Por que
dizemos algo e, como que dotados de poderes proféticos, vemos aquilo se
realizar? O que acontece quando alguém aceita um rótulo e age como se fosse
aquilo que disseram dele ou dela?
Estamos
falando de duas coisas entrelaçadas. A profecia autorrealizável, um termo
cunhado em 1948 pelo sociólogo Robert Merton, e o estereótipo. A primeira tem a
ver com uma afirmação, na maioria dos casos não verdadeira, que é capaz de
estimular comportamentos que induzem as pessoas a se tornarem ou a contribuir
com aquilo que desejam... ou não.
O estereótipo
é uma crença arraigada sobre uma situação ou pessoa(s) capaz(es) de modelar
seus comportamentos de forma que acabam cumprindo aquilo que é dito a seu
respeito. Em ambos os sentidos: positivo e negativo.
Tali Sharot,
em seu livro O Viés Otimista, cita um experimento em que alunos, de uma escola
primária, foram aleatoriamente escolhidos por um psicólogo e deles se disse que
estavam num ponto de significativo desenvolvimento intelectual. A informação
era falsa, mas os professores não sabiam. Ao final do ano, a previsão se
concretizou: não só os alunos tiraram melhores notas que os demais, de quem em
nada se diferenciavam em termos intelectuais, como obtiveram melhor pontuação
em testes de QI. Qual foi a mágica?
Os
professores, acreditando que lidavam com pessoas especiais, lhes deram mais
atenção, mais retorno sobre seu desempenho e maior estímulo à participação nas
aulas. Resultado: eles se tornaram de fato especiais. A conclusão do estudo é
que as pessoas são enormemente afetadas pelo que se espera delas.
Isso vale para
o estereótipo. Aquele que aprendeu a ser menor, inferior, menos capaz, agirá
como tal. Acredita nisso, tem cérebro domesticado. Experiências provaram que os
considerados superiores se mostram mais confiantes, e os inferiores
assustadiços, e realizam atividades com pior desempenho. A boa notícia é que,
tão logo o estereótipo é desconstruído, os inferiores demonstram tanta
capacidade e habilidade quanto qualquer um. Cidadãos indianos da casta dos
párias vivendo nos EUA costumam
demonstrar desenvoltura e serem bem sucedidos, ao passo que seus iguais na
Índia vivem empobrecidos e nos estratos inferiores da sociedade. O estereótipo
é uma profecia autorrealizável.
Pensar de uma
determinada maneira ou acreditar em algo desencadeia uma miríade de “pequenas”
ações, às vezes inconscientes, que terminarão por favorecer ou criar a situação
propícia à realização de objetivos. Uma boa dose de otimismo é fundamental. O
otimismo, por si, nada realiza. Mas ele motiva a se andar em determinada
direção e fazer aquilo que nos cabe ou está ao nosso alcance na expectativa de
que o bom se realize. Se o otimismo falha em sua previsão, ele bate a poeira,
identifica o erro, aprende com ele e tenta outra vez.
O pessimista é
um fatalista. Para ele, o mundo está determinado e nada há o que fazer ou, se
condescende, até aceita que deve haver algo bom pelo que esperar, mas nada sabe
a respeito disso e provavelmente não vale a pena. O pessimista tem um quê de
perfeccionista, pois tende a transformar o menor revés na pior catástrofe, caso
não ocorra na exatidão matemática que espera. Ele atrai o mal, não porque seja
um destinado a cumprir uma sina ruim, mas porque trabalha para ele com sua
negação a tudo.
O
otimista não tem compromisso com a infalibilidade. Ele atrai o bem porque o
persegue. Compreende que o mal é contingente, aceita que é parte do processo
apenas, mas seu alvo e busca está nas coisas boas e nelas se concentra. Quando
vê um abismo, pensa logo em como construir uma ponte; o pessimista continua
caminhando em sua direção porque desacredita que pode parar, se quiser.
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