A disputa
judicial envolveu uma conta de quase R$ 6 mil por causa de supostos danos
causados ao piso do banheiro por respingos de urina. Um juiz na cidade de Dusseldorf, na Alemanha, deu a um homem o direito de
urinar de pé depois de uma disputa judicial entre ele e seu senhorio.
Fonte: BBC Brasil (23/01/2015 )
Fonte: BBC Brasil (23/01/2015 )
Hans estava
furibundo e desconcertado. Não era para menos. Uma conta estratosférica cobrada
pelo seu senhorio e, junto com ela, o motivo/acusação: ele, por urinar em pé,
supostamente manchou o piso de mármore. Ou era isso ou uma taxa por pingo no
mármore com direito a infinitos pingos ou plano controle com até dez pingos por
ladrilho. O senhorio afirmava que se ele urinasse sentado, o desastre teria
sido evitado. A substituição do piso danificado custou aquela exorbitância,
pois teve que importar o mármores da região italiana de Carrara, sem contar o
assalto dos turcos imigrantes pedreiros que assentam piso por aquela carestia
toda.
Aquilo não
podia ficar daquele jeito, disse um Hans indignado. Haveria guerra judicial,
pois, como diz a Dilma, nem que vaca tossisse ele pagaria. Não estava em jogo o
dinheiro, mas a honra masculina. Até as desmioladas da Femem concordariam. Onde
já se viu um homem ser obrigado a mijar sentado?! Era caso de lesa-virilidade.
Uma imposição grave aos seus direitos masculinos, ainda que houvesse até um
movimento alemão “homens pelo direito de mijar sentados”. Uma aberração nestes
tempos de solidez líquida.
Iria às barras
dos tribunais, pensava ele. Defenderia a dignidade e tradição milenar dos
homens do mundo inteiro. Namorou e devaneou com a ideia de se tornar um herói
da causa dos homens masculinos heterossexuais e, por que não, doces brutos. Desde
que o mundo é mundo que os homens urinam de pé, filosofava. Ele mesmo se gabava
de ter boa pontaria na hora de esvaziar a bexiga. Tinha cuidado para não
espirrar urina por aí. Sua mãe lhe ensinara. Era questão de higiene, mas
também, sem dúvida, de macheza.
Nos muitos
embates conciliatórios, o senhorio, sentindo-se na berlinda e já ameaçado por
obscuro movimento que se autodenominava “homens mijando em pé”, dizia que não
se tratava de atacar a masculinidade, mas de reparar um piso. O tal grupo lhe
enviara cartas, e-mails e sms dizendo, curtos e grossos, que o capariam se o
paladino da causa perdesse a disputa judicial. Aquilo viraria jurisprudência,
quiçá, uma nova lei. E o direito de cada um de fazer suas necessidades como
melhor lhe caem, onde ficaria?
Muitas
mulheres se manifestaram ao lado de seus homens mijadores em pé. As feministas
clamavam por este novo e delicado homem que se assentava. Era a revolução da
espécie. O fim de milênios de opressão feminina. Uma nova era se descortinava –
deliravam - com homens sem gabolices de pontaria, sem sacudida, pois estes
bárbaros costumes, acreditavam, não passavam de autoafirmação de uma fálica
natureza ditatorial.
O país se
convulsionava e não se falava mais de outra coisa. Em suspense, aguardava a
decisão do juiz. Os aderentes ao novo hábito eram chamados de “Sitzpinkler” pela resistência. A palavra equivale
a um banana ou covarde. Isso lembra a Rogéria que, em visita a São Luís, caiu
de amores pela palavra “qualhira”. A diferença é que ela assumia o epíteto com
gosto, mas os “sitzpinkler”, não. Por uma ainda incipiente vergonha. Mas, pelo
andar das coisas, chegaria o dia em que se gabariam publicamente e reduziriam
os mijadores em pé a minoria envergonhada de seu costume medieval.
A coisa desandava e o juiz matutava, ele mesmo um
mijador em pé. Depois de avaliar a demanda do senhorio determinou: Hans poderia
urinar em pé quantas vezes quisesse, mas observaria a pontaria com toda
presteza e que ao sacudir, o fizesse com certo comedimento pelos óbvios motivos
porque não queria ver de novo aquele senhorio defensor da mania desqualificadora
da macheza alheia.