domingo, 8 de fevereiro de 2015

Meandros psicológicos dos artrópodes



Invertebrados podem sentir emoções complexas, como nervosismo, e respondem bem a Rivotril ou Lexotan.
De acordo com pesquisadores da Universidade Livre de Bruxelas - ULB (Bélgica) baratas não são todas iguais. Elas também apresentam uma grande variação de personalidades: de tímida a forte.

Fontes: Reinaldo José Lopes Folha Saúde + Ciência (04/01/2015) e O Globo (05/02/2015)

Duvido que você saiba que tinha mais em comum com o Procambarus clarkii e com a Periplaneta americana do que imaginava sua vã besteira a respeito de si mesmo. Está boiando sobre quem seriam estas criaturas, não é? Nem deu tempo pedir ajuda ao Google. Então, antes que lhe funda a cuca, aqui vai nomes mais palatáveis destes seus aparentados, pelo menos nos sofrimentos psicológicos. Lagostim vermelho e a onipresente barata comum.
Pois eis que estudos recentes atestam que o lagostim tem distúrbios psicológicos, talvez porque tão sem cerimônia é colocado numa panela de água fervente para se tornar aperitivo no seu prato. E a barata que você chinela sem piedade apresenta diferentes personalidades. Não múltiplas personalidades, como sugere o texto mal escrito, mas que cada qual tem lá a sua personalidade.
Seu lagostim, entre uma ecdise e outra, é um ansioso típico. Só me pergunto como é que um cientista tem uma ideia dessas. Talvez um acidente com as pinças do dito crustáceo. Ele, naturalmente, pressentindo a panela sapecou uma trincada no dedão do assassino em potencial e este concluiu que o pobre era temperamental. Imagine.
Levaram o infeliz artrópode para um laboratório. Meteram-no num labirinto cruciforme para ver o que faria. Explorá-lo, por evidente demorar-se na parte escura que é onde gosta de ficar. Choques na água faziam-no se desnortear e ficar ainda mais vermelho que a capa do coisa ruim. Eletrificado, fazia coisas contrárias à sua natureza invertebrada. Um pouco de Valium, Lexotam e Rivotril dava um barato e o lagostim ficava tranquilão. No divã, com dr. Sarnambi, nada disse só que a experiência em que foi cobaia teria sido feita por alienígenas. Dr. Sarnambi não teve dúvida, encaminhou-o para mais choques, mas estes para recuperar o são juízo. Esperava algum dramalhão familiar: um Édipo mal resolvido, um trauma, mas um labirinto eletrificado era um pouco demais.
Dona baratinha que não tem dinheiro na caixinha, especialmente depois da inflação galopante da Dilma, é mais sofisticada que seu lagostim cuja vida, pelo visto, se resume a ataques de ansiedade. Em outro laboratório, outra equipe reuniu um grupo delas e acendendo luzes e apagando – as baratas gostam de lugares escuros também – percebeu que umas corriam atarantadas ao acender a luz e outras sequer se mexiam de seu lugar com o claro-escuro. Ora, concluiria eu que a barata era lerda. Que teria tomado um Lexotan com o lagostim. A conclusão impressionante a que chegaram, no entanto, é que esta era, por bem dizer, mais extrovertida. Veja-se que disparate!
        Baratas extrovertidas são a prova da evolução darwiniana, deliraram os pesquisadores. Lagostim sofrer de ansiedade deve ser involução, então. De repente, os humanos da classe média brasileira, fustigados por falta d’água e aumento dos gastos na feira, caminham para se tornarem lagostins estressados. Do jeito que a coisa vai, é panela na certa. Os políticos já são baratas há alguns milhares de anos, certamente na extroversão, mas também em algo ainda mais deletério, a sem vergonhice.

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