domingo, 20 de novembro de 2011

Praga humana


O mundo chegou aos sete bilhões de almas viventes. Haja comida, casa, trabalho e água potável para tanta gente. Agora lascou. Dizem que ainda não precisaremos viver todos em quitinetes à moda japonesa, mas chegaremos lá. A sensação que tenho, entretanto, é que já me falta um tantinho assim de ar. Nem consigo mais comer sem cutucar alguém do lado com meu cotovelo. De repente, sou acossado pela quase certeza de que sou vizinho de toda essa gente. Mas não me refiro às babaquices românticas dos ecochatos de que habitamos a mesma nave mãe e blá, blá, blá. Tô falando do barulho, do mau cheiro, dos maus modos, dos malas e chatos. Ah, meus caros leitores, estes vão se replicar como bactérias.
Faça um exercício simples do seu presente-futuro. Imagine fila de banheiro agora. Novos inquilinos terão que pedir senha antes de nascer para dar as caras. Terá que haver rodízio de quem come. Sair na rua ou até dentro de casa, também rodízio. Números de posição de nascimento pares: segunda, quarta e sexta. Ímpares: terça, quinta e sábado. Domingo é para a galera que nasceu em 29 de fevereiro.
Evidentemente nem todos estão contribuindo de forma igual nesta competição em que nos reproduzimos como ratos. Alguns países estão especialmente empenhados. Os países mulçumanos em geral por que querem afogar a civilização judaico-cristã-ocidental com suas barbas, turbantes e burcas reprodutoras de Mohameds. Os hindus porque inventaram o kama sutra e, como dizia a Zezé Macedo em seu personagem na Escolinha do Professor Raimundo, só pensam naquilo. Os chineses porque querem ter um mercado comprador dentro de casa e dominar o mundo como segundo plano.
Nós no Brasil estamos encolhendo. A mulherada diminuiu ainda mais sua taxa de fertilidade, diz o IBGE. Em 2010, as brasileiras tiveram apenas 1,86 filho por mulher. Não se assuste, não nasceu ninguém 0,86 gente. É só uma abstração estatístico-epidemiológica. Claro, isto tem um lado bom. Teremos mais espaço que os outros, mas faltará braço quando tivermos que nos defender das invasões das hordas famintas. Perguntem aos bolivianos se não é verdade.
O site da BBC Brasil comemorou esta incrível façanha reprodutora humana criando um dispositivo em que você digita a data de seu nascimento e voilá, o sistema diz qual é o seu número entre os sete bilhões. Outro número, este monstruosamente grande, diz qual é sua posição entre todos os seres humanos que existiram na terra até hoje.
No dia do meu nascimento eu ocupei a mastodôntica posição 3.334.470.205... Ufa! Por posição eu deveria lê-lo na forma ordinal, mas como minha matemática nunca passou do elementar, não sei ler isto. Assumo, sou analfabeto em tal assunto. Mas a coisa piorou. De todos os terráqueos vivos e mortos que palmilharam este solitário planeta eu sou o 77.242.526.004. Bom, aí nem na forma arábica me atrevo a ler.
A pergunta que corrói o juízo é como sabem que viveram este mundo de gente até hoje desde os primórdios? Por exemplo: inclui o primeiro cara que um dia, cansado de ser um piteco qualquer da vida, desceu da árvore e caminhou sobre as duas patas anteriores? Ou, para agradar aos religiosos, inclui nosso velho conhecido Adão e, por suposto, sua bela Eva? Exclui a serpente? Certo, não consta que fosse humana, embora, a seu modo, nos tenha legado coisas hoje demasiadamente humanas.
O que significa tudo isso? Não tenho a menor ideia. Divago. Outro exemplo. Qual é o número fatal em que haverá tanta gente que estarão escapulindo para o espaço sideral pelas beiradas? Há várias projeções, ninguém se entende nesse particular. Mas uma coisa chegar aos sete bilhões rendeu. As aves do agouro, leia-se apocalípticos de todo quilate, estão mais vivos do que nunca. Não destituídos de toda razão, convenhamos. Afinal, se pensarmos bem, nem precisaremos de bombas e outros telecotecos para nos acabar. Nós seremos nossa própria bomba. Com tanta gente por aí, uma hora vai faltar bolsa Vuitton pra todo mundo, embora os chineses não descansem dia e noite produzindo cópias populares. Nem se fale no filezinho com fritas. Apartamento de cobertura, então, vai ficar pela hora da morte. Vai ser o fim.