quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

De religioso e louco, todo mundo tem um pouco

O artigo no jornal falava sobre os dramas de religiosos muçulmanos, imigrantes nos EUA que, para sobreviver, tinham que vender produtos haram (proibidos pela religião, tais como bebida alcoólica, carne de porco). O drama de consciência de alguns, a indiferença de outros e no meio de tudo o depoimento de um imã que era uma pérola do lavar as mãos: “Neste país, todo o mundo tem de fazer alguma coisa. Eu faço meu discurso diante das pessoas, depende da opção delas” E arremata: “Alá dará as punições no dia do julgamento; eu não tenho autoridade para isso.”
Um jovem muçulmano confessou, queria vender apenas produtos halal, aqueles permitidos pela religião. Mas excluiria o público não religioso, reduziria sua freguesia, assim se conformava rezando, cheio de culpa pelas coisas ruins que dizia fazer, para que Alá o perdoasse. Isso é a tradução do ser religioso, no sentido mórbido da palavra.
O ser humano tem uma atração atávica pela tutela, ainda que, contraditoriamente, se rebele contra o mando, caso este lhe chegue à colher na boca, o teto frouxo, os molambos com que se veste. A maioria clama pelas cebolas e melões quando tem que, na hora fatal, assumir seu próprio destino. Nestas horas, as escravidões, da alma e do corpo, parecem pequenas, apenas um diminuto efeito colateral do luxo que é ter quem se preocupe, quem assuma as responsabilidades e no final, nos diga o que é halal e o que é haram.
Lidamos muito mal com a liberdade. Primeiro porque ela nos retira caminhos andados, circuitos fechados, marcos quase eternos com os quais nos acostumamos e os defendemos com ardor apaixonado: sempre foi feito assim, consolamo-nos. E isto é tudo que basta para não ter que enfrentar o peso de que, no final de tudo, cada um dará conta de si mesmo.
Que seja, a religião é boa. Preserva a saúde. Livra dos vícios. Conserva a família, ainda que a troco da dor dos que são subjugados nas ordens hierárquicas que cria. Ajuda a administrar o dinheiro – menos quando ele se torna “sacrifício” para agradar um demiurgo dono de banca. Um seu Nonô da vida, um Ebenezer Scrooge nunca antes visitado pelos espíritos.
Toda religião tem vocação para o legalismo, efeito de nossa permanente necessidade de ter tudo muito bem explicadinho e de não conseguir viver muito tempo no “vale da sombra da morte” sozinhos. Assim, para facilitar as inúmeras situações de encarar aquilo que não há explicação ou qualquer sentido, inventamos regras, leis, ritos que nos ajudam a substituir Deus que, por algum motivo insondável, calou-se, ignorou solenemente nossa petição por escape.
A questão é, novamente, a dificuldade de pensar só, se assumir. Concluir nossos próprios sentidos sem recorrer a Deus em sua explicação. Às vezes, simplesmente, Ele não está lá. Que dizer, está, mas alheia-se de propósito. Perdoem a licença poética em dizer que ele não está quando, afirmamos cheios de certeza, repetindo sua Palavra: Ele enche os céus e a terra, está em toda parte como descobre assombrado o salmista (Sl 139).
A religião se aproveita de nossa preguiça de pensar ou de conferir o falado com o escrito. Haverá sempre uma interpretação disponível, desde que um se alije de lutar com o texto que, na maioria das vezes, pede apenas interpretação textual simples, mesmo que não se saiba nada da língua nativa em que foi escrito. Quer dizer, basta saber ler e ter um pouco de bom senso.
A religião tem dificuldade em promover a paz. Padece de um mal recorrente, está sempre comparando seu séquito de dogmas com os outros e dizendo: estão errados. Antes da guerra com o outro, ela nos faz capitular ou permanecer em guerra contra nós mesmos. Ela fará tudo para sobreviver, ainda que a troco de sua morte mental ou física. A única coisa sagrada para ela é ela mesma. Deus não é sagrado para a religião, ele é meio.
A religião explica Deus especialmente quando Ele, aparentemente, não valida aquilo que é o entendimento comum de sua Palavra. Ele parece não gostar do senso comum, pois, suspeito, Ele é Deus novo em cada relação que estabelece.  Ela media Deus/Jesus e deixa o fiel com a versão que cria.
A religião fabrica gente com medo, suscetível, como os jovens muçulmanos que sofrem porque vendem produtos haram. As regras e a ameaça de inferno, caso quebradas, tornam as pessoas maleáveis para toda sorte de manipulação vil. Transformá-los em homens-bomba desesperados por virgens e rios de leite e mel, por exemplo.
No caso cristão, a religião os torna apáticos, alienados, primitivos dualistas que odeiam o corpo ou simplesmente em tolos cujo Deus parece-se mais com um gênio da lâmpada. Vestem roupas de marca, anseiam pelas riquezas e glória efêmeras e não sabem a menor diferença entre o halal e o haram. Para tudo isso, não se enganem, tem sempre um imã/pastor de plantão, mas lavará as mãos na primeira oportunidade porque, afinal, você é quem não tem fé suficiente.
A liberdade (Exousia), que pressupõe um poder de escolha, fazer o que é agradável, poder físico ou mental, capacidade ou força com que um é dotado, esta pede um radical abandono, um desprendimento do eu possessivo, uma submissão à lei do amor que temos em Cristo a fonte e a inspiração da vida.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Agenda sete: protagonismo gay

Agenda sete, no jargão jornalístico, é o tema que dez entre dez jornais (de todo tipo) está falando e termina, por isso, pautando as discussões na sociedade. Sugere o assunto na barbearia, no mercado, na mesinha de bar. Um destes temas, em especial, tomou de conta de todas as áreas da sociedade. Na medicina, no judiciário, nos consultórios (e fora deles) psicológicos, nas igrejas, na política. É o tema da homossexualidade.
        Agora, imagine uma sabatina de um general na comissão de justiça do Senado. É um ato protocolar. O general foi indicado para o Supremo Tribunal Militar e deve passar por perguntas, apenas para sacramentar a indicação. Pois bem, do nada, alguém pergunta a opinião do general sobre a inclusão de gays no exército. O que isso tem a ver com a função específica que este senhor desempenhará no Tribunal é nenhuma, mas a agenda sete, fustigados por apoiadores dos movimentos sociais gays, ataca, então...
O general disse o que segue:
“Não há compatibilidade no cargo que se exerce com o tipo de comportamento, porque tem sido provado que o individuo não consegue comandar. Comando, principalmente em combate, tem uma série de atributos e um deles é que o soldado, a tropa, fatalmente não vai obedecer. Não é que um indivíduo seja um criminoso”.
        Foi o suficiente para acender um rastilho de pólvora e virou notícia, inundou milhares de blogs, contra e a favor da opinião do militar. A maioria absoluta das notícias tratava a fala do general como preconceituosa e homofóbica, palavrinha da moda. Nem todos eram tão diretos, mas com panos quentes ou não, todos queriam dizer a mesma coisa. Vamos que o general tenha sido até simplório em sua fala. Engraçado é que um almirante, que também era sabatinado, não concordava com o general. Mas quase não se falou disso.
        Há duas questões aqui que convém falar. A primeira é que se vive a ditadura da opinião única, que se traduz em patrulhamento e estereotipagem da fala e da pessoa que fala sobre o tema homossexualidade, desde que ele ou ela, por razões sejam quais forem, não concorde com o dogma intocável repetido à exaustão na mídia. A coisa é tal que qualquer pessoa que queira assumir cargo, público ou não, deve colocar entre suas propostas, algo que agrade a este contingente de pessoas. É isso ou a patrulha ostensiva e quando não, ameaças de que o sujeito é enrustido ou tem alguém da família em tão condição.
A segunda questão tem a ver com os fundamentos do dogma que é falso. Tão frágil como o gigante bíblico que tinha pés de barro misturado a ferro. Reza o dogma que a homossexualidade tem que ser protagonista pública em todas as áreas, não é algo de foro íntimo que diz respeito exclusivo a pessoa que é homossexual. Trata-se de tornar a homossexualidade numa espécie de terceiro sexo, equiparar às minorias tais quais índios e quilombolas, doentes mentais e idosos, enfim categoria que deve ser privilegiada, segundo seus defensores em nome de uma sociedade igualitária e em função de injustiças, preconceitos, etc, etc que os homossexuais têm sofrido. Diria o velho personagem ranzinza: há controvérsias! Neste texto não dá para discutir.
O patrulhamento constante às pessoas que opinam contrariamente – estejam elas certas ou não – ao novo valor gay, não ajuda em nada na verdadeira discussão. Ao contrário, cria novos subgrupos, rotula de forma pejorativa e divide a sociedade. Daqui a pouco os rotulados de homofóbicos serão uma minoria a ser defendida, a agravar-se a situação atual. Pelo menos em nome da liberdade de opinião, de manifestação na sociedade democrática. Ironicamente, seria satisfazer à demanda pelo que brigam as chamadas minorias.
Sei, a sociedade democrática não é palco para que pessoas sejam tratadas de forma desrespeitosa. Exato. Para isso há os mecanismos legais. Puna-se quem infringir a lei, que cause danos morais, calúnias, injúrias e difamação. Não a opinião sobre, por exemplo, alguém que se mostre contrário ao casamento gay ou que, por sua crença, rejeite em sua igreja a prática homossexual.
Homossexual, masculino ou feminino, é pessoa. Antes de ter sua preferência sexual (ou não), é uma pessoa e nisto tudo se resume. É, portanto, como pessoa que deve ser julgado, caso fira as leis, os costumes, a moral e ética ou precise de ajuda e proteção. Uma pessoa não será melhor ou pior em sua profissão se, em paralelo, seja reconhecido ou faça também apologia de sua prática sexual entre quatro paredes. Algo como se a homossexualidade conferisse, dependendo da situação, melhor ou pior qualidade ao que aquela pessoa realiza.
Por fim, como pessoas (cidadãos), os homossexuais têm direitos e deveres e assim deve ser tratados. Este regime de sub-tribos que reclamam direitos absolutos, equiparação uns com os outros está nos levando a um regime de subversão da liberdade individual. Nesta toada, cada pessoa deve, a partir de agora, agregar-se a um algum tipo de grupo para sobreviver. O direito é do ser humano, não de um grupo que quer impor sua forma de vida à maioria.
Não se pode aceitar a violência contra nenhuma pessoa, mas tampouco se pode aceitar é que o protagonismo (movimento) gay se nos imponha padrões que, no limite – como querem um bom grupo que lhes apoiam – colocar parte da sociedade contra a parede porque o respeito que pedem não decorre de sua pessoalidade, mas de um conjunto de comportamentos, leis, cultura fabricada e motivada por rancor, heterofobia e negação de valores que lhes são contrários, especialmente os religiosos.

Quem na ilustração é gay?

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Eu quero é um cargo em comissão do Lula

Uma agência governamental de emprego francesa propôs a uma jovem de Paris que estava há dois anos desempregada uma oferta de trabalho de "animadora de chat para adultos", ou seja, "striptease" pela internet. 
Fonte: G1/ Efe
Fora o presidente Lula que pouco trabalhou na vida, nem estudou e ainda se gaba, porque cedo descobriu que a profissão de sindicalista é infinitamente mais rentável, o resto das pessoas tem que ir à luta. Se não, vejamos: um sindicalista esperto pode ficar anos e anos sem dar um prego. Basta estar sempre pendurado numa daquelas diretorias que tem dezenas de cargos. Não importa o que a chapa de plantão defenda, o negócio é continuar a dar expediente no sindicato, ou seja, não fazer nada, exceto fazer o agá na época do dissídio da categoria. Aí haja firula e gogó.
Então, todo governo tem lá seu ministério de trabalho e emprego. Geralmente se monta uns programas de recolocação, encaminhamento, etc. O governo brasileiro seguindo o modelo francês, aliás, nunca o Brasil foi tão francês como agora e eles estão adorando, estamos comprometidos com pelo menos 30 bilhões de reais em compras em seu mercado. Pois bem, o ministério inventou uma agência de empregos.
Dia desses, chega uma correspondência na casa de uma moça. O governo lhe encaminhava para um trabalho. A mulher havia dois anos que se inscrevera no programa que, no período, empregou apenas uma pessoa: o secreta de você sabe quem.
A carta apresentava uma lista de opções. A primeira delas considerava a foto e idade da candidata. Animadora de chats dos sites do Senado e Câmara. O serviço seria exclusivo para senadores e deputados. Não seria necessária qualquer experiência nem concurso. Bastava mesmo uma boa plástica, se é que me entendem.
Mas havia outras opções. Menos aquela que qualquer um queria: entrar na lista num dos 4.225 cargos em comissão (de confiança) que o Lula criou. Lá no Distrito Federal se oferecia a possibilidade de ser mulher mala, bolsa. Aqui no sentido lato do termo. O serviço era carregar dinheiro na calcinha, na meia três-quarto, no cocó, entre os bobes, entre os seios, desde que fosse farta neste quesito anatômico. Exigência: tempo livre para acompanhar o político e, se fosse pega, não perder o rebolado.
Também em Brasília. Lustrar a cara e a careca do Arruda. Não precisaria, mas... Este é um emprego sem a mínima emoção.
Provadora oficial de caipirinha e destilados do presidente Lula. Não que ele, como reis antigos, corra risco de envenenamento ou coisa que o valha, foi a forma que dona Marisa encontrou de diminuir o consumo etílico presidencial. Exigência: capacidade de processamento alcoólico alto. Haja fígado.
Ser claque da Dilma na pré-campanha a presidente que o TSE disse que não é. A vantagem é que a pessoa viajará o país inteiro, não necessariamente em primeira classe. O sucatão ainda está voando. Exigência: Além de não ter medo de voar (vai tomar muito susto), deve ser uma pessoa entusiasmada e ter estômago de avestruz. As claques só comem salgadinho e kisuco, feito nos próprios locais dos lançamentos das centenas de pedras fundamentais disso e daquilo. Às vezes, acontece de ser no meio do nada.
Por fim, duas funções em uma. Substituta de mensaleiro e jogar no Aloprados Futebol Clube. Exigência: habilidade de saber cobrar escanteio e correr para cabecear ou chutar para fazer o gol. Ser mascarado. Saber fazer gol de mão. Saber dar carrinho por trás, dedada no olho e cotovelada. Claro, se possível, quando o juiz não estiver olhando. O salário disso tudo? Ó!
A candidata? Dispensou as ofertas. Está fazendo curso relâmpago para se tornar bacharel em cambismo para a copa e a olimpíada.

Tradução da frase na foto: “Há maneiras melhores para fazer carreira”