domingo, 23 de novembro de 2014

Tigrão, Eucalipto e Melancia



A Polícia Federal tem aproveitado depoimentos de executivos presos durante a Operação Lava Jato para colher informações sobre três personagens ainda desconhecidos: "Tigrão", "Eucalipto" e "Melancia".

Fonte: DE BRASÍLIA Folha de São Paulo  (21/11/2014)

As notícias se avolumavam com a enxurrada de dados, contas e cifras que já totalizavam a casa dos bilhões. Mesmo para um país acostumado à corrupção, como parte de uma segunda natureza, aquilo sobrepassava qualquer estatística: era uma escala jamais vista. As relações entre os membros participantes eram cúbicas, não em linha ou em teia, isso era para mensalões chinfrins, jardins de infância da ladroagem pública.
Como tudo ali era superlativo, a deduragem - chamada pomposamente de delação premiada - foi elevada a outra categoria. Havia até certa dignidade no feito como se, de repente, os bandidos tivessem sido engolfados por sentimentos de arrependimento, embora, como era público, era puro medo da quarentena de anos na prisão. Muitos tomaram a iniciativa de devolver parte do roubado. Não se crê que fosse tudo, pois ainda precisavam manter certo nível de vida que davam à família, às amantes, a si mesmos, mal acostumados que ficaram por anos comendo nos melhores restaurantes, morando nos melhores bairros e condomínios.
Havia certo atordoamento naqueles que acompanhavam o desenrolar dos fatos que paria novidades todos os dias. O que estranhava sobremaneira é que havia centenas de membros, mas o monstro era um bicho sem cabeça. Um fenômeno, sem dúvida. Era como se fosse uma ameba voraz num nicho ecológico, vivendo no topo da cadeia alimentar, mas desprovida de um cérebro organizador, atilado, finório, que lhe desse toda aquela habilidade.
A omertá, tão grave em outros tempos entre mafiosos de cepa e assemelhados, aqui perdeu completamente a aura. Nisso eles se comparavam aos reles batedores de carteira que ao menor aperto, desandam a falar até o que não lhe perguntam. Havia fila para os depoimentos. Desenrolar as intricadas redes e indústria dos pagamentos não contabilizados, como gosta o pt, era um aprendizado inacreditável da arte e engenhosidade quando se trata de roubar o dinheiro público. Tudo era em proporções cornucópicas. Qualquer pé de chinelo da organização tinha milhões em bancos estrangeiros e, às vezes, ousadia, nos bancos do país. Os nomes dos membros da hidra cobriam uma lista que ia de A a Z. Para o juiz e investigadores ficava a desconfiança, mas e os mandantes? Era uma organização zambaia, aquela? Havia corruptos, corruptores, mas quem mandava?
Então, três nomes apareceram. Era estupefaciente pelo inusitado e pelo humor involuntário que estes nomes produziram. Eis a alma de um país. Como eles não perceberam antes? Num depoimento, o primeiro bandido a falar hesitou, tamborilou os dedos nervosos, o juiz pressionou e ele: que se dane. O mandante era o tigrão. Tigrão???!! Era tudo que ele sabia. Apenas acrescentou: não é o amigo do ursinho Puff. Um executivo de grande construtora, dois dias depois, contorceu-se na cadeira de medo. Deixou escapar a frase: “seu eucalipto mandou”. Eucalipto??? Quem era o Eucalipto? Não sabia dizer. 
Um representante de um partido, apelidado de baiano, mas cujo partido representado agora o excomungava como a um diabo velho pego em falta, atrapalhou-se e deixou escapar que certo “melancia” mandava e desmandava em tudo, que dava orientação sobre quanto arrecadar, onde depositar. Petrificados, embasbacados, juiz e policiais se perguntavam: havia uma tríade – a maléfica trindade –, era o nome multifacetado de um ladrão genial? Eis o maior mistério de todos ainda por desvendar.