Esta é uma época em que uma forma particularmente agressiva e danosa de
ver o mundo tem aproveitado a liberdade propiciada pela democracia ocidental
para impor todo tipo de limitação às pessoas. Esta filosofia – chamo-a assim
por falta de termo melhor –, a do politicamente correto, tornou-se verdadeira
praga e jura que só defende direitos de minorias, mas como um cavalo de tróia
também arquiteta comportamentos, fabrica falas e novas palavras eufemísticas,
determina os assuntos que se pode falar e os novos tabus, engendra leis,
modifica as relações humanas e torna a vida um cárcere de limites escorchantes
à liberdade de qualquer um que discorde de seus valores que, quase sempre, são
patrocinados por partidos políticos e ongs, alguns destes com existência e
objetivos escusos.
Ora, é do jogo democrático a disputa de
opiniões divergentes, mas os partidários do politicamente correto não podem
suportar a contradição. O espírito que lhes contradiz e que moldou nossa
sociedade até agora se encontra nas palavras do iluminista Voltaire: “Posso não
concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte
o direito de você dizê-las.” Não à toa está em curso no país o debate do
controle social das mídias que, traduzido do idioma da esquerda celerada
petista, significa calar a boca de todos quantos discordam de suas opiniões.
Ainda não prosperou, sejamos vigilantes.
Feita esta introdução, vamos aos fatos.
O pastor Silas Malafaia é bastante conhecido entre os evangélicos e tornou-se,
nos últimos anos, personagem pública reconhecida por sua prática pastoral na tv
e por opiniões viscerais sobre vários temas. Sua última entrevista à Marília
Gabriela bateu recorde de visualizações no Youtube. Além de pastor, Silas é
formado em psicologia – aqui volto ao tema desta coluna, leitores. Uma das suas
principais posturas diz respeito ao movimento gay brasileiro, particularmente
àquele político militante que tem no PT um de seus grandes aliados.
Uma representação do site americano
Avaaz no Brasil, supostamente dedicado a dar voz à sociedade através de abaixo
assinados, sob forte influência do PT – é dirigido por um de seus servidores –,
produziu uma lista (dia 8 deste mês) de assinaturas para cassar a licença do
exercício da psicologia pelo pastor Silas Malafaia. A motivação se deu por suas
opiniões quanto à recuperação – cura, se quiserem – de homossexuais por meio de
tratamentos psicoterápicos e religiosos.
A proposta, em si, é estapafúrdia, pois
somente o Conselho Federal de Psicologia, mediante processo legal e por razões
devidamente provadas e com amplo direito à defesa e ao contraditório, pode
cassar a licença do exercício profissional de um psicólogo. Mas, considerando
que qualquer um tem o direito de falar a asneira que queira e a internete é o
paraíso do idiotas, admita-se a lista.
Como o site é, em tese, público, o Sr.
Ricardo Rocha criou uma petição contrária à cassação no dia 9 deste mês. Semana
passada, o placar estava em 65.786 favoráveis à manutenção do registro de
Malafaia contra 55.000 dos a favor. Naufragada a porca artimanha do gayzismo
militante e de seus apoiadores em seu próprio jogo, eis que o site, numa
atitude assombrosa, notificou o Sr. Rocha em carta oficial alegando que sua
petição seria retirada do site por não atender à missão que dizem realizar e,
pasmem leitores, por voto(?) de seus organizadores. Supostamente, haveria um
conselho de vestais que diz o que pode ser defendido e o que não pode no tal
site.
Eis uma manobra vil, mentirosa e espúria
que merece de todo cidadão consciente repúdio incondicional. É o que faço aqui.
Não tenho mandato do pastor Malafaia para defendê-lo. De fato, discordo
frontalmente de muitas de suas posições, inclusive, quanto a particularidades
de suas opiniões sobre o tratamento dos homossexuais. Entretanto, o pedido de
impedimento de seu registro profissional se baseia numa Resolução CFP Nº 1 de
22 de março de 1999 que não foi devidamente questionada pela classe de
psicólogos e atenta contra a liberdade de qualquer um buscar ajuda à sua dor,
sua inconsistência, seu desencontro, ainda que esta seja a homossexualidade.
Atenta contra a relação entre terapeuta e cliente. Não avança no debate como
seus idealizadores defendem e impõe uma camisa de força ao exercício
profissional cuja quebra ou até a simples discordância implica em ameaças e
punições graves, já sofridas por diversos psicólogos Brasil afora.
Ainda, por ser uma afronta sobre vários
aspectos ao bom exercício da prática psicológica, a petição que pede a cassação
do registro do psicólogo Malafaia se baseia na Resolução que, por sua vez, se
refere a posturas e opiniões no exercício da profissão, o que, nem de longe,
Malafaia fez, pois tem se manifestado na qualidade de religioso e em foros
diferentes do setting terapêutico ou da academia.
A retirada da petição favorável ao
pastor é mais uma das estratégias das forças do atraso, pois de seus contrários
só admitem o silêncio, à força, se preciso. Assemelha-se ao caso Yoani Sánchez.
As forças obscuras da intolerância protagonizaram um espetáculo triste e mal
educado, sob o patrocínio do governo e seus asseclas, partidecos
insignificantes e políticos que representam o que há de mais atrasado em ideias
e relações humanas, impondo uma humilhação pública à blogueira cubana em visita
ao país, cuja principal força são suas palavras contra um regime carcomido,
opressor, nefasto e apoiado pelo atual governo petista sem aval do povo
brasileiro.
O
Brasil tem leis, é regido por elas e pela forma de organização do Estado.
Petições, abaixo assinados ou assemelhados, desta forma, tem apenas o condão de
achincalhar a honra e denegrir a moral dos que são alvo delas. Não podem, sob
nenhuma hipótese, substituir os canais apropriados e legais para qualquer um
requerer direitos ou reclamar suas queixas. Nenhum cidadão brasileiro pode ser
submetido a qualquer penalidade senão em virtude do que é previsto em lei, essa
é a máxima do Direito Penal. E pelo grito de uma meia dúzia, nunca.