, peitos duros como pedra, nem me perguntem das bundas que são alguma coisa para lá de extravagante. Saltam do nada como se fossem airbags para acidente de avião. As passarelas do samba este ano estarão cheias de bundas maiores que as ancas da mula preta, aquela que tinha sete palmos de altura da antiga  música sertaneja. Não lembram e nem conhecem, não é? Pois que procurem na internete, bando de ignorantes.
Faço uma pequena explicação. Uso o termo “gostosa” porque me falta criatividade para outra coisa. Mas este tipo de mulher é mais para ver do que usar. Sim, porque toda aquela coisa de suavidade e delicadeza, maciez e curvas vão para as cucuias e o que se tem é algo como um cruzamento do Schwarzenegger com o Rambo.
Desandei a falar das mulheres artificiais e esqueci a pobre Dasdô. Ela é uma mulher fornida e em outros tempos teria lá seus atrativos, apesar de seu olhar estrábico com pouquíssimo charme – há quem goste de um estrabismo, gente! Também sobe morro, desce morro, mesmo que não carregue a lata d’água na cabeça, tinha que dar em alguma coisa. É uma mulher carnuda e ainda que as modelos plus size estejam na moda, Dasdô ainda não se encaixa neste tipo porque lhe falta, digamos, um pouco de graça.
Este ano a coisa foi mais cruel porque estava escalada para ser a destaque das Feias Como Quê em São Luís, mas uma ainda mais feia a desqualificou. Quer dizer, Dasdô perdeu para um estrupício pior do que ela na única vez em que valia a pena sê-lo. De qualquer modo, resolveu sair num desses blocos de homens vestidos de mulher. Pois eis que já no primeiro desfile, Dasdô arrazou com seu modelito que, na prática era usar quase nada. Uma purpurina, dois pitós grandes com fitas vermelhas e um batom em seu beiço avantajado que nem a mais gorda injeção de colágeno é capaz de fazer.
Dasdô, para atrair, teve que se fingir de homem que se veste de mulher. Uma ironia porque em tempo de ministras lésbicas  e abortistas profissionais ela, sem esforço ou ideologia, conseguiu ser azarada por muita baratinha que, claro, a confundiram com um robusto ajudante de pedreiro ou estivador mais afortunado que pode no carnaval ser tudo que quiser e ainda por cima aparentar ser promessa para alguma coisa.