Você precisa, mais do que tudo na vida, ter a alma
de Rodrigo Santoro preso em um
pote de vidro? Ou quem sabe a alma da Jennifer
Lopez? Seus problemas acabaram. A artista gráfica Molly Gates está vendendo potes
de vidro que contêm, de acordo com ela, almas.
Fonte: UOL Tablóide (18/06/2014)
Já se vendeu
ar engarrafado. Houve tempo em que se ia a certos bares/discotecas para inalar
O2 e muitos diziam que até sentiam um barato. Agora mesmo na copa,
há quem tenha enlatado o ar das sedes para vender como souvenir. As latas são
iguais às de sardinha com bonita estampa e o nome da cidade sede e, garante o
espertinho fabricante, na composição é possível sentir aroma de samba, mato da
Amazônia, flato do Cristo Redentor, corrupção nas obras e arenas, além de
coisas indizíveis.
Na China, que
nunca fica atrás em nada, faz tempo que para se ter ar respirável, só
comprando. Garrafas customizadas podem ser adquiridas por modesta quantia. Em
alguns casos, se o freguês desejar, vendem narizes fresquinhos de executados e
ainda em bom estado. Por pequeno extra, dão garantia de origem e quilometragem
das cheiradas.
Mas esqueçam-se
destas bobagens! Molly, que se autodenomina artista gráfica, elevou esta
história de engarrafar ou enlatar coisas ao paroxismo. Ela prende em potes de
vidro – do tipo que se coloca palmito – a alma de qualquer um. À venda em sua
loja especializada, estão disponíveis vários tipos, de Beyoncé a Justin Bieber.
Duvido que eles saibam que andam por aí sem alma. E duvido que a engarrafadora
tenha a alma de um Zé pra venda.
Perguntar a
Dona Molly para que, exatamente, alguém quereria a alma ensebada de uma
celebridade, ela desconversa. Mas fiquei cá me perguntando o que fazer com a
alma alheia. Não serve para transfusão, pois ainda não se sabe os fatores Rhs
das ditas. Nem é possível reciclá-la. Cheirar não dá, porque é inodora. De
repente serve para ser lançada ao mar como uma mensagem para o além. Na tampa,
Dona Molly adverte para não soltar a alma. Dizeres sugerem que pode ocorrer
algo parecido à hecatombe provocada por aquela menina Pandora. Mas não existem
provas cabais a respeito.
A ceifadora de
almas esconde a sete chaves a técnica de como se captura uma alma. As más
línguas dizem que usa um canudinho desenvolvido especialmente para este fim,
digamos, sugador. Como a vítima não percebe que ficou desalmada é outro
mistério e ainda não se registrou efeitos colaterais da desalmação. Suspeito
que certa idiotia se instale tanto mais tempo a pessoa fique sem a alma.
Desconfio, por
outro lado, que alguém tenha desenvolvido técnica ainda mais sofisticada. Quem
sabe um tipo de aspirador de almas. Assim, é possível prender montes delas por
atacado em algum tipo de tambor com nitrogênio líquido, vai-se saber. Como sei
disso? Os detalhes aqui ditos são invenções minhas, mas a julgar pela idiotia
reinante – não que madame Molly tenha dado qualquer pista, pois, como diz, é só
uma diletante da arte, não uma expert científica – um começa a imaginar que tem
muita casca oca zanzando por aí, logo, suas almas foram sugadas.
Alma dá o
recheio. Emprega cor, sabor, intensidade aos seus possuidores. O alumbramento
com o bater de asas de uma borboleta, de uma manhã que se esgueira por entre
árvores. A emoção ao ver os raios de sol que, projetados num fim de tarde, são
como dedos acenando uma despedida. A alma vê estas coisas. Ela confere um tipo
de sentido e inteligência que se alegra e se delicia com a verdade. Celebra a
justiça. Reconhece a maravilha e a pequenez de si mesmo. Expressa e reage ao
amor.
Uma alma
cresce, amadurece, fica sábia. Os sem alma cambaleiam, tateiam vida por entre
suas ações e reações instintivas. São fanáticos. Empedrados. Emburrecem.
Celebram a mediocridade, pois se tornam incapazes de juntar pontos para fazer
sentido no que veem, ouvem ou, pior ainda, com a vida.
Quer saber se
sua alma ainda está aí? Você deu um sorriso hoje? Não o fabricado, protocolar,
ou resultante de uma piada chula. Mas que veio com uma lembrança. Sorriso filho
de uma alegria por quase nada, só pela bela aventura de estar vivo... e por ter
uma alma companheira que corre por aí ou bate asas como um passarinho. Mas cuidado
com os Mollyanos. Eles sempre chegam de mansinho e quando um se espanta...