segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Música chiclete é um saco!

A experiência é muito comum. Você ouviu uma música que, a julgar pelo seu gosto musical, até deve achar horrível, mas ela grudou em sua mente e não sai. Ao contrário, horas depois de tê-la ouvido, para sua surpresa você se pega cantarolando a melodia que parece enfeitiçada. Você refreia a boca, mas o cérebro continua cantando. Como é possível?
Pesquisa recente da psicóloga inglesa Kelly Jakubowski, explica porque acontece este fenômeno e ainda, como fazer para se livrar da música chiclete. Músicas com repetições de refrões curtos e monossilábicos – lembrou do axé e seus muitos gemidos e onomatopeias, acertou – facilitam que seu córtex cerebral auditivo registre com mais facilidade.
O remédio, curiosamente, é ouvir uma música de estilo totalmente diferente e, se possível, mais sofisticada, o que força o córtex a se distrair e focar em novas nuances melódicas e então faz-se a mágica da deleção da música grude. Outra técnica que parece ter saído de dizeres dos antigos, é ocupar-se com alguma atividade envolvente. É que se descobriu também que as tais músicas incomodam mais quem está entediado ou sem fazer nada. Mente vazia...
Quisera fosse tão fácil com os problemas que nos assediam a cabeça, perturbadores, tenazes como cães perdigueiros. Crenças que simulam a verdade. Pensamentos que parecem vir repentinos do nada. Tomam de assalto sua mente consciente como vândalos celerados.
Mas há alguns paralelos que convém aproveitar da descoberta da pesquisa mencionada. Como na música, não adianta tentar forçar esquecer. Como se fôssemos teleguiados ou possuídos por força alheia à nossa vontade, a música continua tocando dentro de nossa cabeça, os pensamentos repetindo o medo, criando cenários ou buscando explicações. É assustador. É assim que sofrem as pessoas com transtornos diversos.
Uma verdade antiga, mas melhor conhecida hoje, mostra que os pensamentos são só isso: pensamentos. Não são a realidade. Os que mais machucam quase sempre sequer tem relação com o real. Quer dizer, não existe uma relação de causa e efeito, apenas estão lá ameaçadores, provocados por circunstâncias atuais ou vividas, mas que não são a causa verdadeira do sofrimento, mas as expectativas ruins que simulam.
A música grudenta, por mais chata que seja, é inofensiva. Os pensamentos disfuncionais, não. Eles torturam. São como chicotes estalando no lombo. Eles merecem atenção quando começam a produzir comportamentos que claramente percebemos como disfuncionais. Quando nunca vão embora e exigem sempre uma ação aliviadora. De fato, aí se instalou um circuito pernicioso que perturba a vida inteira. Mais: afetam as pessoas ao redor de nós.
Essa é a diferença para um pensar diante de um problema real e difícil, para o adoecimento. Aquele desemboca em decisões resolutivas, o outro em paralisação. O primeiro se relaciona com a realidade, o outro está apenas no mundo mental.
É possível que pessoas bem resilientes se resolvam. A maioria de nós, infelizmente, não tem esta característica, precisa aprendê-la. Alguns aguentarão até o ponto da exaustão. Outros vão se desminlinguir em atitudes defensivas e evitações que, na verdade, é fuga da própria condição em que se encontra.
Pensar positivo pode ajudar, mas não simplesmente como uma Pollyana. O pensar precisa ter um sentido no presente. Pede conjunção carnal com ações, que é quando se percebe o sentido completo das coisas.