Dasdô sempre sonhara em ser
destaque num daqueles carros alegóricos cheios de brilho, cores e o baticum
explodindo como se fosse um foguete na decolagem. Ia aos ensaios de várias
escolas e lá enquanto sambava, imaginava tudo aquilo que era apenas sonho.
Tinha samba no pé, nascera sambando, por bem dizer, não fazia de conta como
aquelas ultragostosas que fingem sambar, mas na verdade só mostram as toneladas
de silicone sacolejantes montadas nas partes mais improváveis.
Este é o problema: a mulher
gostosa de hoje é uma criatura fabricada, esculpida a cirurgias e musculação
bruta como quem treina para ganhar a vida desatolando caminhão. A coisa começa
no implante de cabelo e vai até as unhas postiças do pé. No final das contas,
não se tem uma mulher de verdade, tem-se algo próximo de uma boneca inflável
torneada e com vida própria tanto é o plástico instalado.
Dasdô estava longe disso. Era
pobre de marré e não consta que montar uma mulher gostosa padrão seja algo
barato. Não sabiam? O negócio funciona como quem compra um carro. O modelo
básico inclui peitos de baixa siliconagem, um botox no entre sobrancelha e
pronto. Daí para diante o céu é o limite com os acessórios que se podem
colocar. Mas, colocado tudo em quanto, se a dita ainda tiver alguns trocados –
não poucos trocados, aviso, hein – pode-se tunar a mulher.
Explico o tunar
para os menos desavisados. Aportuguesou-se o termo inglês tuning que, segundo o tradutor do Google, significa afinação, sintonização,
ato de afinar. Bom, os carros ficam mais exagerados, coloridos, motores
potentes e não sei onde está a afinação disso. As mulheres tunadas ganham coxas
descomunais, peitos duros como pedra, nem me perguntem das bundas que são
alguma coisa para lá de extravagante. Saltam do nada como se fossem airbags
para acidente de avião. As passarelas do samba este ano estarão cheias de
bundas maiores que as ancas da mula preta, aquela que tinha sete palmos de
altura da antiga música sertaneja. Não
lembram e nem conhecem, não é? Pois que procurem na internete, bando de
ignorantes.
Faço uma pequena explicação. Uso
o termo “gostosa” porque me falta criatividade para outra coisa. Mas este tipo
de mulher é mais para ver do que usar. Sim, porque toda aquela coisa de
suavidade e delicadeza, maciez e curvas vão para as cucuias e o que se tem é
algo como um cruzamento do Schwarzenegger
com o Rambo.
Desandei a falar das mulheres
artificiais e esqueci a pobre Dasdô. Ela é uma mulher fornida e em outros
tempos teria lá seus atrativos, apesar de seu olhar estrábico com pouquíssimo
charme – há quem goste de um estrabismo, gente! Também sobe morro, desce morro,
mesmo que não carregue a lata d’água na cabeça, tinha que dar em alguma coisa.
É uma mulher carnuda e ainda que as modelos plus size estejam na moda, Dasdô
ainda não se encaixa neste tipo porque lhe falta, digamos, um pouco de graça.
Este ano a coisa foi mais cruel
porque estava escalada para ser a destaque das Feias Como Quê em São Luís, mas
uma ainda mais feia a desqualificou. Quer dizer, Dasdô perdeu para um
estrupício pior do que ela na única vez em que valia a pena sê-lo. De qualquer
modo, resolveu sair num desses blocos de homens vestidos de mulher. Pois eis
que já no primeiro desfile, Dasdô arrazou com seu modelito que, na prática era
usar quase nada. Uma purpurina, dois pitós grandes com fitas vermelhas e um
batom em seu beiço avantajado que nem a mais gorda injeção de colágeno é capaz
de fazer.
Dasdô, para atrair, teve que se
fingir de homem que se veste de mulher. Uma ironia porque em tempo de ministras
lésbicas e abortistas profissionais ela,
sem esforço ou ideologia, conseguiu ser azarada por muita baratinha que, claro,
a confundiram com um robusto ajudante de pedreiro ou estivador mais afortunado
que pode no carnaval ser tudo que quiser e ainda por cima aparentar ser
promessa para alguma coisa.