segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A praga dos sem noção


Uma consultoria de recursos humanos dos Estados Unidos listou as piores perguntas que os gerentes de recursos humanos ouviram de candidatos a uma vaga durante as entrevistas de emprego. A pesquisa da Office Team, com sede na Califórnia, ouviu 650 gerentes de RH de empresas dos Estados Unidos e Canadá.

Fonte: G1 São Paulo (23/02/2013)

Gente sem noção é uma praga. Aposto que você está lembrando aquele amigo destrambelhado que vive aprontando e ainda se acha vítima da incompreensão alheia. Os sem noção estão entranhados nas mais diversas áreas da vida. Vivem à espreita e quando você menos espera, eles surgem e aprontam das suas.
Na escola ou faculdade eles pululam como enxames de mosquitos. O professor passa um trabalho, o sujeito (a) não contribui, falta e alega – quando o faz – razões como matar a avó –; às vezes esquecem e matam a pobre senhora várias vezes e ainda brigam se a nota não foi lá grande coisa. O cunhado que se abanca em sua casa, senta no seu lugar preferido, come seu iogurte activia, cutuca os pés na sala, até coça lá você sabe onde e isso tudo sem lavar as mãos.
Mas este espécime só vinga e se reproduz na nulidade de nosso constrangimento para confrontá-los e dar-lhes o que merecem. Ficamos cheios de não-me-toques porque usar nossa velha cara de pau custa energia e a tendência do ser humano é de conservá-la, fazer o caminho mais fácil e deixar para lá. Nada a ver com a lei física da conservação de energia que diz que a mesma não pode ser criada ou destruída, ela se transforma. A lei da conservação de energia no comportamento humano é mesmo preguiça, desleixo e cara dura.
        Uma instituição americana listou um monte de frases inacreditáveis dos sem noção quando, sabe-se lá porque razão, eles se candidataram a empregos. A mais original, para mim, e a definição acabada, o estado da arte de um verdadeiro sem noção é esta: “Eu tenho mesmo que vir trabalhar todos os dias?”. Desafio os leitores a criarem respostas adequadas a este primor de indagação. Em segundo neste ranking de maluquices tem aquele que questiona seu entrevistador: “O que é esse trabalho?” Como assim?
        Outra frase abusada é esta aqui: “Posso colocar minha mesa perto do cafezinho?”. Vejam com que candidez esta criatura pergunta algo, sem dúvida, altamente relevante para seu papel na empresa. Alerto aos leitores que as perguntas foram feitas quando estes seres ainda não estavam confirmados no trabalho. Era a primeira entrevista.
        Criativos como são – dizem que mente vazia... – eles superam uns aos outros com inesgotável cornucópia de aberrações. “Posso ter um adiantamento de salário?”. Vejam que o indivíduo nem sequer esquentou a cadeira de entrevistando. Uma zinha, em dificuldades, mostra seu QI com a singela pergunta: “Meu marido pode terminar este teste pra mim?”
        Nesta área da vida, há até classificação dos sem noção. Os que fazem as perguntas sem noção propriamente ditas. Não sabem nem o que estão fazendo lá. Uns passam cantadas no entrevistador (a). São os românticos. No meio da entrevista, tascam: “Gostaria de sair comigo?”
Os folgados tem o gene chamado “sem noção” no cromossomo “28”. É uma categoria que deveria procurar emprego como palhaços, só rindo. “Posso folgar todas as terças-feiras?”. Eu gostaria de saber a explicação para esta peculiaridade. E esta de fazer cair da cadeira: "Posso ter três semanas de folga a cada três meses para cuidar da minha carreira musical?" Claro que pode, traga sua banda para ensaiar aqui no escritório. Que tal?
Suspeito que eles fazem tudo isso de caso pensado. Sabem que chocarão e que causarão estranheza e, claro,  não serão admitidos, o que manterá sua razão e justificativa de que não conseguem nada porque são uns incompreendidos, estão acima da média e seu lugar ainda está por ser construído.
Então você já sabe. Na próxima vez que encontrar um sem noção, não importa em que circunstância, trate-o sem pena e sem dó. Vale reproduzir o slogan de uma campanha do governo Vargas e atribuída a várias pessoas, de Auguste Saint-Hilaire, um naturalista francês, a Monteiro Lobato: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil.” Coloque no lugar da saúva a expressão “sem noção”.

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