segunda-feira, 4 de março de 2013

A máscara de Jennifer Lawrence


O Oscar de melhor atriz este ano foi para uma atriz jovem, Jennifer Lawrence, mas com carreira consolidada por excelentes atuações e filmes, alguns dos quais dão o que pensar. Sua premiação veio pelo belo desempenho em “O lado bom da vida” vivendo a personagem Tiffany. Uma mulher desorientada em busca de um norte e da cura para as dores da psique. É incrível como o “remédio” continua sendo amor e aceitação.
Eu a conheci no filme “Inverno da Alma”. Denso, cru e realista, conta a história de uma garota que tem que assumir sua família em meio à pobreza, violência e um mundo hostil. Ela quer encontrar o pai que desapareceu, possivelmente por envolvimento com drogas. Passou meio despercebido dos cinemas brasileiros que só querem saber dos blockbuster, com as exceções de praxe.
Ela fez também “Jogos Vorazes”, há que pagar as contas, afinal, e participou da franquia X-Men, além de outros. Apesar de admirá-la, acho que o Oscar veio cedo. A atriz francesa Emmanuelle Riva com quem concorria, de 86 anos, e uma carreira incrivelmente longeva e de grande experiência, provavelmente deveria ganhar pela personagem Anne em “Amor”, um filme que trata das agruras de um casal que tem que cuidar um do outro na velhice, sendo que a esposa sofreu um derrame e tem parte do corpo paralisado.
Feita esta introdução – uma forma de compartilhar com vocês, leitores, minha paixão por cinema – quero falar de outra coisa. Vamos ao ponto de partida. A Jennifer participou de um comercial de bolsas da Dior. A imagem, que esbanja sofisticação, parece quase etérea. Foi completamente manipulada pelo fotoshop. A atriz, questionada sobre o resultado, declarou sem papas na língua que na realidade não é daquele jeito e acrescentou: “é claro que ninguém é assim na vida real.”
O excesso de sinceridade causou desconforto na Dior, que vive da venda de imagens de seus produtos caríssimos para pessoas supostamente muito especiais, mas apenas por causa da conta bancária dos seis dígitos para cima. Classe, elegância, sofisticação são ideias culturalmente determinadas, economicamente manipuladas. São máscaras aprendidas, às vezes necessárias para atender a um modelo exigido em certos círculos, noutras vezes pura simulação de um valor que, no real, não existe.
Jennifer afirmou algo que todo mundo sabia e mesmo que negasse, é quase impossível esconder algo público e notório num mundo em que todos têm acesso a formas de saber a verdade, especialmente com a tecnologia disponível na internete. O desconforto da Dior sugere não uma mentira propriamente, mas o mal estar pela desconstrução de uma fantasia da qual ela vive e investe milhões. Assim acontece conosco.
A verdade é um bisturi que expõe nossas entranhas. Precisamos nos cobrir com roupas de certo tipo e marca, necessitamos alterar a aparência com pinturas de cabelo, maquiagem, adereços que chamem a atenção para eles e não para nós. De quebra, ganhamos um pouco de conforto ao enganar explicitamente a nós e aos outros, mas todos sabem que não é real tanto quanto um sorriso perfeito e alinhado de alguém aos noventa anos com sua prótese bucal.
A persona é necessária, como diria Jung. Atende a uma necessidade nos muitos espaços por onde transitamos.  A questão problemática – aqui certamente reside um grande dilema atual – é o apego excessivo à persona. Ora, se esta é transitória, imagem projetada, criada – ver o filme My Fair Lady, com Audrey Hepburn –, adaptativa, não é, por suposto, o próprio indivíduo. Corre-se o risco de ficar apenas com a imagem idealizada, distante da real, submersa debaixo de muitas camadas de simulações e máscaras superpostas. Isto costuma resultar em desagregação interna.
A atriz parece saber quem é. Pelo menos fisicamente. Isso é bom. Pode-se, nestes casos, usar a máscara da ocasião, que nos adequa, e voltar para nossa velha e conhecida imagem. Saber-se quem é, é o caminho/mapa seguro para achar o lugar para onde se deve voltar. Para nós mesmos. Aceitados, congruentes e reconhecidos. Às vezes costuma-se chamar isso de um ingrediente da felicidade.

domingo, 3 de março de 2013

Flatular nas alturas é saúde


Cinco gastroenterologistas da Dinamarca e do Reino Unido escreveram artigo no qual dizem que soltar gases faz bem para a saúde. No avião, apesar de os passageiros poderem receber um tratamento ruim por parte dos outros viajantes como resultado de sua decisão pessoal de se aliviar, os benefícios para saúde compensam os impactos negativos.

Fonte: UOL Notícias Ciência - Em Wellington, Nova Zelândia (20/02/2013)

Não sei se você já ouviu falar no Ig Nobel Awards. Ele está para o Nobel assim como o Framboesa de Ouro está para o Oscar. Nenhum cientista quer receber este prêmio, que é uma sonora gargalhada pela sua descoberta ou pesquisa assim, como direi... inusitada. Do mesmo modo, diretores e atores receberem a tal Framboesa é uma marca indelével na carreira, uma espécie de nódoa que só sai com um Oscar. O que isso tem a ver com flatulência? Continue lendo, em silêncio, ouviu?
Se você viaja de avião com alguma regularidade já deve ter sido vítima ou autor de um flato kamikaze. Apelido assim porque se o indivíduo é capaz de fazer isso, dentro de um tubo pressurizado a quase mil km/h, correndo o risco de derrubar o avião, é um suicida em potencial.
Imagine que o maldito flatulento silencioso resolveu se aliviar nas imediações de sua cadeira. Digo silencioso, porque com a pressão, o ouvido entope e não se ouve muito bem. Devia entupir o nariz, não é? A caçada começa para descobrir o autor do crime. Olha de lado, estica o pescoço. Não que adiante muita coisa. Você descobre quem é, e daí? Vai chamar um comissário de bordo e solicitar que o criminoso seja retirado do avião? Olhar com a cara feia para ele ou ela não vai adiantar, pois há que se ter certeza da autoria e haverá, pelo menos, quinze potenciais bufões ao seu redor.
Por vergonha, para não se denunciar e não sofrer uma culpa injustificada, você aguentou a fedentina heroicamente, nem tapou o nariz. Ou você estava despistando? Ok. Esforçou-se na vã tentativa de descobrir o infeliz autor e encontrou rostos vazios, gente fingindo dormir, olhando pela janela, lendo um livro: todas situações comuns num voo e você tentando achar algo fora do lugar. Sei lá, um sorriso nervoso, uma cara desconfiada e nada.
Desiludido, você experimentou não respirar, até olhou para cima suplicando que uma turbulência fizesse uma máscara com oxigênio caísse no seu colo e salvá-lo. O voo segue uma maravilha. E você lá, sem ar, arroxeando. Mas se passaram somente trinta segundos. Então, sufocando, inala o máximo de ar que pode, eram os resquícios finais do traque assassino.
Pois bem, um grupo de cientistas – vejam só, não foi só um cientista – (agora candidatos ao Ig Nobel) fez um belo estudo sobre soltar pum nas alturas. Um deles foi provocado em sua curiosidade depois de sofrer uma experiência a dez mil metros de altitude. Pesquisa daqui, faz revisão de literatura dali e voilá. Soltar traque na quase estratosfera faz bem à saúde. Isto porque, aparentemente, produzimos mais gases nestas condições. Imagine a vida da galera na estação espacial. Ah, eles fizeram simulações sendo o piloto ou o co-piloto detonando. Numa delas o avião cai. Quem você acha que peidou?
A conclusão da pesquisa é: ignore a educação, os tais bons modos e o nariz alheio e se alivie, não se reprima. Será que era isso que os Menudos queriam dizer com aquela música chata deles? Ou é falta de educação ou inchaço da barriga, dores, queimação. Então, você já sabe: ora, danem-se os narizes mais delicados. O povo já peida na cara dura, imagine com incentivo. Agora será assim. O sujeito solta um traque e lhe olha satisfeito, com alívio e diante de seu olhar desgostoso, diz: recomendação médica. Não seria interessante algo para neutralizar este ataque terrível que sofreremos doravante?
Os cientistas descobriram que as poltronas estreitas e duras da classe em que você voa, a dos pobres, quero dizer, a econômica, pasmem, absorve 50% da catinga. Os bancos de couro da primeira classe, necas. Sugeriram entupir os bancos de carvão ativado e mantas também para aumentar o poder de absorção. Um espírito de porco sugeriu um aparelho para descobrir o autor do vento para encapsulá-lo, mas tudo isso custa dinheiro e as empresas aéreas não querem nem saber. Querem oferecer uma nova classe, sem odor de peido, mas vai custar os olhos da cara.