Cansada de se sentir mal por sair sozinha, a comediante Genevieve Blau,
que vive em Nova York (EUA), "assumiu um namoro" com sua mochila. O
"romance" está sendo documentado pela jovem em sua conta no Instagram.
Fonte: Redação/Rede TV (19/05/2015)
Foi bom pra
você? Ela quis saber. Deu uma baforada no cigarro com força. Silêncio. Pergunta
e cena ridículas e clichês. Mas como diz Álvaro de Campos (heterônimo de
Fernando Pessoa), o amor é ridículo. Fala de suas manifestações escritas, as
cartas. Há um quê de ridículo nos arroubos do amor. E se ele foi difícil de
encontrar, então perdemos os pudores do ridículo e nos expomos sem mais. Que se
danem os que não têm um amor!
É que para
viver um grande amor, ensina Vinícius, “conta ponto saber fazer coisinhas: ovos
mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do
amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha
com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?” E não é isso que as
mulheres querem? Freud nunca soube. E diz mais o “poetinha”: “É muito
necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito
mais que na modista! — para aprazer ao grande amor.”
As mulheres
têm reclamado: desse jeito, falta homem. Ao que parece, é tipo meio difícil de
achar. É claro que há homens por aí. Mas não servem. Elas continuam buscando.
De quando em vez, cansadas da busca, aliviam-se com tipos que não são seu
padrão de qualidade, arrebentam-se. Escoriadas, passam tempo se lastimando,
deploram até seus desejos que as levaram a decisões inconsequentes.
Talvez haja o
tipo de homem que buscam, talvez não. De qualquer modo, acabo com a sensação de
que somos menos do que deveríamos para atender tantas moças enamoradas e
casadoiras. Morrem mais homens que mulheres. Mais homens se tornam gays. Os
homens estão esticando os anos de pegação sem compromisso. Sei lá. Homem é
produto escasso, dizem as mulheres. Aqueles que valem a pena, uma sortuda
qualquer já pegou. Algumas nem são tão sortudas assim, mas as solteiras não
querem nem saber. A verdade é que, casadas, muitas quereriam estar solteiras.
As solteiras queriam a sorte de estarem casadas. Vá se entender.
Assim, volto à
cena que abre este texto. Retomo do silêncio. Ela levantou para por mais uma
foto no instagram. Não era da intimidade deles durante o ato. Um pouco, só. Um
lusco-fusco do embate na cama. Ele meio que não se importava. O casal estava
famoso pelo inusitado que fazia como par. E ela curtia o rebu que os dois
causavam. A estranheza inicial. Mas vive-se um mundo louco em que qualquer
coisa deve ser incluída e transformada em normalidade. Então, que mais dá que
uma moça namore (firme) com sua mochila. É um tanto diferente, mas se eles se
dão bem, que mal tem?
Às vezes,
descobre-se o amor nos lugares mais improváveis. Jantava sozinha (mais um) e seu
olhar vago, que passeava pelo restaurante, sem querer, pousou na cadeira à
frente, onde estava a mochila. Foi como ser atingida por um raio. Ela não
precisaria mais fingir pra ninguém que a mochila era do namorado que foi ao
banheiro ou atender uma ligação importante, embora ela fosse cor de rosa. Mas
quem se importa com estes machismos de cor? Ela era sua companheira por anos.
Eram íntimos. Mochila era uma mochila-macho, substantivo epiceno. Pois não se
confundam que ela seja mais uma lésbica saindo do armário.
A mochila
seria o próprio namorado. Chamou o garçom e pediu que botasse mais um copo na
mesa. Entregou-lhe o celular, encostou o rosto na mochila e abriu um sorriso. O
garçom, como aquele da música do finado Reginaldo Rossi, estava acostumado às
maiores esquisitices humanas no amor, nem titubeou e ainda desejou um bom
jantar para os dois. Um segundo após, a foto estava no perfil fotográfico da
moça. A coisa viralizou instantaneamente. Do nada, ela não só tinha um namorado,
como passou a ser o centro das atenções. Como ela conseguiu? Queriam saber
todas as meninas solteiras.
Este ano, foram
para o passo seguinte: morar juntos. Já moravam, mas cada qual no seu canto.
Agora é dividir escova e sabonete. Estão pensando em casar. Filhos? já veremos.