Filé ao molho madeira, filé ao molho branco,
escondidinho de carne e churrasco. Esses foram os pratos servidos aos
convidados para um almoço de degustação de carne de jumento promovido pelo
Ministério Público do Rio Grande do Norte no município de Apodi, região Oeste do
estado, nesta quinta-feira (13). Os animais que foram abatidos e servidos no
almoço foram apreendidos nas rodovias que cortam o RN.
Fonte: G1
(14/03/2014)
O postulador
da ideia nem bem fechara a boca e um mundaréu, um ror de gente de tudo quanto
era ong, oinc e sei lá mais o quê se inflamou em defesa dos jegues. O promotor
público, também mestre cuca nas horas vagas, dizia que se devia abater e
consumir os jumentos que, por falta de trabalho, infestavam as rodovias do
estado tendo sido causadores, por conta desta vadiagem estradeira, de inúmeros
acidentes. É, por bem dizer, uma epidemia de asininos que vagam sem eira nem
beira.
De certo modo,
pode-se dizer que o Eqqus asinus,
espécie estradeirus, é uma evolução
do jumentinho decantado em prosa, verso e música, e companheiro do sofrido
nordestino a quem nosso inesquecível Luís Gonzaga chamava “nosso irmão”.
Evolução sim, senhoras e senhores, pois diante da seca dos infernos que assola
o Nordeste, sem capim, mandacaru, folha verde de qualquer espécie, os bichos
descobriram que um pedaço de plástico, uma chupa de laranja despinguelada de um
pau de arara ou ônibus, um papel de bala, um resto de pipoca, era muito melhor
que morrer de fome no meio dos matos.
A marca deste
novo bicho é a inteligência que não acompanhou o trote que continua
jumestiticamente lerdo, daí os atropelamentos. E porque este se metamorfoseou?
Falta de trabalho. Já ouviram falar em animal obsoleto? Com trocados e uma
forcinha do Bolsa Família, qualquer um compra um motoneta que serve pra tudo,
substituindo com larga vantagem ao meio de transporte e de trabalho totalmente
ultrapassado que é no que se tornaram os jumentos em geral.
Os jumentos
sofrem de abandono de pai, mãe , parteira e delegado. Sem aposentadoria, um
benefício sequer por gerações de animais que trabalharam de sol a sol, foram
largados ao léu. O tal promotor, volto a ele, mata dois jumentos com uma só
cajadada. Retira-os das estradas e transforma-os em iguaria das mais refinadas.
Inclusive, para diminuir gastos com o sistema prisional, pois os tais
abandonados deveriam se tornar em alimento para os prisioneiros.
Solidários,
mesmo sabendo que o promotor patrocinara uma degustação das mais finas, os
presos se recusaram terminantemente a comê-los, pois de seus congêneres traziam
lembranças, algumas de traquinagens infantis (ou nem tanto) quando com as tais
fêmeas da espécie se iniciaram em vida amorosa diversa da conjunção carnal
humana.
Dos defensores
dos pobres e desamparados jumentos, havia um com cinco alargadores na orelha,
uma argola no focinho, gordo que parecia um boi castrado, a sugerir que se destinasse
os animais aos pequenos agricultores para serviços no campo. Estes se
revoltaram alegando preconceito e que o jumento seria mais uma boca e que o que
queriam mesmo era uma bolsa motocicleta, o que a Dilma se apressou em garantir,
visto que estamos em ano eleitoral.
Outro colega
do primeiro ambientalista defendeu a criação de uma campanha “adote um jumento,
um bicho de mil e uma utilidades”. Apareceu com seu jumento de estimação que
dava a pata, rolava e buscava um graveto quando se jogava longe. Só falta
latir, disse, no que o jumento fez imediatamente uma munganga imitando um
canídeo. Foi rechaçado com empolgação e tudo, mas é só porque as casas e
apartamentos do Minha Casa Minha Vida estão subdimensionados.
O promotor,
recorrendo a leis vetustas, mas garantidoras de que jumento é bom para se
comer, determinou o abate e cortes dos mais requintados para variados pratos.
Determinou ainda que todos os funcionários em cargos comissionados deveriam
comparecer ao lauto almoço, sob pena de demissão, afinal é necessário seguir
aos caros princípios legais que regem a administração pública.
Um conviva, atraído pela
boca livre, não se fez de rogado. Comeu jumento de tudo quanto foi jeito e
gabou-se: já comi tatu-peba, cobra, macaco, minhoca e grilo, jumento é a
primeira vez. É muito bom, só a carne que estava um pouquinho dura, mas foi o
churrasqueiro que deixou estorricar no fogo.