A Jumbo, segunda maior empresa de supermercados da Holanda, começará a
comercializar produtos com insetos, como hambúrgueres feitos com vermes e
aperitivos de larvas, a partir de 2015. A rede diz que eles serão uma opção
"saudável e sustentável" ao consumo de carne ou peixe.
Fontes: Seção
Mercados 31/10/2014 e Blog Veg (Yuri Gonzaga), ambos na Folha de São Paulo.
Comer inseto?
Posso antever leitores torcendo a cara. Tem gente que não consegue olhar uma
barata ao vivo. Os mais fóbicos, nem em retrato. Um supermercado holandês decidiu
vender em suas gôndolas sofisticados acepipes de insetos, vermes – que não são
insetos, mas fases larvárias dos ditos cujos. Hambúrgueres de grilo. Traseirinhos
de tanajuras empanadas. Gafanhotos fritos ao óleo de gongos. O céu será o limite.
Já existe chocolate com insetinhos crocantes dentro. Você está ali comendo a
coisa e, esquecido de passar o fio dental ou uma boa escovada, correrá o risco
de sair por aí com pedaços de élitros entre dentes. Como sempre, estamos
atrasados. Nossa Vigilância Sanitária faz um escarcéu quando um consumidor
dedura uma patinha ou restos não identificáveis de insetos dentro da massa de
um pãozinho francês. Até fecham a padaria do inovador padeiro, coitado.
O que me
estranha na inciativa é que os moderninhos holandeses – isso, não parece, mas é
um tipo muito especial de gente que inventa esse tipo de marmota – alegam que
comer insetos é uma boa opção, sustentável, dizem, à carne de gado, galinha e
peixes. Justo num país de abundância. Até onde sei, não consta que os moradores
do país europeu estejam em situação de bolsa-família para baixo. Pergunta a um
pobre se ele quer comer uma ensalada de vermes do besouro fura-pau com minhocas
ao azeite? Se for no Nordeste, vai ouvir um: vai-te-lascar. A não ser que se prometa
um troco e finja que ele participa de uma competição. Também sei, minhoca não é
inseto, é um anelídeo oligoqueta. Permitam a licença poética, pois não?
Olha, nunca
comi um inseto na vida, mas acho que essa gente está exagerando um poquito así.
Responda depressa: quantos grilos são necessários para uma bocada generosa?
Aquela que você percebe que tem algo na boca, não morder com incisivos centrais
como o faria o Zacarias com aqueles dentinhos protuberantes ridículos. Tem-se
sempre a opção de completar com uma boa mão cheia de farinha. Jogada à
distância da boca, por suposto.
Mundo
esquisito à parte, se vive a era das minorias todas com status de estrelas
especiais. Em paralelo à notícia da venda dos insetos alimentícios, o blog Veg
da Folha anuncia com pompa e circunstância uma rede social chamada Namoro Veg.
Os adeptos das folhas vão aumentar as chances de acharem namorados (as) ou
outras coisas parecidas sem risco de se deparar com um carnívoro mal passado.
Cacique, se não fosses casado, hein? Surgiu-me a ideia de que se faça também
uma rede social para atender os comedores de insetos. Não sei como os veganos
se arranjarão no quesito preferência. Os que gostam de abobrinha e tubérculos.
Os que só comem folhas e tomam suco de gengibre. Mas imagino uma baita confusão
entre os insetívoros. Não é só o sabor, pretendentes insetigófagos. É a forma
dos bichinhos, a posição dele na cadeia alimentar. Suponho que os que comem
insetos predadores não quererão dividir cobertas com aqueles que só comem
insetos herbívoros.
Pior ainda,
quem gosta de inseto venenoso, gosta de perigo, como quem come baiacu. É a
adrenalina da possibilidade de, numa mordida, morrer-se em pleno gozo da
satisfação culinária como o faz Luís Fernando Veríssimo em o Clube dos Anjos da
coleção sete pecados da Objetiva. Como é que vai andar junto com um pacato
comedor de grilo? Acho que categorizarão por ordens: coleópteros, hemípteros,
blatódeos, ortópteros e por aí vai. Isso vai virar partido político num pulo, o
que não alteraria em nada a fauna já existente no congresso nacional.
Fica a sugestão. Da próxima vez que você for a um restaurante
e, de repente, deparar-se com alguma coisa que lembre um inseto, relaxe, entre
na onda. Se for mosca, reclame: o preço do quilo está pela hora da morte e eles
colocam ali só para enganar o freguês, não dá nem para sentir o sabor.