Sei, sei, as eleições estão a
pouco mais de um mês-luz à frente, o que nos coloca a todos na fatídica posição
de suportar sorrisos falsos e algumas caras horrorosas e fotochapadas encarando-nos
pelos vidros traseiros dos carros durante este looongo período. Alguns, não
contentes em nos atazanar com seus sorrisos fabricados, sapecam suas fotos nas
laterais dos carros também, assim não há escapatória posssível. E para aumentar
a visibilidade, eles ainda contam com a tortura da velocidade média de
tartaruga das ruas entupidas de carros. Mas se falo do tema tão cedo, que
fazer? Eles estão espalhados pelas ruas, paredes, cantos e recantos da cidade.
Nem se fale os rocambolescos carros de som martelando nossos ouvidos com
melodias e letras de gosto para lá de duvidosos repetidas à exaustão.
Mas não há sofrimento que sempre
dure. A vingança virá com o verdadeiro stand-up dos horrores que é o horário
eleitoral. Este é o lugar da desforra do eleitor. Se se tem suficiente
estômago. Não, eles não são engraçadinhos, eles são bizarros, daí arrancar-nos
o riso involuntário. A maioria absoluta tem segundos para soletrar o nome de
guerra – que aqui, convenhamos, é um circo à parte – e dizer uma frase qualquer
com o número gigantesco de cinco dígitos que consome metade do tempo da fala
telegráfica a que tem direito. Confesso que gosto mais daqueles que adotam a
postura de múmia. Retesados de nervosos, quase nem conseguem reproduzir o
próprio nome. A diversão fica por conta da cara amarrada com que eles dizem a
piada que é a declaração de sua suposta missão se eleitos forem.
Você aí (e)leitor, antes que se
aborreça, explico a razão deste texto temporão. Como escolher um candidato a
vereador? Pela cara? Melhor não. Ela já começa falsa de saída. A imagem é um
fake. Qual seria nossa surpresa deparar com o próprio(a) ao vivo e em cores
pela rua. Isto se reconhecêssemos a figura. Pensei que as frases com as quais
eles se vendem como produto podem ser uma boa pista para a (não) escolha.
Antes de tudo, ressalvo, há de
ter, em algum lugar dos mais de 5500 municípios, uns raros vereadores que sabem
porque foram eleitos e fazem seu papel. Mas você que é obrigado a entupir a
carteira com comprovantes de votação para provar sua cidadania e dever que eles
chamam de cívico, saberia dizer para que serve um(a) vereador(a)? Essa é
difícil, não é? Não vale a resposta sabidinha de organização política do país,
democracia, etc, etc. Tudo bem, estou enveredando por outro caminho. Voltemos à
análise das frases propaganda.
O candidato que tem a palavra
“jovem” na frase propaganda seria automacamente descartado. Eles costumam
agregar a palavra “competente” àquela que se torna uma espécie de adjetivo. É
um enrolão e analfabeto na função que deseja exercer. Nenhuma das duas palavras
qualificam o lugar de vereador. Onde ele foi testado na competência? Juventude,
neste campo, é sinal de... nada.
Há os que se dizem
“trabalhadores”. Fazem bem. O apóstolo Paulo já ameaçava: quem não trabalha não
tem direito a comer. A sugestão dos ladinos é outra, sabemos. Quer dizer que
trabalhará pela comunidade no que em 100% dos casos é uma baita mentira, pois
se esforçará, se o fizer, pelos seus achegados e, se muito, por alguns que
considera terem lhe despejado um voto. Trabalhar, no caso, significa arrumar
coisinhas, quebra-galhos de sustento, favorzinhos, jeitinhos.
Hilários mesmo são aqueles que
colocam a palavra “amigo” em conjunto com qualquer outra expresão que, juntas,
na maioria absoluta dos casos, não faz o menor sentido. Este é o pedinte de
votos. Pedinte no sentido de medincante. Ele não tem propósito nenhum na câmara
municipal. Nem sabe o que fazer quando chegar lá, apenas, como o Tiririca, não
tem coragem de dizer.
Qualquer um que diga que seu
retorno é repetir a dose – o que só tem sentido se você está bebendo –
desconfie. Ele vai colocar “sucesso”, “trabalho”, “desenvolvimento” ou coisa
parecida como complemento. Olhe para as ruas, para as escolas da cidade, para
os postos de saúde, os serviços públicos de limpeza. Você vai querer esta
qualidade de novo ou é melhor mudar o gerente?
Ah, mas há os que, ilusionistas,
acenam com a expectativa de que, de alguma maneira inexplicável, “sua vez
chegou”. Esta frase tem variantes igualmente enigmáticas. Não sabia que
estávamos, nós eleitores, numa fila. Mas estamos. Ainda não nos damos bem, mas
ele(a), como esta falsa oferta, quer se dar bem a custa de seu voto. Incluo
neste parágrafo os que se auto alcunham de “honestos”. Sem palavras. Estes são
o suprassumo da cara de pau.
Incrivelmente, a surrada
palavra “povo” tem tido pouco lugar nos últimos tempos. Teria se desgastado? Os
políticos querem se reciclar? Ou como a ideologia na política e promessas de
igrejas neopentecostais isso não faz o menor sentido nos tempos atuais? Mas há
os atrasados que ainda usam a palavrinha surrada. Não menos inocentes quando a
usam, só não tem o que dizer. Os candidatos ao executivo a usam mais. Estes são
um caso que precisa de análise específica. Agora, vai lá votar.