A experiência
é muito comum. Você ouviu uma música que, a julgar pelo seu gosto musical, até
deve achar horrível, mas ela grudou em sua mente e não sai. Ao contrário, horas
depois de tê-la ouvido, para sua surpresa você se pega cantarolando a melodia
que parece enfeitiçada. Você refreia a boca, mas o cérebro continua cantando.
Como é possível?
Pesquisa
recente da psicóloga inglesa Kelly Jakubowski, explica porque acontece
este fenômeno e ainda, como fazer para se livrar da música chiclete. Músicas
com repetições de refrões curtos e monossilábicos – lembrou do axé e seus
muitos gemidos e onomatopeias, acertou – facilitam que seu córtex cerebral auditivo
registre com mais facilidade.
O remédio, curiosamente, é
ouvir uma música de estilo totalmente diferente e, se possível, mais
sofisticada, o que força o córtex a se distrair e focar em novas nuances
melódicas e então faz-se a mágica da deleção da música grude. Outra técnica que
parece ter saído de dizeres dos antigos, é ocupar-se com alguma atividade
envolvente. É que se descobriu também que as tais músicas incomodam mais quem
está entediado ou sem fazer nada. Mente vazia...
Quisera fosse tão fácil com
os problemas que nos assediam a cabeça, perturbadores, tenazes como cães
perdigueiros. Crenças que simulam a verdade. Pensamentos que parecem vir
repentinos do nada. Tomam de assalto sua mente consciente como vândalos
celerados.
Mas há alguns paralelos que
convém aproveitar da descoberta da pesquisa mencionada. Como na música, não
adianta tentar forçar esquecer. Como se fôssemos teleguiados ou possuídos por
força alheia à nossa vontade, a música continua tocando dentro de nossa cabeça,
os pensamentos repetindo o medo, criando cenários ou buscando explicações. É
assustador. É assim que sofrem as pessoas com transtornos diversos.
Uma verdade antiga, mas
melhor conhecida hoje, mostra que os pensamentos são só isso: pensamentos. Não
são a realidade. Os que mais machucam quase sempre sequer tem relação com o
real. Quer dizer, não existe uma relação de causa e efeito, apenas estão lá
ameaçadores, provocados por circunstâncias atuais ou vividas, mas que não são a
causa verdadeira do sofrimento, mas as expectativas ruins que simulam.
A música grudenta, por mais
chata que seja, é inofensiva. Os pensamentos disfuncionais, não. Eles torturam.
São como chicotes estalando no lombo. Eles merecem atenção quando começam a
produzir comportamentos que claramente percebemos como disfuncionais. Quando
nunca vão embora e exigem sempre uma ação aliviadora. De fato, aí se instalou
um circuito pernicioso que perturba a vida inteira. Mais: afetam as pessoas ao
redor de nós.
Essa é a diferença para um
pensar diante de um problema real e difícil, para o adoecimento. Aquele
desemboca em decisões resolutivas, o outro em paralisação. O primeiro se
relaciona com a realidade, o outro está apenas no mundo mental.
É possível que pessoas bem
resilientes se resolvam. A maioria de nós, infelizmente, não tem esta
característica, precisa aprendê-la. Alguns aguentarão até o ponto da exaustão.
Outros vão se desminlinguir em atitudes defensivas e evitações que, na verdade,
é fuga da própria condição em que se encontra.
Pensar positivo pode
ajudar, mas não simplesmente como uma Pollyana. O pensar precisa ter um sentido
no presente. Pede conjunção carnal com ações, que é quando se percebe o sentido
completo das coisas.
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