domingo, 19 de agosto de 2012

Como votar (É para aprender, viu?)


Sei, sei, as eleições estão a pouco mais de um mês-luz à frente, o que nos coloca a todos na fatídica posição de suportar sorrisos falsos e algumas caras horrorosas e fotochapadas encarando-nos pelos vidros traseiros dos carros durante este looongo período. Alguns, não contentes em nos atazanar com seus sorrisos fabricados, sapecam suas fotos nas laterais dos carros também, assim não há escapatória posssível. E para aumentar a visibilidade, eles ainda contam com a tortura da velocidade média de tartaruga das ruas entupidas de carros. Mas se falo do tema tão cedo, que fazer? Eles estão espalhados pelas ruas, paredes, cantos e recantos da cidade. Nem se fale os rocambolescos carros de som martelando nossos ouvidos com melodias e letras de gosto para lá de duvidosos repetidas à exaustão.
Mas não há sofrimento que sempre dure. A vingança virá com o verdadeiro stand-up dos horrores que é o horário eleitoral. Este é o lugar da desforra do eleitor. Se se tem suficiente estômago. Não, eles não são engraçadinhos, eles são bizarros, daí arrancar-nos o riso involuntário. A maioria absoluta tem segundos para soletrar o nome de guerra – que aqui, convenhamos, é um circo à parte – e dizer uma frase qualquer com o número gigantesco de cinco dígitos que consome metade do tempo da fala telegráfica a que tem direito. Confesso que gosto mais daqueles que adotam a postura de múmia. Retesados de nervosos, quase nem conseguem reproduzir o próprio nome. A diversão fica por conta da cara amarrada com que eles dizem a piada que é a declaração de sua suposta missão se eleitos forem.
Você aí (e)leitor, antes que se aborreça, explico a razão deste texto temporão. Como escolher um candidato a vereador? Pela cara? Melhor não. Ela já começa falsa de saída. A imagem é um fake. Qual seria nossa surpresa deparar com o próprio(a) ao vivo e em cores pela rua. Isto se reconhecêssemos a figura. Pensei que as frases com as quais eles se vendem como produto podem ser uma boa pista para a (não) escolha.
Antes de tudo, ressalvo, há de ter, em algum lugar dos mais de 5500 municípios, uns raros vereadores que sabem porque foram eleitos e fazem seu papel. Mas você que é obrigado a entupir a carteira com comprovantes de votação para provar sua cidadania e dever que eles chamam de cívico, saberia dizer para que serve um(a) vereador(a)? Essa é difícil, não é? Não vale a resposta sabidinha de organização política do país, democracia, etc, etc. Tudo bem, estou enveredando por outro caminho. Voltemos à análise das frases propaganda.
O candidato que tem a palavra “jovem” na frase propaganda seria automacamente descartado. Eles costumam agregar a palavra “competente” àquela que se torna uma espécie de adjetivo. É um enrolão e analfabeto na função que deseja exercer. Nenhuma das duas palavras qualificam o lugar de vereador. Onde ele foi testado na competência? Juventude, neste campo, é sinal de... nada.
Há os que se dizem “trabalhadores”. Fazem bem. O apóstolo Paulo já ameaçava: quem não trabalha não tem direito a comer. A sugestão dos ladinos é outra, sabemos. Quer dizer que trabalhará pela comunidade no que em 100% dos casos é uma baita mentira, pois se esforçará, se o fizer, pelos seus achegados e, se muito, por alguns que considera terem lhe despejado um voto. Trabalhar, no caso, significa arrumar coisinhas, quebra-galhos de sustento, favorzinhos, jeitinhos.
Hilários mesmo são aqueles que colocam a palavra “amigo” em conjunto com qualquer outra expresão que, juntas, na maioria absoluta dos casos, não faz o menor sentido. Este é o pedinte de votos. Pedinte no sentido de medincante. Ele não tem propósito nenhum na câmara municipal. Nem sabe o que fazer quando chegar lá, apenas, como o Tiririca, não tem coragem de dizer.
Qualquer um que diga que seu retorno é repetir a dose – o que só tem sentido se você está bebendo – desconfie. Ele vai colocar “sucesso”, “trabalho”, “desenvolvimento” ou coisa parecida como complemento. Olhe para as ruas, para as escolas da cidade, para os postos de saúde, os serviços públicos de limpeza. Você vai querer esta qualidade de novo ou é melhor mudar o gerente?
Ah, mas há os que, ilusionistas, acenam com a expectativa de que, de alguma maneira inexplicável, “sua vez chegou”. Esta frase tem variantes igualmente enigmáticas. Não sabia que estávamos, nós eleitores, numa fila. Mas estamos. Ainda não nos damos bem, mas ele(a), como esta falsa oferta, quer se dar bem a custa de seu voto. Incluo neste parágrafo os que se auto alcunham de “honestos”. Sem palavras. Estes são o suprassumo da cara de pau.
Incrivelmente, a surrada palavra “povo” tem tido pouco lugar nos últimos tempos. Teria se desgastado? Os políticos querem se reciclar? Ou como a ideologia na política e promessas de igrejas neopentecostais isso não faz o menor sentido nos tempos atuais? Mas há os atrasados que ainda usam a palavrinha surrada. Não menos inocentes quando a usam, só não tem o que dizer. Os candidatos ao executivo a usam mais. Estes são um caso que precisa de análise específica. Agora, vai lá votar.