segunda-feira, 29 de junho de 2015

A Mandioca da Dilma

Foram quase dez dos vinte minutos de seu discurso dedicados a cumprimentar as autoridades presentes na abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, nesta terça-feira (23) em Brasília. Mas a presidente Dilma Rousseff surpreendeu mesmo ao fazer um cumprimento especial "à mandioca" e ao criar uma nova categoria na evolução humana: as "mulheres sapiens".

Fonte: Folha de São Paulo – Marina Dias de Brasília (23/06/2015)

Por esta coluna desfilaram muitos personagens fictícios, mas todos eles fincados em personas reais. A presidente Dilma, que ora ainda inferniza a vida do brasileiro, supera em muito qualquer tipo de ficção e ainda tem múltiplas personalidades. Já foi a mãe do PAC, agora é a mãe do absurdo, rainha do nonsense, deusa do disparate. Esta semana agregou mais duas qualificações: filósofa da mandioca e especuladora antropológica.
Há compilações muito bem feitas sobre sua proverbial incapacidade de organizar as ideias em frases em qualquer discurso que se meta a fazer, inclusive os escritos. É capaz de contrariar a lógica com tamanha desenvoltura e subverter a sensatez com tal naturalidade que um se pergunta por que ainda não recebeu algum tipo de ajuda especializada. Não falo de loucura que, sim, preserva sua própria lógica, mas que dizer de uma pessoa cujo pensar padece de alogia?
Retomo à história da mandioca. Estava a presidente no evento de abertura dos jogos indígenas mundiais em Brasília e desandou verborrágica ao que chamou de saudação à mandioca. Assim, do nada. “Então, aqui, hoje, eu tô saudando a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil”.
Parto desse ponto. Depois de saudar duzentos caciques e chefes de tribos mundo afora. As autoridades locais, o dono do galinheiro da esquina, tudo para gastar tempo. Fazia isso enquanto jogava uma bola feita de folha de bananeira (acho), muleta que lhe serviria para mais uma pérola. “Nós aqui somos assim com a natureza.” Esfrega os dois indicadores. A bola de folha de bananeira neozelandesa cai das mãos. Um subalterno ajunta e quis ficar com a pelota nas mãos, mas ela tomou dele. A plateia alienígena não entendeu o esfregaço dos dedos. “Inclusive, em nossa natureza tem a mandioca. Inclusive ela dá o caulim que o Lula gosta muito. Iiiihhh! será que ele vai ficar puto com esse comentário? Então, eu saúdo a mandioca. Brasileiro gosta de uma mandioca. Vou mandar distribuir mandioca pra todo mundo. Tô até pensando em falar com minha assessoria – se volta pro subalterno e diz: anota aí meu filho! – que crie um projeto do bolsa mandioca. Como diz aquele minino do filme, o Forrest Gump: vai ser mandioca frita, cozida, no molho pardo, na salada, buchada de mandioca. Mandioca de manhã de tarde e de noite. Mas ele falava era de camarão, né? Acho que era.”
A bola passava de uma mão para outra e até jogou pra cima umas duas vezes. “Essa bola... isso é uma bola... isso é muito importante. O mundo é redondo que nem essa bola que até usei aqui. Fiz umas embaixadinhas. Meia embaixadinha. Assim foi nossa evolução. Na hora em que a gente criou a primeira bola, ali estava o primeiro homo sapiens. A mulher sapiens veio beeemmm depois. Ela não tinha o que inventar por que a bola chegou primeiro. Os homens, por exemplo, tem bolas. Acho que daí veio a inspiração. Isso nos distingue como sapiens, gênero humano, de ser gente, sabe, porque podemos jogar com a bola, sermos lúdicos só pelo prazer do brincar, o que tem um fim em si mesmo.
Já dizia para um desses repórteres americanos que me perguntou sobre a viagem que farei pra tomar um café com o Obama. Sofro preconceito. Não qualquer preconceito, mas o sexual, apenas porque sou uma mulher sapiens. Dizem que sou mandona, autoritária e que meto o nariz em tudo. Mas que estou cercada de homem bonito. Dizem.” Riu se autocongratulando. Ninguém riu. “Quando os homens metem o dedo numa coisa qualquer ninguém fala nada. Então é preconceito sexual comigo.”
“Então, falei da mandioca, da bola e do homem e da mulher sapiens. Ah, os gays são sapiens também. A mãe de vocês e os pais. Os curumins são sapiens, até o Lula, se não me engano, é sapiens...”, a bola caiu das mãos mais uma vez. O subalterno atirou-se para pegar como um goleiro tentando alcançar lá onde a coruja dorme. Trupicou na presidente que caiu com a mandioca de fora. Então o povo riu e saudou-a com efusivas e entusiásticas palmas.