segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Os namorados invisíveis



Um app lançado na terça-feira (20) promete dar o que falar. Ele permite que o usuário simule que está namorando alguém. Para isso, o aplicativo fornece mensagens de texto, de voz e até selfies falsas, mas realistas.

Fonte: Exame.com (Saulo Pereira Guimarães, 20/01/2015)

Dizem que a profissão mais velha do mundo é aquela que se vende partes do corpo por tempo determinado para deleite dos outros. Mas tão velha quanto esta é a alcovitagem. Se não o detrato, o “shadchan”, na cultura judaica, é um profissional que cobra para arranjar casamentos. Alcovita, portanto, e não por pensar-se um cupido narigudo, mas por taxa de corretagem certa. Outras culturas também tem este personagem. A Índia ainda mantém esta tradição muito viva, o que leva muitos jovens, influenciados por valores ocidentais, a resistir ao sistema de casar às cegas.
De qualquer modo, arrumar uma contraparte é um teste hercúleo, com zilhões de riscos envolvidos. Dizem as estatísticas sentimentais que metade dos casamentos acabam, logo, outra forma de ver o caso, é pensar que sua escolha tem 50% de chances de dar certo. O que seria ver o copo como meio cheio. Engraçado, a metade que dá com os noivos n’água é unânime em tentar a experiência uma segunda vez. Às vezes mais. Por fim, parece que se cansam de tanto errar e já não se separam mais.
Nesta barafunda toda, há que se lidar com as cobranças sociais que inventam razões para explicar porque uma pessoa com certa idade ainda não se casou ou, horror dos horrores, não tem sequer um mísero ficante para exibir por aí. Situação que leva a desditosa criatura a sentir-se a mais miserável de todas, pois se julga incapaz de pegar um sapienszinho sequer. Ora, já ouvi dizer que há quem venda horas de seu tempo para desfilar com os tais supostos fracassos sentimentais ambulantes. Saída precária, pois não? É uma espécie de prostituição light, mas que pode, a qualquer momento, mediante majoração do valor inicial, evoluir para algo mais hardcore.
Pois seus problemas acabaram!! Como diriam os finados Cassetas com suas ofertas Tabajara. Uns tais, nos EUA, inventaram um app que simula uma relação de namoro verdadeira com provas virtuais tais como – espanto! – selfies com namorados e namoradas. Emails e até mensagens de voz, pasmem! O app tem o sugestivo nome de “invisible girlfriend” ou “boyfriend”.
O curioso é que estes invisíveis namorados são reais. Por alguma merreca emprestam suas caras para compor as fotos que montarão a farsa verdadeira. Há gente pra tudo! Além disso, ganham um mimo. Uma camiseta com a frase: sou namorado(a) invisível de alguém. Igual como quem ostenta suas ações em favor da salvação dos lêmures de Madagascar ou a perereca ameaçada de extinção na lagoa nos confins da caixa prego.
O felizardo assinante do serviço – pois sim, trata-se de um serviço, segundo seus criadores – poderá sair do limbo onde infelizes seres vagam sem par e mostrar-se por aí sem o menor temor de ser desmascarado. E se alguém desconfiar? Sempre há um espírito de porco rondando. Fácil. O assinante recebe até uma carta escrita à mão de seu namorado fictício. 
Os donos do serviço ainda defendem as vantagens de ter um namorado invisível. Todas as partes chatas da relação não existem, inclusive odores orais, chulés, sovaqueira e outros que tais. Não filha, não tem pegação. Também não, Zé Mané, a menina da foto não topa encontro nem faz cafuné no pé.