É raro um
escritor conseguir reunir prosa agradável, fluida e bem escrita associada ao
rigor científico. Scott Stossel, jornalista e editor americano o faz com grande
sucesso no livro “Meus tempos de Ansiedade: medo, esperança, terror e a busca
da paz de espírito.”, lançado em 2014 nos EUA e por aqui pela Cia da Letras também
ainda no ano passado.
Stossel usa
sua própria história como pano de fundo para visitar centenas de referências em
pesquisa recentes e clássicos que abordam este mal humano, mas que, como li recentemente,
também acomete até aos crustáceos como o lagostim vermelho.
Meus tempos de
ansiedade é, a um só tempo, pungente, engraçado e extremamente informativo,
seja para o leigo ou para o profissional que cuida de pessoas nestas condições.
Sim, no plural, porque a ansiedade é bicho metamorfo e escorregadio e com mais
de duas caras. O autor, falando em primeira pessoa, é um verdadeiro manual
sobre a doença, sem esquecer sua experiência própria com, provavelmente, todos
os psicofármacos, de A a Z, existentes no mercado. Neste tema, ele traz
inúmeras histórias pitorescas sobre diversos remédios já velhos conhecidos de
muitos usuários. Em alguns casos, o puro acaso produziu a descoberta.
Ele realiza
uma busca séria e quase quixotesca para explicar a sua condição que, a despeito
de décadas de tratamento – atendimento terapêutico de várias abordagens e
remédios – ainda luta contra uma mente rebelde ao controle, à paz e quietude.
Ainda assim, Stossel é um modelo seja de nossa precariedade no tratamento deste
transtorno, mas também dos avanços que foram possíveis que, sim, tem devolvido
a saúde para muita gente e em casos resistentes como o do escritor, fornecido
ferramentas cognitivas e farmacêuticas que possibilitam enfrentar plateias, ser
editor de uma revista, escrever livros, construir e manter uma família, vá lá,
quase saudável. Mas não por causa dele, é bom que se diga.
Para mim, o livro foi um
feliz achado e percorrer suas quase 500 páginas foi um prazeroso exercício de
aprendizado.