sábado, 4 de setembro de 2010

Igreja Nossa Senhora do Orgasmo

Juízes do tribunal de recursos na Suécia proibiram a igreja Nossa Senhora do Orgasmo [Church Orgasmens Madonnas Kyrka, literalmente Igreja da Madona do Orgasmo] de receber o mesmo status legal de outras religiões.
O seu auto-nomeado cardeal, Carlos Bebeacua acredita que o homem deve adorar  o orgasmo como um símbolo de um ser superior. Ele disse: “O orgasmo é a sensação máxima da luxúria e não deveria ser limitado à ejaculação. Você pode alcançá-la através da arte, ou ao olhar para uma paisagem enquanto pensa ‘uau’“.

Fonte: BBC Brasil

Estava entediado. Era madrugada. O sono até viera, mas assim, sem mais, foi-se. Um latido de cachorro ou talvez um sonho perturbador do qual agora não lembro causou o despertar fora de hora. Os olhos ficaram grelados no teto. O jeito era levantar e ligar a TV para distrair e, quem sabe, ser arrebatado pelo sono outra vez. Liguei em qualquer canal e lá estava ele.  Vestido com uma roupa sacerdotal pregava algo estranho. Esperei por um exorcismo, uma invocação, uma frase de efeito, nada.  
Deixei-me estar não porque fosse interessante, mas porque algo nele me era familiar. A fala, havia qualquer coisa de agudo que me lembrava alguém. O trejeito com o braço. O cérebro analisando os arquivos de rostos e já me impacientava, pois me gabo de ser bom fisionomista. A câmera zanzava para lá e para cá, pois o pregador ziguezagueava no palco, um cacoete, sem dúvida. Então ele disse algo sobre orgasmo. Epa, a coisa começou a ficar interessante.
Estamos acostumados às curas espetaculares, aos apelos descarados por dinheiro, às promessas cujo padrão de vida só bafejado por uma mega sena acumulada, às explicações escalafobéticas porque a vida desandou, mas convenhamos, este cara explorava uma vertente nova. A mistura de religião e sexo já teve muitas versões e não há nada de novo nisso, mas aqui estava algo novo-velho.
Então veio o estalo. Este religioso era nada mais, nada menos que o Penadinho. Sim, era uma homenagem ao personagem do Maurício. Não que ele tivesse ficado muito feliz quando criança. O apelido foi dado porque sendo filho único de uma solteirona convicta e carola, esta o internou numa igreja desde pequeno. Era seu modo de expurgar o seu pecado que Penadinho representava.
Estudávamos todos no mesmo catecismo, mas brincávamos e não era preciso ajudar na missa que, de fato, era uma oportunidade para fugir dos pais e brincar no pátio da igreja. Agora sei que seu nome é Carlos, mas Penadinho tinha que ficar lá no altar, vestido de coroinha, daí a alcunha, repito. De algum modo ele atendeu ao desejo da mãe, mas com sinais contrários. Em vez de ser casto, criou a Igreja da Madona do Orgasmo. Ele, porém, faz questão de ressaltar, orgasmo não tem que ser só o genital, pode ser também o “embasbacamento” de um ante uma obra de arte, uma paisagem. Pois sim.
Pouco mais e Carlos (Penadinho), depois de fazer loas às benesses do orgasmo, defendeu seu direito de Cardeal e de seus seguidores de ganharem o mesmo status de outras igrejas. Alegava que a corte lhe negou o direito por está cheia de gente reprimida sexualmente. Disseram que tinha que tirar a Virgem do nome da igreja. Ele se recusou. Justificou-se com Freud que mesmo sendo ateu, deve ter se revirado no túmulo.
Ele diz que não ganha nada com isso. Na verdade sofre em sua missão, pois foi taxado de transgressor dos bons costumes e da religião cristã, o que ele nega. Diz que teve uma visão, teria sido abduzido por uma anja sensual que fizera dele gato e sapato se é que me entendem. E esta tal deu-lhe a missão. Fundarás uma igreja e dirás ao povo: “gozai! Gozai sem medo, pois quem não goza nesta vida, tem problema de cabeça ou é doente do pé”.

domingo, 29 de agosto de 2010

Escola terrorista

O que a professora pediu aos estudantes de 15 a 16 anos foi o planejamento de um atentado terrorista com o uso de armas químicas ou biológicas.

Cada estudante deveria escolher uma comunidade com o “objetivo de matar o maior número possível de civis inocentes, de modo a transmitir a mensagem terrorista”, conforme orientação que a professora passou por escrito aos estudantes.
Fonte: BBC Brasil.

Houve tempo que professor era profissão respeitada. Carregavam uma espécie de aura, à moda dos santos. Quem sabia ler e escrever era rei num mundo de analfabetos. Professor mandava tanto que muitos, regidos por sabe Deus que taras e repressões, abusavam dos castigos com os alunos. Os pais aprovavam, claro. Aliás, professor bom era aquele que sabia usar a régua, a palmatória e outras artes da tortura psicológica, mas acima de tudo, corporal.
No meu tempo havia lá um tal Conceição. Era o rei. Quem sabia lá o que era dislexia, tdah e outros distúrbios? Hoje, ao que parece, tudo quanto é menino já nasce com defeito de fábrica. Bem que cairia bem um recall de crianças. Pois se não é algo no aprendizado, certamente será uma alergia, uma intolerância alimentar. Mas por lá, ele é que sabia desasnar um menino. Se por acaso titubeasse nas notas ou não decorasse as quatro operações na tabuada e ainda as conjugações verbais. Ai dele.
Bastava ouvir o nome Conceição para um menino adquirir uma inteligência e uma esperteza que fazia gosto. Os pobres menos atilados, estes coitados, sofreriam com a pedagogia da pedra lascada praticada na sala do Conceição. Incrível, jamais o vi, sabia apenas a rua em que morava que, para mim, era um terreno proibido, algo como um campo minado. Mas tive lá minha desdita.
Fui jogado num reforço, estratégia de minha mãe para que não ficasse ocioso. Lá pelas tantas, a senhora nos colocou em semicírculo. Tinha que responder a tabuada. Ela, com a régua de madeira numa das mãos, dava tapinhas leves na outra mão, como que vivendo a antevéspera de seu gozo. E tome pergunta. A reguada comendo. Chega minha vez. Pergunta. Respondo certo. E a mulher. Noves fora? De onde aquela mulher tirou aquilo, meu Deus? Nunca na minha vida ouvira falar no tal noves fora. Ignorava solenemente. Ainda estava aturdido à procura da resposta, quando fui acordado pela reguada. Aquilo queimava o braço. Chorei. Fui embora humilhado pela sádica que foi devidamente confrontada dia seguinte por minha mãe e teve que ouvir no mínimo: quer bater? Vai parir.
O tempo passou e professor vive acuado. Na escola pública, luta contra os delinqüentes que lhe ameaçam a vida e o desafiam se ao menos são olhados de viés. Na escola particular, se recolhem ante crianças que se julgam os donos do mundo, alimentados por criações sem limite. A lógica capitalista impera: o freguês sempre tem razão.
Aquela professora queria mais. Dever de casa. Cada qual escolhe a comunidade de seu ódio, coisa que ensinamos no período passado e articule um atentado sangrento. Quero ver cabeças saltitando, corpos dilacerados e ruas banhadas de sangue. Ganhará pontos extras aqueles que capricharem no engenho. Imaginem um inocente carrinho de cachorro quente como disfarce. Não, um de algodão doce. Revirara os olhinhos azuis em seu delírio alucinatório. Um aluno, acostumado aos inocentes joguinhos virtuais em que se despedaça o que seja que apareça pela frente, olhos vidrados: fessora, já trouxe esta granada para testar em sala. Bum.