“Hoje é o dia
mais orgulhoso da minha vida. Eu consegui tirar uma foto me cumprimentando.”
Não fosse a segunda parte da frase, qualquer um juraria que o autor estivesse
falando da descoberta da cura da Aids, por exemplo. Ao ler a segunda metade,
ficamos confusos até vermos a foto que ilustra o tweet do gênio. Um cara faz um
“high five” em si mesmo enquanto seu celular flutua no ar. O sujeito inaugurou
um novo tipo de selfie.
Imediatamente
o ato genial começou a ser replicado e outras selfies foram aparecendo na rede.
Não se sabe o destino dos celulares que, possivelmente, se espatifaram no chão
se o copiador não colocou um anteparo macio para aparar o celular que era
atraído para o chão a 10m/s2.
Ao mesmo
tempo, uma onda de palhaços aterrorizantes mostravam suas caras horrendas por
vários países. Algo que começou, de novo, nos EUA e não se sabe dizer com que
propósito. Câmeras de segurança passaram a registrar estas criaturas, alguns
com armas na mão, o que gerou uma reação, pois hordas de caçadores de palhaços
se formou em igual velocidade.
Este fenômeno
bizarro é só um dos que a comunicação instantânea está produzindo no mundo.
Imitar é uma das formas básicas de aprendizado. Assim as crianças desenvolvem
suas habilidades em seus primeiros anos de vida. O Benchmarking é outra forma
positiva de uso da imitação. Mas que dizer daquele tipo de comportamento desse homo virtualis?
Uma
característica do fenômeno, especialmente nas redes sociais, é que ele é
inócuo, estranho e inútil. Nem tanto. Outra moda, tirar selfies em lugares
perigosos, matou alguns de seus praticantes. Quem o faz pela primeira vez,
busca de forma desesperada destacar-se de alguma maneira da grande massa amorfa
de gente. Anseia por algum tipo de reconhecimento. Não importa se seu “grande”
feito não tem qualquer contribuição positiva para a humanidade. Que se reduza a
mera curiosidade que será imediatamente substituída por outra excentricidade.
No fundo, o desejo
de ser diferente da manada por meio de um feito extraordinário leva as pessoas
a este tipo de postura. A fala hiperlativa do jovem no início desse texto dá
uma ideia. A repetição dos demais depende do sucesso alcançado. Se falta
criatividade para muitos, pode-se sempre conseguir um pouco da glória de outro,
quais rêmoras amalucadas.
As redes são a
grande vitrine. É o palco do narcisismo que em todos habita em menor ou maior
grau. Um ato replicado nos mais longínquos lugares do mundo confere a seu
idealizador um status de grandeza, ainda que efêmero, que dará por momento um
significado a sua vida reles. Não a vida da pessoa, mas como esta se manifesta
no cotidiano repetitivo e com pouca emoção, única maneira de como muitos se
sentem vivos.
Pessoas melhor
resolvidas passam ao largo dessa corrente de atos insignificantes. Não porque
sejam pretensiosas, alheias ou enfatuadas, quando não, luditas. Mas porque tem
o que fazer com aspectos mais transcendentes. São aqueles que estão mais tempo
no mundo real das relações, da troca afetiva, da experiência visceral. Não usam
a tecnologia como fuga, um espaço da fantasia, da simulação de um eu
idealizado, mas como um meio...
Estas
ondas passarão tão rápido quanto apareceram. Outras virão, cada qual com sua
estranheza, mas no fundo são só pessoas desejando desesperadamente um pouco de
aceitação, um bocadinho de reconhecimento, alimento que almas carentes precisam
para se autenticar.