sábado, 30 de julho de 2011

O diabo em pele de gato

Um gatinho de seis semanas teria sido abandonado em uma rodovia perto de Kempston, no Reino Unido, porque seria parecido com o nazista Adolf Hitler. Segundo o jornal inglês "Daily Telegraph", o felino ganhou o apelido de "Kitler", trocadilho dos termos "kitten" (gatinho) e Hitler. O gato foi levado para o centro de animais Wood Green, em Godmanchester.

Fonte: Do G1, em São Paulo

A petição percorrera todos os escaninhos burocráticos que a questão exigia. Chegara, por fim, aos altos escalões administrativos dos círculos infernais. Nada se fez, contudo, sem as comprovações necessárias tais como: tipo de morte, tempo decorrido, o primeiro lugar de purificação pelo qual passara o requerente. Estas exigências tinham particular valor na estrita organização no destino das almas. Carimbos, registros, taxas: havia que ter tudo em dia e na sequência correta. Uma única vírgula fora do lugar botava a perder todo o esforço, para deleite dos chefes de seções.
Dante legou-nos um mapa pormenorizado, daí porque podemos contar a história com alguma garantia geográfica. O enredo desta incrível história, entretanto, vem de outras fontes.
        Centenas de anos se passaram em cada seção. Em sua maioria, eram presididas por aqueles que exerceram cargos políticos à maneira brasileira. Havia gente de todo o mundo. Afinal, eram muitas seções, mas havia particular predomínio de brasileiros. Sua longa experiência em vida lhes valeram os postos. Caras toscas, olhos baços, corpanzis esparramados em equilíbrio circense em poltronas de uma única perna.
Para azar e surpresa de nosso personagem, ele fora jogado no círculo mais profundo, coisa de milhares de quilômetros de fundura. O espanto dele é porque cria firmemente que sua obra terrena tinha relevante importância, coisa de mudar o mundo e dar-lhe novo rumo por, no mínimo, mil anos. Fracassou. Talvez isso explicasse a vizinhança fétida e asquerosa que teve que suportar, os próprios demônios em pessoa. Vizinhança ruim é uma praga.
        Mas ali chegara. Os juízes o olhavam com alguma curiosidade, entre atônitos e desdenhosos. É que há milênios ninguém fora tão longe, o que se devia à feroz burocracia que tão bem organizava o sistema. Havia fastio em seus olhos e aborrecimento. Você está ciente do longo percurso? A transmigração começa nos mais baixos níveis das criaturas vivas. Estou ciente, sua magnificência. O juiz fez um esgar. Se me permite a impertinência, gostaria de saber em qual ser voltarei. Entreolharam-se.
        Um longo silêncio se fez. Tudo ali se passava lentamente. É como se a cada ato estivessem aprendendo o beabá da função. Não sabemos, respondeu o juiz chefe. Ele estava tranquilo. Remexeu o pequeno bigode, em incontrolável satisfação. É que um antigo auxiliar era o responsável por escolher o veículo corporal da volta. Trabalhara num campo de concentração o tal e fizera inúmeras experiências com seres humanos e sempre lhe fora cegamente fiel.
        Com a vossa vênia, ilustríssimos juízes, o que decidem ao meu pleito? É que tenho trabalho incompleto entre os terrestres e não há nada que mais me frustre do que começar e não terminar uma tarefa. Carreguei isso comigo todos estes anos. Outro grande silêncio. A corte remexia pilhas de papéis, pastas e volumes que compunham o processo. Ao fim de um tempo longuíssimo, em que babujaram palavras indistinguíveis entre si, disseram em uníssono: autorizamos sua volta.
        Com seu amigo e lacaio, havia combinado vir num gatinho. Farei uma concessão a Art Spiegel e riu-se. Não viria homem, mas algo mais próximo já lhe satisfazia, embora quisesse um pastor alemão, mas o temperamento dos gatos lhe convinha. Precisava de sutileza. Enganara aqueles bobões sonolentos. Houve um preço, sem dúvida, devia a muita gente na interminável corrente de servidores infernais.
        Na passagem, seu amigo disse que deveria retirar o bigode, pois fora de ousados lugares íntimos femininos, não ouvira falar que alguém o tenha imitado, exceto para desdenhar-lhe. Ele recusou-se. Assim veio. O bigode reproduziu-se no gato, que logo causou assombro e medo. A gata mãe negou-lhe o leite e da ninhada foi jogado fora, ao frio e à fome. Um garoto endiabrado o pegou, jogou-o num terreno baldio e atiçou-lhe seu Pitbull. Correu desesperadamente dos dentes, ainda conseguiu dar dois dribles na fera. Afinal, foi estraçalhado enquanto ouvia os risos sádicos do garoto. Num último suspiro pensou: quem sabe uma ameba da próxima vez. Morreu.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Uma amigo do peito, ops, do povo

Um relatório do Tribunal de Contas do Estado do Piauí aponta que o deputado estadual Robert Rios (PC do B) usou R$ 9.455,70 da Assembleia Legislativa para pagar implantes de silicone para os seios para sua então mulher, em 2009.
O texto desta semana homenageia os ilustres deputados federais Cléber Verde e Pinto Itamaraty, campeão e vice em gastos da cota parlamentar na Câmara Federal, apenas no primeiro semestre. O primeiro gastou R$166.781,22. O segundo gastou R$155.705,27. Um feito. Deixaram para trás 511 outros dedicados membros do legislativo federal.

Fonte: Folha DE SÃO PAULO

Deputado Riachinho, o senhor poderia nos dar uma entrevista sobre o escândalo que envolveu seu nome? Escândalo??!! Meu caro jornalista, Deputado Riachinho não se mete em escândalo. Eu sou um humilde servidor do povo. Se meu nome está citado em alguma coisa que VOCÊ chama de escândalo, com certeza é porque EU me sacrifiquei pelo povo. Fui lá, botei o dedo na ferida. Defendi os pobres.
Mas deputado, o senhor é acusado de pagar as mamas de sua mulher... desculpe, as tetas... perdão, os peitos... ai... Mil perdões, não quero ser desrespeitoso. Você quer dizer os seios? Isso, deputado, os seios de sua mulher.  Dizem que gastou da verba indenizatória mais de nove mil reais. Convenhamos, deputado, não há povo nesta história.
Inacreditável! Estou pasmo! Com certeza, a deturpação da história tem o dedo de meus adversários políticos. Então, jornalista, você quer me convencer que minha mulher não é povo? Você é casado meu jovem? Não, deputado. Logo vi. Não quis dizer que sua mulher não é povo, mas é muito dinheiro por um par de seios. Implantes, meu jovem, importados dos Estados Unidos. Os melhores que há. Não explodem, são macios, grandes, assim... (faz o movimento com as mãos para dar ideia de volume).
O senhor vai devolver o dinheiro? Veja bem, sequer fui intimado sobre o tema. Desconheço qualquer intervenção estética nos seios de minha mulher. E posso lhe afirmar com segurança, eu durmo com ela. Mas o senhor acabou de concordar que ela fez, deputado. Não senhor, não ponha palavras em minha boca. Questionava sua opinião de que minha mulher não é povo.
Deputado Riachinho, há provas de que sua mulher implantou silicone nos seios com dinheiro público. Como diz meu amigo Lula, jornalista é tudo babaca, com todo respeito. Vejo que insiste nesta potoca dos meus adversários. Se minha mulher implantou qualquer coisa no lugar que for, é assunto íntimo dela. Quem sou eu para dizer para ela botar peito ou tirar peito? Mas a autorização da verba é sua, tem sua assinatura.
Olhe, jornalista, eu só concordei em atendê-lo porque pensei que falaríamos da saúde do povo, que é a coisa pela qual mais trabalho. Para sua informação, só neste ano, encaminhei verbas para mais de dois postos de saúde todo equipado com esparadrapo, mertiolate, gaze, álcool – em gel que é para ninguém se queimar –, tesourinha, uns comprimidos de cibalena e três sacos de casca de laranja para curar dor de barriga. É um santo remédio, dizia minha avó. Deputado Riachinho só pensa numa coisa, dia e noite, meu rapaz, em servir ao povo.
Deputado, o senhor está ciente de que o ministério público vai investigar a compra dos implantes do seio de sua mulher? Ainda não fui informado. E como é que você acha que eles vão investigar, apalpando os peitos de minha mulher? Não senhor, com provas documentais. Papel não prova nada, meu jovem, mas se alguém se atrever a querer ver a prova ao vivo, vai ter morte, porque não sou homem de ser envergonhado. Com a honra alheia não se brinca. Vai ter sangue! (grita o deputado olhando diretamente na câmera enquanto sai com um risinho na boca).