terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Não à cassação do registro de psicólogo do pastor Silas Malafaia


Esta é uma época em que uma forma particularmente agressiva e danosa de ver o mundo tem aproveitado a liberdade propiciada pela democracia ocidental para impor todo tipo de limitação às pessoas. Esta filosofia – chamo-a assim por falta de termo melhor –, a do politicamente correto, tornou-se verdadeira praga e jura que só defende direitos de minorias, mas como um cavalo de tróia também arquiteta comportamentos, fabrica falas e novas palavras eufemísticas, determina os assuntos que se pode falar e os novos tabus, engendra leis, modifica as relações humanas e torna a vida um cárcere de limites escorchantes à liberdade de qualquer um que discorde de seus valores que, quase sempre, são patrocinados por partidos políticos e ongs, alguns destes com existência e objetivos escusos.
        Ora, é do jogo democrático a disputa de opiniões divergentes, mas os partidários do politicamente correto não podem suportar a contradição. O espírito que lhes contradiz e que moldou nossa sociedade até agora se encontra nas palavras do iluminista Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.” Não à toa está em curso no país o debate do controle social das mídias que, traduzido do idioma da esquerda celerada petista, significa calar a boca de todos quantos discordam de suas opiniões. Ainda não prosperou, sejamos vigilantes.
        Feita esta introdução, vamos aos fatos. O pastor Silas Malafaia é bastante conhecido entre os evangélicos e tornou-se, nos últimos anos, personagem pública reconhecida por sua prática pastoral na tv e por opiniões viscerais sobre vários temas. Sua última entrevista à Marília Gabriela bateu recorde de visualizações no Youtube. Além de pastor, Silas é formado em psicologia – aqui volto ao tema desta coluna, leitores. Uma das suas principais posturas diz respeito ao movimento gay brasileiro, particularmente àquele político militante que tem no PT um de seus grandes aliados.
        Uma representação do site americano Avaaz no Brasil, supostamente dedicado a dar voz à sociedade através de abaixo assinados, sob forte influência do PT – é dirigido por um de seus servidores –, produziu uma lista (dia 8 deste mês) de assinaturas para cassar a licença do exercício da psicologia pelo pastor Silas Malafaia. A motivação se deu por suas opiniões quanto à recuperação – cura, se quiserem – de homossexuais por meio de tratamentos psicoterápicos e religiosos.
        A proposta, em si, é estapafúrdia, pois somente o Conselho Federal de Psicologia, mediante processo legal e por razões devidamente provadas e com amplo direito à defesa e ao contraditório, pode cassar a licença do exercício profissional de um psicólogo. Mas, considerando que qualquer um tem o direito de falar a asneira que queira e a internete é o paraíso do idiotas, admita-se a lista.
        Como o site é, em tese, público, o Sr. Ricardo Rocha criou uma petição contrária à cassação no dia 9 deste mês. Semana passada, o placar estava em 65.786 favoráveis à manutenção do registro de Malafaia contra 55.000 dos a favor. Naufragada a porca artimanha do gayzismo militante e de seus apoiadores em seu próprio jogo, eis que o site, numa atitude assombrosa, notificou o Sr. Rocha em carta oficial alegando que sua petição seria retirada do site por não atender à missão que dizem realizar e, pasmem leitores, por voto(?) de seus organizadores. Supostamente, haveria um conselho de vestais que diz o que pode ser defendido e o que não pode no tal site.
        Eis uma manobra vil, mentirosa e espúria que merece de todo cidadão consciente repúdio incondicional. É o que faço aqui. Não tenho mandato do pastor Malafaia para defendê-lo. De fato, discordo frontalmente de muitas de suas posições, inclusive, quanto a particularidades de suas opiniões sobre o tratamento dos homossexuais. Entretanto, o pedido de impedimento de seu registro profissional se baseia numa Resolução CFP Nº 1 de 22 de março de 1999 que não foi devidamente questionada pela classe de psicólogos e atenta contra a liberdade de qualquer um buscar ajuda à sua dor, sua inconsistência, seu desencontro, ainda que esta seja a homossexualidade. Atenta contra a relação entre terapeuta e cliente. Não avança no debate como seus idealizadores defendem e impõe uma camisa de força ao exercício profissional cuja quebra ou até a simples discordância implica em ameaças e punições graves, já sofridas por diversos psicólogos Brasil afora.
        Ainda, por ser uma afronta sobre vários aspectos ao bom exercício da prática psicológica, a petição que pede a cassação do registro do psicólogo Malafaia se baseia na Resolução que, por sua vez, se refere a posturas e opiniões no exercício da profissão, o que, nem de longe, Malafaia fez, pois tem se manifestado na qualidade de religioso e em foros diferentes do setting terapêutico ou da academia.
        A retirada da petição favorável ao pastor é mais uma das estratégias das forças do atraso, pois de seus contrários só admitem o silêncio, à força, se preciso. Assemelha-se ao caso Yoani Sánchez. As forças obscuras da intolerância protagonizaram um espetáculo triste e mal educado, sob o patrocínio do governo e seus asseclas, partidecos insignificantes e políticos que representam o que há de mais atrasado em ideias e relações humanas, impondo uma humilhação pública à blogueira cubana em visita ao país, cuja principal força são suas palavras contra um regime carcomido, opressor, nefasto e apoiado pelo atual governo petista sem aval do povo brasileiro.
        O Brasil tem leis, é regido por elas e pela forma de organização do Estado. Petições, abaixo assinados ou assemelhados, desta forma, tem apenas o condão de achincalhar a honra e denegrir a moral dos que são alvo delas. Não podem, sob nenhuma hipótese, substituir os canais apropriados e legais para qualquer um requerer direitos ou reclamar suas queixas. Nenhum cidadão brasileiro pode ser submetido a qualquer penalidade senão em virtude do que é previsto em lei, essa é a máxima do Direito Penal. E pelo grito de uma meia dúzia, nunca. 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A praga dos sem noção


Uma consultoria de recursos humanos dos Estados Unidos listou as piores perguntas que os gerentes de recursos humanos ouviram de candidatos a uma vaga durante as entrevistas de emprego. A pesquisa da Office Team, com sede na Califórnia, ouviu 650 gerentes de RH de empresas dos Estados Unidos e Canadá.

Fonte: G1 São Paulo (23/02/2013)

Gente sem noção é uma praga. Aposto que você está lembrando aquele amigo destrambelhado que vive aprontando e ainda se acha vítima da incompreensão alheia. Os sem noção estão entranhados nas mais diversas áreas da vida. Vivem à espreita e quando você menos espera, eles surgem e aprontam das suas.
Na escola ou faculdade eles pululam como enxames de mosquitos. O professor passa um trabalho, o sujeito (a) não contribui, falta e alega – quando o faz – razões como matar a avó –; às vezes esquecem e matam a pobre senhora várias vezes e ainda brigam se a nota não foi lá grande coisa. O cunhado que se abanca em sua casa, senta no seu lugar preferido, come seu iogurte activia, cutuca os pés na sala, até coça lá você sabe onde e isso tudo sem lavar as mãos.
Mas este espécime só vinga e se reproduz na nulidade de nosso constrangimento para confrontá-los e dar-lhes o que merecem. Ficamos cheios de não-me-toques porque usar nossa velha cara de pau custa energia e a tendência do ser humano é de conservá-la, fazer o caminho mais fácil e deixar para lá. Nada a ver com a lei física da conservação de energia que diz que a mesma não pode ser criada ou destruída, ela se transforma. A lei da conservação de energia no comportamento humano é mesmo preguiça, desleixo e cara dura.
        Uma instituição americana listou um monte de frases inacreditáveis dos sem noção quando, sabe-se lá porque razão, eles se candidataram a empregos. A mais original, para mim, e a definição acabada, o estado da arte de um verdadeiro sem noção é esta: “Eu tenho mesmo que vir trabalhar todos os dias?”. Desafio os leitores a criarem respostas adequadas a este primor de indagação. Em segundo neste ranking de maluquices tem aquele que questiona seu entrevistador: “O que é esse trabalho?” Como assim?
        Outra frase abusada é esta aqui: “Posso colocar minha mesa perto do cafezinho?”. Vejam com que candidez esta criatura pergunta algo, sem dúvida, altamente relevante para seu papel na empresa. Alerto aos leitores que as perguntas foram feitas quando estes seres ainda não estavam confirmados no trabalho. Era a primeira entrevista.
        Criativos como são – dizem que mente vazia... – eles superam uns aos outros com inesgotável cornucópia de aberrações. “Posso ter um adiantamento de salário?”. Vejam que o indivíduo nem sequer esquentou a cadeira de entrevistando. Uma zinha, em dificuldades, mostra seu QI com a singela pergunta: “Meu marido pode terminar este teste pra mim?”
        Nesta área da vida, há até classificação dos sem noção. Os que fazem as perguntas sem noção propriamente ditas. Não sabem nem o que estão fazendo lá. Uns passam cantadas no entrevistador (a). São os românticos. No meio da entrevista, tascam: “Gostaria de sair comigo?”
Os folgados tem o gene chamado “sem noção” no cromossomo “28”. É uma categoria que deveria procurar emprego como palhaços, só rindo. “Posso folgar todas as terças-feiras?”. Eu gostaria de saber a explicação para esta peculiaridade. E esta de fazer cair da cadeira: "Posso ter três semanas de folga a cada três meses para cuidar da minha carreira musical?" Claro que pode, traga sua banda para ensaiar aqui no escritório. Que tal?
Suspeito que eles fazem tudo isso de caso pensado. Sabem que chocarão e que causarão estranheza e, claro,  não serão admitidos, o que manterá sua razão e justificativa de que não conseguem nada porque são uns incompreendidos, estão acima da média e seu lugar ainda está por ser construído.
Então você já sabe. Na próxima vez que encontrar um sem noção, não importa em que circunstância, trate-o sem pena e sem dó. Vale reproduzir o slogan de uma campanha do governo Vargas e atribuída a várias pessoas, de Auguste Saint-Hilaire, um naturalista francês, a Monteiro Lobato: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil.” Coloque no lugar da saúva a expressão “sem noção”.