domingo, 1 de fevereiro de 2015

Pelo direito de mijar em pé!



A disputa judicial envolveu uma conta de quase R$ 6 mil por causa de supostos danos causados ao piso do banheiro por respingos de urina. Um juiz na cidade de Dusseldorf, na Alemanha, deu a um homem o direito de urinar de pé depois de uma disputa judicial entre ele e seu senhorio.
Fonte: BBC Brasil (23/01/2015 )

Hans estava furibundo e desconcertado. Não era para menos. Uma conta estratosférica cobrada pelo seu senhorio e, junto com ela, o motivo/acusação: ele, por urinar em pé, supostamente manchou o piso de mármore. Ou era isso ou uma taxa por pingo no mármore com direito a infinitos pingos ou plano controle com até dez pingos por ladrilho. O senhorio afirmava que se ele urinasse sentado, o desastre teria sido evitado. A substituição do piso danificado custou aquela exorbitância, pois teve que importar o mármores da região italiana de Carrara, sem contar o assalto dos turcos imigrantes pedreiros que assentam piso por aquela carestia toda.
Aquilo não podia ficar daquele jeito, disse um Hans indignado. Haveria guerra judicial, pois, como diz a Dilma, nem que vaca tossisse ele pagaria. Não estava em jogo o dinheiro, mas a honra masculina. Até as desmioladas da Femem concordariam. Onde já se viu um homem ser obrigado a mijar sentado?! Era caso de lesa-virilidade. Uma imposição grave aos seus direitos masculinos, ainda que houvesse até um movimento alemão “homens pelo direito de mijar sentados”. Uma aberração nestes tempos de solidez líquida.
Iria às barras dos tribunais, pensava ele. Defenderia a dignidade e tradição milenar dos homens do mundo inteiro. Namorou e devaneou com a ideia de se tornar um herói da causa dos homens masculinos heterossexuais e, por que não, doces brutos. Desde que o mundo é mundo que os homens urinam de pé, filosofava. Ele mesmo se gabava de ter boa pontaria na hora de esvaziar a bexiga. Tinha cuidado para não espirrar urina por aí. Sua mãe lhe ensinara. Era questão de higiene, mas também, sem dúvida, de macheza.
Nos muitos embates conciliatórios, o senhorio, sentindo-se na berlinda e já ameaçado por obscuro movimento que se autodenominava “homens mijando em pé”, dizia que não se tratava de atacar a masculinidade, mas de reparar um piso. O tal grupo lhe enviara cartas, e-mails e sms dizendo, curtos e grossos, que o capariam se o paladino da causa perdesse a disputa judicial. Aquilo viraria jurisprudência, quiçá, uma nova lei. E o direito de cada um de fazer suas necessidades como melhor lhe caem, onde ficaria?
Muitas mulheres se manifestaram ao lado de seus homens mijadores em pé. As feministas clamavam por este novo e delicado homem que se assentava. Era a revolução da espécie. O fim de milênios de opressão feminina. Uma nova era se descortinava – deliravam - com homens sem gabolices de pontaria, sem sacudida, pois estes bárbaros costumes, acreditavam, não passavam de autoafirmação de uma fálica natureza ditatorial.
O país se convulsionava e não se falava mais de outra coisa. Em suspense, aguardava a decisão do juiz. Os aderentes ao novo hábito eram chamados de Sitzpinkler” pela resistência. A palavra equivale a um banana ou covarde. Isso lembra a Rogéria que, em visita a São Luís, caiu de amores pela palavra “qualhira”. A diferença é que ela assumia o epíteto com gosto, mas os “sitzpinkler”, não. Por uma ainda incipiente vergonha. Mas, pelo andar das coisas, chegaria o dia em que se gabariam publicamente e reduziriam os mijadores em pé a minoria envergonhada de seu costume medieval.
A coisa desandava e o juiz matutava, ele mesmo um mijador em pé. Depois de avaliar a demanda do senhorio determinou: Hans poderia urinar em pé quantas vezes quisesse, mas observaria a pontaria com toda presteza e que ao sacudir, o fizesse com certo comedimento pelos óbvios motivos porque não queria ver de novo aquele senhorio defensor da mania desqualificadora da macheza alheia. 


* A frase da imagem sugere, em tradução livre: por favor, faça xixi sentado.