domingo, 2 de novembro de 2014

Comedores de insetos



A Jumbo, segunda maior empresa de supermercados da Holanda, começará a comercializar produtos com insetos, como hambúrgueres feitos com vermes e aperitivos de larvas, a partir de 2015. A rede diz que eles serão uma opção "saudável e sustentável" ao consumo de carne ou peixe.

Fontes: Seção Mercados 31/10/2014 e Blog Veg (Yuri Gonzaga), ambos na Folha de São Paulo.

Comer inseto? Posso antever leitores torcendo a cara. Tem gente que não consegue olhar uma barata ao vivo. Os mais fóbicos, nem em retrato. Um supermercado holandês decidiu vender em suas gôndolas sofisticados acepipes de insetos, vermes – que não são insetos, mas fases larvárias dos ditos cujos. Hambúrgueres de grilo. Traseirinhos de tanajuras empanadas. Gafanhotos fritos ao óleo de gongos. O céu será o limite. Já existe chocolate com insetinhos crocantes dentro. Você está ali comendo a coisa e, esquecido de passar o fio dental ou uma boa escovada, correrá o risco de sair por aí com pedaços de élitros entre dentes. Como sempre, estamos atrasados. Nossa Vigilância Sanitária faz um escarcéu quando um consumidor dedura uma patinha ou restos não identificáveis de insetos dentro da massa de um pãozinho francês. Até fecham a padaria do inovador padeiro, coitado.
O que me estranha na inciativa é que os moderninhos holandeses – isso, não parece, mas é um tipo muito especial de gente que inventa esse tipo de marmota – alegam que comer insetos é uma boa opção, sustentável, dizem, à carne de gado, galinha e peixes. Justo num país de abundância. Até onde sei, não consta que os moradores do país europeu estejam em situação de bolsa-família para baixo. Pergunta a um pobre se ele quer comer uma ensalada de vermes do besouro fura-pau com minhocas ao azeite? Se for no Nordeste, vai ouvir um: vai-te-lascar. A não ser que se prometa um troco e finja que ele participa de uma competição. Também sei, minhoca não é inseto, é um anelídeo oligoqueta. Permitam a licença poética, pois não?
Olha, nunca comi um inseto na vida, mas acho que essa gente está exagerando um poquito así. Responda depressa: quantos grilos são necessários para uma bocada generosa? Aquela que você percebe que tem algo na boca, não morder com incisivos centrais como o faria o Zacarias com aqueles dentinhos protuberantes ridículos. Tem-se sempre a opção de completar com uma boa mão cheia de farinha. Jogada à distância da boca, por suposto.
Mundo esquisito à parte, se vive a era das minorias todas com status de estrelas especiais. Em paralelo à notícia da venda dos insetos alimentícios, o blog Veg da Folha anuncia com pompa e circunstância uma rede social chamada Namoro Veg. Os adeptos das folhas vão aumentar as chances de acharem namorados (as) ou outras coisas parecidas sem risco de se deparar com um carnívoro mal passado. Cacique, se não fosses casado, hein? Surgiu-me a ideia de que se faça também uma rede social para atender os comedores de insetos. Não sei como os veganos se arranjarão no quesito preferência. Os que gostam de abobrinha e tubérculos. Os que só comem folhas e tomam suco de gengibre. Mas imagino uma baita confusão entre os insetívoros. Não é só o sabor, pretendentes insetigófagos. É a forma dos bichinhos, a posição dele na cadeia alimentar. Suponho que os que comem insetos predadores não quererão dividir cobertas com aqueles que só comem insetos herbívoros.
Pior ainda, quem gosta de inseto venenoso, gosta de perigo, como quem come baiacu. É a adrenalina da possibilidade de, numa mordida, morrer-se em pleno gozo da satisfação culinária como o faz Luís Fernando Veríssimo em o Clube dos Anjos da coleção sete pecados da Objetiva. Como é que vai andar junto com um pacato comedor de grilo? Acho que categorizarão por ordens: coleópteros, hemípteros, blatódeos, ortópteros e por aí vai. Isso vai virar partido político num pulo, o que não alteraria em nada a fauna já existente no congresso nacional.
        Fica a sugestão. Da próxima vez que você for a um restaurante e, de repente, deparar-se com alguma coisa que lembre um inseto, relaxe, entre na onda. Se for mosca, reclame: o preço do quilo está pela hora da morte e eles colocam ali só para enganar o freguês, não dá nem para sentir o sabor.