quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Entre a profecia autorrealizável e o otimismo

Por que dizemos algo e, como que dotados de poderes proféticos, vemos aquilo se realizar? O que acontece quando alguém aceita um rótulo e age como se fosse aquilo que disseram dele ou dela?
Estamos falando de duas coisas entrelaçadas. A profecia autorrealizável, um termo cunhado em 1948 pelo sociólogo Robert Merton, e o estereótipo. A primeira tem a ver com uma afirmação, na maioria dos casos não verdadeira, que é capaz de estimular comportamentos que induzem as pessoas a se tornarem ou a contribuir com aquilo que desejam... ou não.
O estereótipo é uma crença arraigada sobre uma situação ou pessoa(s) capaz(es) de modelar seus comportamentos de forma que acabam cumprindo aquilo que é dito a seu respeito. Em ambos os sentidos: positivo e negativo.
Tali Sharot, em seu livro O Viés Otimista, cita um experimento em que alunos, de uma escola primária, foram aleatoriamente escolhidos por um psicólogo e deles se disse que estavam num ponto de significativo desenvolvimento intelectual. A informação era falsa, mas os professores não sabiam. Ao final do ano, a previsão se concretizou: não só os alunos tiraram melhores notas que os demais, de quem em nada se diferenciavam em termos intelectuais, como obtiveram melhor pontuação em testes de QI. Qual foi a mágica?
Os professores, acreditando que lidavam com pessoas especiais, lhes deram mais atenção, mais retorno sobre seu desempenho e maior estímulo à participação nas aulas. Resultado: eles se tornaram de fato especiais. A conclusão do estudo é que as pessoas são enormemente afetadas pelo que se espera delas.
Isso vale para o estereótipo. Aquele que aprendeu a ser menor, inferior, menos capaz, agirá como tal. Acredita nisso, tem cérebro domesticado. Experiências provaram que os considerados superiores se mostram mais confiantes, e os inferiores assustadiços, e realizam atividades com pior desempenho. A boa notícia é que, tão logo o estereótipo é desconstruído, os inferiores demonstram tanta capacidade e habilidade quanto qualquer um. Cidadãos indianos da casta dos párias  vivendo nos EUA costumam demonstrar desenvoltura e serem bem sucedidos, ao passo que seus iguais na Índia vivem empobrecidos e nos estratos inferiores da sociedade. O estereótipo é uma profecia autorrealizável.
Pensar de uma determinada maneira ou acreditar em algo desencadeia uma miríade de “pequenas” ações, às vezes inconscientes, que terminarão por favorecer ou criar a situação propícia à realização de objetivos. Uma boa dose de otimismo é fundamental. O otimismo, por si, nada realiza. Mas ele motiva a se andar em determinada direção e fazer aquilo que nos cabe ou está ao nosso alcance na expectativa de que o bom se realize. Se o otimismo falha em sua previsão, ele bate a poeira, identifica o erro, aprende com ele e tenta outra vez.
O pessimista é um fatalista. Para ele, o mundo está determinado e nada há o que fazer ou, se condescende, até aceita que deve haver algo bom pelo que esperar, mas nada sabe a respeito disso e provavelmente não vale a pena. O pessimista tem um quê de perfeccionista, pois tende a transformar o menor revés na pior catástrofe, caso não ocorra na exatidão matemática que espera. Ele atrai o mal, não porque seja um destinado a cumprir uma sina ruim, mas porque trabalha para ele com sua negação a tudo.
O otimista não tem compromisso com a infalibilidade. Ele atrai o bem porque o persegue. Compreende que o mal é contingente, aceita que é parte do processo apenas, mas seu alvo e busca está nas coisas boas e nelas se concentra. Quando vê um abismo, pensa logo em como construir uma ponte; o pessimista continua caminhando em sua direção porque desacredita que pode parar, se quiser.